Quaisquer que sejam os desdobramentos dessa mudança de parâmetro cultural, o fato é que todos os cidadãos devem ter, sim, interesse quando a vida privada de um homem ou de uma mulher envolve condutas que importem delitos em que o bem tutelado diz respeito à administração pública.
Amante de 57 anos?
Sempre me causaram certa aversão aqueles rastreamentos da imprensa britânica ou norte-americana sobre puladas de cerca ou namoros clandestinos de membros da família real, candidatos à Presidência ou dos próprios presidentes. A coisa, porém, muda de figura quando entre em cena o uso de dinheiro público.
Assim, acompanhando os efeitos da operação Porto Seguro, fiquei – no mínimo, diria – chocada com a declaração de Lula sobre seu relacionamento com uma antiga secretária, servidora pública, lotada na Presidência da República e hoje indiciada por vários crimes.
“Se eu fosse de direita – disse o ex-presidente – ela teria 18 anos; como sou de esquerda, a minha amante tem de ter 57…”.
Suprema desfaçatez de quem se dizia um defensor da inclusão das pessoas: então, as “velhas” não podem ser amantes dos poderosos?… Em qual mundo estamos, meu Deus?!
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ALGUNS “BRANCOS”
Aí, entre mensalões e mensalinhos – quem hoje não tem o seu neste Brasil? -, me pergunto sobre alguns “brancos” que não passaram pelo crivo agudo do ministro Joaquim Barbosa. Eis uma questão básica e conexa ainda não investigada: como as empresas de Marcos Valério suportaram o baque da perda da conta de publicidade do governo mineiro, após a derrota de Eduardo Azeredo, em 1998?
Teria aquele vendedor de facilidades governamentais ficado na pior? Não o socorreu (ou sustentou) o governo federal? Não o ajudaram outros governos estaduais? Todos os órgãos públicos de Minas Gerais lhe fecharam as portas? Teria voltado, depois, a contar com as benesses do Executivo estadual?
E, cá entre nós: muita coisa teria de ser esclarecida, no âmbito da oposição, sobre os recursos do Visanet, que, em 2004, não iam para os bolsos de Delúbio Soares.
E, já que a tal vida privada tem vindo à baila, é, no mínimo, curioso que um desses desembolsos tenha pretensamente desaguado na compra de um apartamento para a namorada de um figurão político, avalizado por outro, ambos, por sinal, responsáveis, à época, por polpudas contas de Marcos Valério junto de órgãos estaduais. Quantos mistérios… Quanto cinismo!
E, já que esse é o assunto da temporada, prestaram atenção em como, desde que o caso Rosemary apareceu, os jornalistas se dedicam a fuçar os adultérios dos poderosos? No último fim de semana, Elio Gaspari chega a arrolar quais os poucos presidentes que teriam sido monogâmicos no Brasil e nos Estados Unidos, de 1930 para cá.
Um coisa é certa. Nos velhos tempos, o máximo que as vedetes do cassino da Urca conseguiam era passar temporadas em Caxambu, São Lourenço ou Araxá!
13 de dezembro de 2012
Sandra Starling (O Tempo)
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