As palavras que salvam e o silêncio que condena
Colheu-se uma única reação do Lula diante do depoimento de Marcos Valério à Procuradoria Geral da República, divulgado no jornal Estado de S. Paulo: “É mentira”.
Será que basta? Sem provas materiais ou testemunhais, o operador do mensalão referiu-se à suposição de o ex-presidente ter sofrido chantagem de um empresário de Santo André, por conta do assassinato do prefeito Celso Daniel; denunciou que o primeiro companheiro teve despesas pessoais pagas com dinheiro de sua quadrilha; aludiu ao aval do Lula à compra de votos de deputados pelo PT, informando haver passado três minutos no gabinete presidencial; ficou na afirmação de haver o ex-presidente estimulado a busca de recursos junto à Portugal-Telecom; acentuou que para José Dirceu, Delúbio Soares falava e agia em nome dele e do chefe; finalmente, acusou Paulo Okamoto de ameaçar mandar matá-lo.
Tudo, até agora, denúncias vazias, formuladas por um bandido comprovadamente mergulhado num dos maiores escândalos da República.
O ônus da prova cabe a quem alega e Marcos Valério nada provou. Mas tamanha repercussão tiveram suas invectivas que vale lembrar a lição de mestre José Maria Alkmin: as versões costumam superar os fatos.
Não há porque o Lula deixar que essas acusações se espalhem. Deveria destruí-las no nascedouro, se fantasiosas. Uma por uma, em entrevista ou por escrito, o ex-presidente precisaria desmontá-las. Dizendo apenas que são mentirosas, alimentará especulações. Faltam de sua parte as palavras que salvam, diante do silêncio que condena.
É claro que as oposições deitam e rolam com mais esse capítulo da novela de horror em que se transformou o mensalão. Em Paris, a presidente Dilma mostrou-se indignada com as acusações ao antecessor, enquanto no Brasil o PT apela para a aleivosia de que tudo não passa de conspiração da imprensa posta a serviço do neoliberalismo. Acostumam-se, os companheiros, a condenar o termômetro por estar registrando a febre.
Episódios como esse tem acontecido há tempos. Getúlio Vargas viu-se sem saída quando, para obstar a marcha que empreendia no rumo de nossa libertação econômica, atribuíram-lhe culpa pelo atentado a Carlos Lacerda, urdido por um auxiliar primário e desqualificado.
Queriam, e conseguiram, afastá-lo do governo. Da vida, para entrar na História. As décadas passaram e o conflito parece o mesmo, com suas peculiaridades: atingindo o Lula, pretendem manietar Dilma Rousseff, pelo sacrilégio dela sustentar que as dificuldades econômicas devem ser combatidas com crescimento, não com recessão e supressão de direitos sociais.
O importante é o companheiro e a sucessora demonstrarem que, não obstante cercados por montes de Gregórios Fortunatos, vêm sendo vítimas de investidas cujo objetivo repousa na mesma estratégia de sempre, das elites retrógradas. Isso, se o Lula puder desfazer a acusação de que um mar de lama corria sob o palácio do Planalto e ele não sabia de nada…
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CADEIA, JÁ
Caso engrosse ainda mais o conflito entre Judiciário e Legislativo, o Supremo Tribunal Federal dispõe de uma saída cirúrgica: decidir, hoje ou amanhã, no máximo, que os condenados no processo do mensalão devem ir direto para a cadeia, já no próximo fim de semana. Inclusive, ou principalmente, os que são deputados.
Postos atrás das grades, como poderiam exercer seus mandatos? Ficaria ridículo para o presidente da Câmara dar-lhes a palavra e verificar como se pronunciariam e votariam, do fundo de suas celas.
O Procurador Geral da República é favorável à prisão imediata.
13 de dezembro de 2012
Carlos Chagas
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