EUFORIA X REALIDADE
De um lado, a euforia
da sexta economia mundial
( EX-6ª economia do mundo),
do trânsito fácil -
tem sido fácil mesmo? - pela crise global, da ascensão de milhões da pobreza à
classe média.
E do outro, a
realidade escamoteada do discurso ufanista.
Vale a pena comentar essa realidade.
Existem indicadores positivos na economia - juros em baixa, crédito abundante, demanda ativa... -, mas a avaliação imune à euforia oficialista sugere apreensão. A infraestrutura precária freia o desenvolvimento - o nosso é o segundo pior da América Latina em 2012 (Cepal) -, o investimento em produtividade não atende a esse problema da competição global, o crescimento do PIB será inferior a 2% em 2012 (abaixo da média sul-americana) e a meta fiscal não será cumprida.
Vale a pena comentar essa realidade.
Existem indicadores positivos na economia - juros em baixa, crédito abundante, demanda ativa... -, mas a avaliação imune à euforia oficialista sugere apreensão. A infraestrutura precária freia o desenvolvimento - o nosso é o segundo pior da América Latina em 2012 (Cepal) -, o investimento em produtividade não atende a esse problema da competição global, o crescimento do PIB será inferior a 2% em 2012 (abaixo da média sul-americana) e a meta fiscal não será cumprida.
Projetos esfuziantes
capengam ou não decolam - transposição do São Francisco, Comperj,
refinarias do
Maranhão
e do
Ceará,
trem-bala,
Transnordestina... -,
a inflação volta a preocupar, a balança comercial perde fôlego e recaímos no
protecionismo, com seus percalços na OMC.
É constrangedora a simultaneidade da sexta economia global com a quarta pior desigualdade na América Latina (ONU, agosto/2012).
É constrangedora a simultaneidade da sexta economia global com a quarta pior desigualdade na América Latina (ONU, agosto/2012).
A vida de parte do
povo melhorou com o controle da inflação, o assistencialismo que alivia sem
resolver, quando não estimula a conformidade na pobreza, tem reduzido a miséria
e a desigualdade decresceu, mas ainda é uma aberração, transparente nas favelas
ao lado de bairros de bom padrão, no povão empilhado em péssimo transporte
coletivo, enquanto milhares de carros congestionam o trânsito com uma só
pessoa!
A ascensão à classe
média aferida pela renda é questionável:
renda mensal de R$
291 per capita significa mesmo classe média, ainda que baixa? Além de
questionável, é viciada pelo poder aquisitivo fictício, pelo consumismo na
dívida, feito atestado de classe na lógica populista e do mercado, pondo em
dúvida a virtude do crédito fácil, já objeto de alerta do FMI.
Carro,
moto,
iPhone
e tablet são
prioridades da nova classe média.
A precariedade do nosso ensino fundamental e médio foi evidenciada em pesquisa do Ideb, em agosto - as escolas públicas em pior situação, mas as particulares tampouco satisfazem.
A precariedade do nosso ensino fundamental e médio foi evidenciada em pesquisa do Ideb, em agosto - as escolas públicas em pior situação, mas as particulares tampouco satisfazem.
O ensino técnico não
responde à necessidade do País e o fundamental não atende a seu papel de
alicerce da cidadania da base da pirâmide social, subempregada ou na
informalidade, legal e ilegal.
A
propósito:
ser "normalista" e
professora do ensino fundamental era meta de moças da classe média até meado do
século passado.
Não é mais...
O número das instituições de ensino superior explodiu nas últimas décadas, muitas delas ficções sem viabilidade de funcionamento razoável, de negócio as privadas e fantasia política as públicas. Nossas universidades estão mal hierarquizadas no ranking global e mesmo as de bom ensino profissional deixam a desejar na moldura cultural.
O número das instituições de ensino superior explodiu nas últimas décadas, muitas delas ficções sem viabilidade de funcionamento razoável, de negócio as privadas e fantasia política as públicas. Nossas universidades estão mal hierarquizadas no ranking global e mesmo as de bom ensino profissional deixam a desejar na moldura cultural.
E os artifícios que
pretendem a igualdade "na marra" ameaçam agravar a situação (a proteção de
todos, obrigação do Estado, exige bom ensino público fundamental e médio, sem
viciar o jogo do mérito).
