E segue o baile no galpão. De Marília, recebo:
Você por acaso tem filhos e netos? Seus pais ainda são vivos? Você é saudável, cuida da sua saúde? Pois bem, reze, mas reze bastante para que nenhum mal acometa seus entes queridos. Que você, nem sua esposa (se é que tem), nem seus pais jamais sofram um AVC e fiquem cadeirantes, que nenhum filho sofra um TCE e que nenhum neto seja sindrômico, porque aí sim, meu querido, você ia pagar pela CALÚNIA que publicou acima. Ia "sentir na pele" a satisfação em ver alguém tão importante para você ser (re)habilitado tão rapidamente e de maneira tão prazerosa! Quanta falta de informação para um profissional que julga-se jornalista. Informe-se antes de manifestar-se!
Para começar, Marília, jamais rezo por mim nem pelos meus. Prefiro confiar na medicina. Quem reza, espera milagres de Deus. Jamais deveria buscar recursos médicos, muito menos hospital. Espero não padecer desses males que você parece desejar para mim. Se um dia padecer, posso assegurar-lhe que jamais pagarei um vigarista para consolar-me de minha desgraça.
Chamaria, isto sim, um fisioterapeuta. A propósito, o mundo está cheio de paraplégicos que enfrentam a vida sem psicólogo algum. Que pode dizer um psicólogo a um paraplégico? Que a vida é bela? Que ele precisa encontrar um novo sentido para a vida? Palavras de consolo não levam a nada. Ele continua paraplégico.
Escreve Alberto Pereira da Silva:
Caro Cristaldo:
Particularmente, acho válido publicar sua opinião; digo opinião, pois acredito que conheça superficialmente diversos assuntos, e com certeza profudamente muitos deles. Seu artigo exerce, ao meu ver, dois importantes papéis: o primeiro, é de lançar dúvidas ao potencial terapêutico e à eficácia da equoterapia. Isso é ótimo, já que, como você aponta muito bem, pessoas estão se aproveitando do sofrimento de outras para ganhar dinheiro. O segundo, óbvio, é o de iniciar uma discussão justamente nesse aspecto, pois o processo não é simples, nem a equoterapia é um mundo cor-de-rosa, que faz milagres.
Enfim, não pretendo colocar em dúvida sua profundidade no assunto, mas parabéns por levantar a questão e não aceitar tudo o que ouve. A terapia bem conduzida, e com critérios, que talvez incitem um artigo novo, é uma realidade, com estudos científicos em vários países (principalmente Alemanha e Estados Unidos), de maneira sóbria e detalhada.
A dúvida pode impulsionar o conhecimento. E viva a liberdade de expressão!
Se não fosse válido publicar opinião, Alberto, viveríamos em uma ditadura. Pelo jeito, é isto que a maior parte de meus contestadores desejariam. Quanto a estudos científicos em vários países, isto não atesta nada. A psicanálise está difundida em todo Ocidente e é comprovadamente uma vigarice. Tanto que até hoje não foi regulamentada. Qualquer um, independentemente de qualquer formação, pode exercê-la.
Mensagem do Luís V. Vallejo:
Janer, já reparou como as refutações são todas baseadas no argumento falacioso "ad hominem"? Ou seja, ao invés de atacarem as alegações e provar que estão incorretas, atacam a PESSOA que fez as alegações. Chamar o autor de desinformado, burro, incompetente, não afeta sua argumentação. E chamar Hipócrates para atestar algo do século XXI, além de piada é uma infantilidade. Não estou atacando a pessoa que fez isso, pois posso escrever três ou quatro páginas com as bobagens científicas que Hipócrates produziu, que na sua época eram descobertas mas foram todas comprovadas como falsas pela ciência. A teoria dos quatro humores é uma pérola de tolices.
De fato, Vallejo, o pessoal está irritado e se dedica a me jogar pedras. O que denota insegurança. Como a profissão de equoterapeuta não está regulamentada, qualquer um pode exercê-la. Não há cachorro que não defenda seu osso.
De Maria D. de Araujo Ribeiro, recebo:
Prezado Janer,apesar da tua total irresponsabilidade e falta de respeito com minha classe profissional (sou psicóloga), me darei ao trabalho de responder, sem precisar te desrespeitar nem acusar "os jornalistas" ou "profissionais da mídia".
Primeiro, em relação à equoterapia, vou te poupar de ler a fundamentação teórica e o histórico desta prática, mas te convidar a visitar um centro de equoterapia e conhecer o trabalho (para além de teus preconceitos). Duvido que não mudes de opinião. Outra coisa, "os psicólogos" não afirmam que qualquer pessoa que se mude de cidade ou tenha problemas na escola precisam de terapia. A terapia é indicada para quem está em sofrimento e busca ou precisa de ajuda. Que ótimo que te adaptaste à cidade grande enfrentando tuas dificuldades sozinho! Assim deve ser para a maioria das pessoas, mas infelizmente algumas não têm estrutura emocional ou psíquica para enfrentar certas dificuldades sem ajuda profissional. E eu, que sou psicóloga, também sou contra as classificações diagnósticas tipo "iDisordes", e por isso mesmo não admito que sejam comparadas à equoterapia.
