Reservo a última coluna antes de rápidas férias para tratar da mania de certos governantes e seus partidos de se sentirem donos do governo e do próprio país.
Quando Marisa Letícia mandou a cadelinha passear em carro oficial, desenhou uma imensa estrela vermelha no Alvorada e pôs os amigos dos filhos para fazer turismo em avião e prédio públicos, estava dizendo que se sentia "em casa" e sinalizando para os vários escalões do PT que sim, nós podemos. Quer dizer: eles podem.
Foi assim, a partir de miudezas cheias de significados, que os governos do partido foram se imiscuindo nos gabinetes, vulgarizando decisões, aparelhando estatais, relativizando o conceito de ética e corrompendo seus quadros.
A chegada ao poder incluiu milhões de pessoas e rendeu recordes de popularidade e aplausos no mundo inteiro para Lula, mas inflou o seu ego e foi letal para o partido.
Desfez-se a aura, foram-se as ilusões, exauriram-se os iludidos. Os espertos correram a tirar suas casquinhas.
As histórias memoráveis, a guerra contra a corrupção, a paixão da militância, as lágrimas torrenciais na derrota de Lula para Collor, em 1989, tudo foi por água abaixo e o partido patina no mesmo lodo dos demais.
Poucas vezes, como no escândalo Rose, adversários e aliados de diferentes tendências condenaram tanto a confusão entre público e privado, citada em 9 entre 10 artigos de opinião. Ninguém tem nada a ver com a vida privada de ninguém, desde que não invada o bem público, fira princípios elementares de gestão e confira poderes extraterrestres a meros(as) terráqueos(as).
O que começa com cadelinhas para lá e para cá usando carro, motorista e gasolina públicos é o que acaba em passaportes especiais, nomeações esdrúxulas, apartamentos fantásticos e... mensalões.
Não foi para isso, convenhamos, que o PT foi criado e subiu a rampa do Planalto.
11 de dezembro de 2012
Eliane Catanhêde é colunista da Folha de S.Paulo.
Eliane Catanhêde é colunista da Folha de S.Paulo.
(Originalmente publicado em 6 de dezembro de 2012.)
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