Na saúde e temas correlatos - saneamento, água tratada - o quadro é desolador. Passamos (ideia em tese correta) dos institutos corporativos, que atendiam satisfatoriamente seus afiliados (é bem verdade que parte pequena do povo), para o sistema único (SUS), que atende insatisfatoriamente, se tanto, todo o povo sem plano de saúde, com consequências trágicas no cotidiano da mídia.
Na saúde e temas correlatos - saneamento, água tratada - o quadro é desolador. Passamos (ideia em tese correta) dos institutos corporativos, que atendiam satisfatoriamente seus afiliados (é bem verdade que parte pequena do povo), para o sistema único (SUS), que atende insatisfatoriamente, se tanto, todo o povo sem plano de saúde, com consequências trágicas no cotidiano da mídia.
E os planos de saúde
também não vêm atendendo a contento.
A previdência (INSS) corteja o desastre. Estruturada na transferência geracional e em legislação permissiva - em realce a aposentadoria precoce, na contramão do aumento da longevidade e dos países ricos, que, diferentemente do Brasil, não podem sustentá-la... -, seu déficit já pesa na equação fiscal. O problema é ainda mais complexo no setor público.
Nos últimos 80 anos subimos de 30 milhões para 193 milhões de brasileiros, sem que a cultura tenha acompanhado o aumento. Existem destaques, mas em menor número relativamente à população.
A previdência (INSS) corteja o desastre. Estruturada na transferência geracional e em legislação permissiva - em realce a aposentadoria precoce, na contramão do aumento da longevidade e dos países ricos, que, diferentemente do Brasil, não podem sustentá-la... -, seu déficit já pesa na equação fiscal. O problema é ainda mais complexo no setor público.
Nos últimos 80 anos subimos de 30 milhões para 193 milhões de brasileiros, sem que a cultura tenha acompanhado o aumento. Existem destaques, mas em menor número relativamente à população.
Na literatura, quem
substitui hoje (os nomes citados são exemplos, não esgotam o passado) Machado de
Assis,
Monteiro
Lobato,
Érico
Veríssimo,
Guimarães
Rosa,
Jorge
Amado,
José Lins do
Rego,
Graciliano
Ramos...?
Na
sociologia,
Euclides da
Cunha,
Oliveira
Viana,
Gilberto
Freire...?
Na música temos bons
intérpretes, mas faltam-nos (faltam no mundo) criadores:
quem substitui hoje
Carlos Gomes,
Alberto
Nepomuceno,
Henrique
Oswald,
Villa
Lobos
e, mais perto do
povo, Ernesto Nazareth,
Ary Barroso,
Pixinguinha...?
No canto popular,
exotismo na coreografia e aparência pessoal pretendem substituir a arte -
Francisco Alves, Elizeth Cardoso e, há menos tempo, Chico Buarque não precisavam
desses recursos.
Nas artes plásticas,
quem substitui Portinari,
Tarsila do
Amaral,
Guignard,
Pancetti...?
O potencial para a ascensão cultural do povo é pouco ou não usado na TV, o meio de entretenimento e informação a que hoje mais se recorre. São comuns os shows,
O potencial para a ascensão cultural do povo é pouco ou não usado na TV, o meio de entretenimento e informação a que hoje mais se recorre. São comuns os shows,
filmes,
novelas,
programas de
auditório
e noticiosos que mais
sensacionalizam do que noticiam, de discutível padrão estético e mental,
entremeados por propaganda de nível similar.
A lógica é a da
audiência não exigente de qualidade.
Finalmente, o desrespeito epidêmico à lei vem tomando proporções de tragédia fora do controle, do atravessar a rua fora da faixa de pedestre à sonegação de impostos, à corrupção, violência e criminalidade generalizadas.
Finalmente, o desrespeito epidêmico à lei vem tomando proporções de tragédia fora do controle, do atravessar a rua fora da faixa de pedestre à sonegação de impostos, à corrupção, violência e criminalidade generalizadas.
Agravam-no o
despreparo policial, nossa legislação complacente (na qual se insere o "de
menor"), a indulgência lúdica do brasileiro, com sua propensão antipolícia (nos
confrontos as vítimas de balas perdidas são sistematicamente atribuídas aos
policiais...) e um perigo hoje em ascensão:
o estímulo ao
consumismo paranoico, no quadro social exacerbado pelas manifestações de
desigualdade excessiva e sem que a renda legal da massa consumista lhe
corresponda.
Mario Cesar Flores O
Estado de S. Paulo
30 de outubro de 2012
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