Tens o direito de expressar tua opinião, seja ela preconceituosa ou não, mas como profissional da informação, deverias fazê-lo de forma mais responsável, buscando informação sobre aquilo que criticas. Senão, corres o risco de ser considerado um jornalista medíocre.
Não pretendi faltar ao respeito com nenhuma classe profissional. Mas sempre desconfiei destes senhores que cobram para dar orientação existencial. Certa vez, convidei minha filha para uma primeira viagem à Europa. Ela, que fazia análise com uma psicóloga, foi aconselhada a não ir. Que ficaria traumatizada, que não seria bom para sua saúde psíquica. Claro que ela mandou a fulana às favas e viajou comigo. Onde se viu alguém desrecomendar uma viagem à Europa?
Você diz que "os psicólogos" não afirmam que qualquer pessoa que se mude de cidade ou tenha problemas na escola precisam de terapia. A terapia é indicada para quem está em sofrimento e busca ou precisa de ajuda. Ora, se tais serviços são oferecidos,é porque buscam clientela. Ainda este ano, “Equilíbrio”, o suplemento de auto-ajuda da Folha de São Paulo, anunciava mais uma vigarice que, em falta de melhor definição, chamei na ocasião de gigolô de dekassegui.
O caminho de volta pode gerar depressão – dizia a reportagem –. É a "síndrome do regresso", termo cunhado pelo neuropsiquiatra Décio Nakagawa para designar certo "jet lag espiritual" que aflige ex-imigrantes. Morto em 2011, Nakagawa estudava a frustração de brasileiros que voltavam ao país após uma temporada de trabalho em fábricas japonesas.
"A adaptação em um país diferente acontece em seis meses, já a readaptação ao país de origem demora dois anos", diz a psicóloga Kyoko Nakagawa, viúva do psiquiatra e coordenadora do projeto Kaeru, de reintegração de crianças que voltam do Japão. É claro que tais profissionais não vivem como os lírios do campo. Buscam clientela criando na mídia necessidades artificiais.
A profissão de psicólogo, no Brasil, tem origens suspeitas. No final dos 70, na Folha da Manhã, Porto Alegre, escrevi que ser psicanalista dispensava curso universitário. Mais ainda, dispensava qualquer curso. Qualquer analfabeto, se quisesse, podia colocar placa de psicanalista em uma sala e sair clinicando. Na época, em São Paulo, após o curso de cinco anos, ao preço de dez ou quinze mil cruzeiros por mês, pessoas sem o pré-requisito do curso de medicina podiam exercer a profissão de psicanalista. Enquanto 38 alunos faziam o curso, outros cem esperavam na fila.
A guilda reagiu com fúria. Um psiquiatra, lembro que chamado Ronaldo Moreira Brum, me acusou nos jornais de nada entender de medicina – como se psicanálise fosse medicina. Ok! Doutor. De medicina nada entendo. Mas entendo de Direito. E psicanalista não é profissão regulamentada. Portanto, qualquer um pode exercê-la. A propósito, tem muito engenheiro e economista desempregado no Brasil, que puseram plaquinha de psicanalista em seus escritórios para ganhar seu pão.
Mas falava de psicólogos. Uma psicóloga e jornalista, Ivete Brandalise, resolveu enfiar sua colher na sopa. Escreveu que devia existir uma lei que regulamentasse a profissão de psicanalista. Que ela, psicóloga, tinha uma lei que regulamentava a sua. Ora, a dita lei era um trenzinho da alegria, no qual embarcaram todos os licenciados em Filosofia. De filósofos, vaga e suspeita ocupação, viraram psicólogos. Deve ter sido esta origem espúria que inspirou os tais de filósofos clínicos, a última vigarice do ramo, surgida pelo que sei em Porto Alegre.
Nasci em meio a cavalos e desde criança eu montava. Não vou atribuir a isto minha saúde psicológica. Ou teria de dizer, como Monsieur Jourdain: "Par ma foi! Il y a plus de quarante ans que je dis de la prose sans que j'en susse rien, et je vous suis le plus obligé du monde de m'avoir appris cela". Há uma psicologização de quase todas as áreas da atividade humana. Já há terapeutas para o luto, para a mudança de cidades. Mais um pouco, e teremos terapeutas que prepararão uma adolescente para a primeira menstruação, ou uma noiva para a lua de mel. Se é que já não existem.
Quando minha mulher morreu, coincidiu que na semana seguinte eu tinha consulta marcada com uma nefrologista. Ainda abalado, falei do acontecido e, inevitavelmente, chorei. “Quem sabe tu procuras um terapeuta?” – me sugeriu a médica. Quase perdeu o cliente. Eu passara minha vida toda denunciando essa malta de exploradores da fé dos incultos que, sem terem bem gerido suas vidas, dão-se ainda ao desplante de cobrar caro para gerir vidas alheias. No meu luto ninguém mexe.
Devo confessar que não tenho nenhuma simpatia pela profissão. E tenho lástima dos pobres de espírito que delegam a terceiros a solução de seus próprios problemas.
o6 de julho de 2012
janer cristaldo
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