"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

HIPOCRISIAS E CINISMOS POR DEBAIXO DE PANOS E LENÇÓIS

 

Em princípio, não tenho nada a ver com a vida privada de quem quer que seja. Infelizmente, nesses tempos de redes sociais, as pessoas estão mais preocupadas em se expor do que em preservar sua própria privacidade.

Quaisquer que sejam os desdobramentos dessa mudança de parâmetro cultural, o fato é que todos os cidadãos devem ter, sim, interesse quando a vida privada de um homem ou de uma mulher envolve condutas que importem delitos em que o bem tutelado diz respeito à administração pública.


Amante de 57 anos?

Sempre me causaram certa aversão aqueles rastreamentos da imprensa britânica ou norte-americana sobre puladas de cerca ou namoros clandestinos de membros da família real, candidatos à Presidência ou dos próprios presidentes. A coisa, porém, muda de figura quando entre em cena o uso de dinheiro público.

Assim, acompanhando os efeitos da operação Porto Seguro, fiquei – no mínimo, diria – chocada com a declaração de Lula sobre seu relacionamento com uma antiga secretária, servidora pública, lotada na Presidência da República e hoje indiciada por vários crimes.
“Se eu fosse de direita – disse o ex-presidente – ela teria 18 anos; como sou de esquerda, a minha amante tem de ter 57…”.

Suprema desfaçatez de quem se dizia um defensor da inclusão das pessoas: então, as “velhas” não podem ser amantes dos poderosos?… Em qual mundo estamos, meu Deus?!

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ALGUNS “BRANCOS”

Aí, entre mensalões e mensalinhos – quem hoje não tem o seu neste Brasil? -, me pergunto sobre alguns “brancos” que não passaram pelo crivo agudo do ministro Joaquim Barbosa. Eis uma questão básica e conexa ainda não investigada: como as empresas de Marcos Valério suportaram o baque da perda da conta de publicidade do governo mineiro, após a derrota de Eduardo Azeredo, em 1998?

Teria aquele vendedor de facilidades governamentais ficado na pior? Não o socorreu (ou sustentou) o governo federal? Não o ajudaram outros governos estaduais? Todos os órgãos públicos de Minas Gerais lhe fecharam as portas? Teria voltado, depois, a contar com as benesses do Executivo estadual?

E, cá entre nós: muita coisa teria de ser esclarecida, no âmbito da oposição, sobre os recursos do Visanet, que, em 2004, não iam para os bolsos de Delúbio Soares.
E, já que a tal vida privada tem vindo à baila, é, no mínimo, curioso que um desses desembolsos tenha pretensamente desaguado na compra de um apartamento para a namorada de um figurão político, avalizado por outro, ambos, por sinal, responsáveis, à época, por polpudas contas de Marcos Valério junto de órgãos estaduais. Quantos mistérios… Quanto cinismo!

E, já que esse é o assunto da temporada, prestaram atenção em como, desde que o caso Rosemary apareceu, os jornalistas se dedicam a fuçar os adultérios dos poderosos? No último fim de semana, Elio Gaspari chega a arrolar quais os poucos presidentes que teriam sido monogâmicos no Brasil e nos Estados Unidos, de 1930 para cá.

Um coisa é certa. Nos velhos tempos, o máximo que as vedetes do cassino da Urca conseguiam era passar temporadas em Caxambu, São Lourenço ou Araxá!

13 de dezembro de 2012
Sandra Starling (O Tempo)

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