Romney se saiu bem
Questão: o quanto isso pode influir na eleição? Quero dizer: no favoritismo de Obama. Historicamente, debates têm uma influência limitada nos resultados das urnas. Quase todos os eleitores já sabem em quem vão votar. Fora isso, haverá ainda outros dois. As pesquisas pós-Denver darão uma idéia melhor do impacto do embate.
Obama parecia cansado. Os cabelos grisalhos são a testemunha visível de quanto lhe pesaram os quatro anos na Casa Branca. Romney, com seu ar de canastrão de novela, lembrou Ronald Reagan, que governou os Estados Unidos nos anos 1980, no desembaraço e na capacidade de falar platitudes como se fosse Platão.
Nos debates de quatro anos atrás, Obama era outro. Simbolizava a esperança de uma quase revolução nos Estados Unidos, depois dos trágicos dois mandatos de George W Bush.
As altas expectativas em torno dele o ajudaram então. Agora, pesam contra ele. Obama foi, numa palavra, uma enorme decepção.
Na política interna, ou por impotência diante de um Congresso hostil ou por inépcia mesmo, não fez nada para mitigar a monstruosa concentração de renda nos Estados Unidos – da qual seu adversário Romney é um exemplo portentoso.
Na política externa, jogou tantas bombas nos países árabes quanto Bush. É patético que sua maior realização, aspas, tenha sido a execução a sangue frio de um Osaba bin Laden cego de um olho e desarmado por um grupo de atiradores de elite altamente armados.
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ESTRATÉGIA ERRADA
O drama americano está acima da capacidade de resolução de Obama ou Romney. Os Estados Unidos acabaram por se tornar uma superpotência que gasta muito mais do que pode para manter bases militares em todo o mundo.
Sua estratégia de hegemonia – como se vê no Oriente Médio – é à base de guerras, e isso fez os americanos serem quase que universalmente detestados e combatidos. O mito do “campeão do mundo livre” se desfez há muito tempo.
Os Estados Unidos vivem um declínio que se explica, em parte, num sistema político em que dois partidos tão diferentes, aspas, como Coca e Pepsi se revezam no poder sem que nada, no fundo, mude. Governos de ricos, por ricos e para ricos vão se sucedendo uns aos outros.
Em seu excelente livro “O Manifesto de Vermonte”, o economista americano Thomas Naylor, professor emérito da prestigiada Universidade Duke, definiu com precisão o quadro dos Estados Unidos.
Palavras de Naylor: “A única forma que a América tem de salvar a si mesma é se tornando menor, menos centralizada, menos poderosa, menos intrusiva, menos materialista, menos militarizada, menos violenta, mais democrática, e mais atenta aos interesses dos cidadãos e das pequenas comunidades.
Grandes corporações, grandes partidos políticos, grandes sistemas de segurança e grandes estruturas militares, tudo isso é parte do problema. O Império está nu.”
Obama e Romney, parafraseando Naylor, são também eles parte do problema — não a solução.
05 de outubro de 2012
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)
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