O que é melhor ou vale mais a pena: ser Apedeuta (aquele que nunca sabe de nada do que acontece a sua volta) ou ser Apedelta (neologismo que designa aquele que fatura e lucra alto, enquanto jura que nunca sabe de nada)?
Se tal pergunta for feita em relação a Luiz Inácio Lula da Silva tanto faz ser Apedeuta, Apedelta ou as duas coisas ao mesmo tempo. Mito em desconstrução diante de tantas denúncias escabrosas de corrupção em volta dele, Lula talvez seja nosso maior craque na arte da mitomania (um criador e propagador de mentiras que acredita nelas próprias e as transforma em verdades subjetivas, usando a marketagem política pela via “midiótica”.
Fugindo do contato direto com a imprensa nacional e internacional, para nada ter de falar sobre assuntos que lhe fujam ao controle (como mensalão, Rosegate, Bacalhaugate e outros mais), Lula voltou a praticar seu ofício visivelmente mais lucrativo, desde que perdeu a titularidade da caneta que assina o Diário Oficial na Presidência da República.
Quinta-feira passada, Lula deu uma palestra em evento fechado da cervejaria AmBev no luxuoso resort Costa do Sauípe, no litoral da Bahia. A transnacional alegou que o contratou como animador de uma reunião de executivos brasileiros e de outros países da América Latina. A participação não foi divulgada a pedido da empresa, que desejaria "fazer uma surpresa" a seus convidados.
Quanto ele ganhou pela palestra? O valor é sempre um segredinho bem guardado. Mas a estimativa é que Lula tem cobrado valores em torno de R$ 200 mil por cada palestra remunerada, com tempo médio de 40 minutos. Aposta-se que Lula já tenha acumulado mais de R$ 1 milhão com cachês de palestras em que mistura autoelogio e piadinhas sobre a empresa que o contrata.
A repercussão no exterior do escândalo que envolve sua melhor amiga e apadrinhada, Rosemary Nóvoa Noronha, provocou o cancelamento de algumas palestras que Lula faria fora do Brasil. Mas ele não foi totalmente prejudicado. Tem previsão de dar uma palestra aos executivos da LG, na Coréia, na qual embolsará US$ 500 mil. Superbacana! Principalmente para quem “nunca sabe de nada”...
Enquanto tenta preservar a imagem em destruição, Lula já começou a exercer seu papel de Prefeito virtual de São Paulo, dando ordens para a turma do Fernando Haddad. É um consolo para quem já não consegue fazer a mesma coisa, tão facilmente, com a Presidenta da República. Prova disto é que Dilma até já avisou que é candidata à reeleição em 2014.
Segunda-feira passada (mas só ontem o Palácio do Planalto permitiu o vazamento da importante revelação), Dilma comunicou ao concorrente, o governador pernambucano Eduardo Campos, que vai disputar a eleição presidencial de 2014. O netinho de Miguel Arraes, que tenta viabilizar a candidatura para realizar o sonho também acalentado por seu falecido avô, deve ter ficado com cara de mané. Tanto que até teria se comprometido a ajudar Dilma a fazer uma boa administração em 2013, sem se comprometer com a reeleição dela... Tadinho...
Acontece que o aviso da Dilma não foi para o Eduardo Campos. Ela mandou foi um recado para uma ala petista que sonha com a volta de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, em 2014. Eles reclamam que Dilma mantem uma relação muito distante com eles, e por isso querem a proximidade sempre garantida com Lula. A capsula Dilma já dá sinais concretos de que vai de desacoplar de Lula e do PT que sempre tentaram fazê-la refém.
A condenação da cúpula petista no Mensalão e o estouro de escândalos – na dimensão do Rosegate – facilitaram um pouco a vida de Dilma, já que complicaram a de Lula. Em compensação, Dilma paga caro com a herança maldita dos 10 anos de PT na aparelhagem, pilhagem e pilotagem do Titanic Brasil. A economia começa a desandar, sem crescimento consistente e com o esgotamento da fórmula de crédito fácil para o consumismo que turbina a popularidade.
O efeito anão é um problemão gerado pela histórica falta de investimento verdadeiro em infraestrutura, produtividade e qualidade real do cidadão – seja ele mão de obra ou consumidor. A década petralha enriqueceu muita gente e fez milhares de outros terem a ilusão da subida na escadinha social. No entanto, não resolveu os gargalos estratégicos para garantir o real crescimento e desenvolvimento do Brasil – e não foi por falta de tempo e muito menos de dinheiro. Faltaram competência, seriedade, honestidade e oposição crítica.
Agora, na corda bamba do poder, ficam o bêbado e a equilibrista... E nem adianta convocar a Maria Rita para animar o espetáculo porque o tempo da linda voz da mãe Elis já passou. O negócio agora é correr atrás do prejuízo. Dilma ainda tem um tempinho. Lula, não. O tempo dele já passou. A sorte de ambos é a ausência de oposição política consistente e com proposta diferente. PSDB e PSB são parecidos na proposta socialista fabiana. Tem gente até que acredita que ambos só diferem do PT no grau de rapinagem à máquina estatal...
Na falta de um projeto nacional para o Brasil, os atuais ocupantes do poder e seus parceiros ou fingidores concorrentes seguem na mesma balada de sempre. Apelam para o famoso “jeitinho”. Nosso “little way” até virou notícia no prestigiado site do Financial Times, em referência à maquiagem nas contas públicas...
Haja jeitinho para Lula... O caso dele é complicadíssimo. Só não é mais terminal que o de Hugo Chávez. Mas é tênue a diferença entre aquele que se finge de vivo e o que tenta se fingir sempre de morto. Lula terá de dar explicações públicas sobre vários escândalos: 1) as denúncias de Marcos Valério no pós-mensalão; 2) as ações de apadrinhada amiga Rosemary nas falcatruas vindas à tona na Operação Porto Seguro; 3) uma possível revelação que possa surgir sobre suas ligações com a Delta do Fernando Cavendish.
O jeitinho que Lula vai dar, no papel de apedeuta ou de apedelta, só ele sabe. E como o carnaval já começou, Lula devia correr até São Gonçalo (RJ) e comprar uma máscara do Joaquim Barbosa para ele, José Dirceu, José Genoíno, João Paulo Cunha e demais companheiros... Quem sabe ele não engana todo mundo novamente e escapa do vexame de atravessar o samba de sua história política...
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
20 de janeiro de 2013Jorge Serrão é Jornalista,
Radialista, Publicitário e Professor.
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