Dilma afirma que país terá crescimento 'sustentável e sistemático', mas governo não faz o mínimo para que a intenção seja levada a sério
Este ano será de crescimento "sério, sustentável e sistemático", disse ontem a presidente Dilma Rousseff, em viagem ao Nordeste.
Esse é o desejo de uma presidente que iniciou seu governo com a previsão de que o país cresceria em média quase 6% nos quatro anos de mandato. De uma presidente que insistia em ora prometer, ora exigir crescimento de mais de 4% no ano passado. No primeiro biênio de Dilma, o país não terá crescido mais de 2%, se tanto.
Nos estertores de 2012, em reação às notícias de que suas previsões haviam se frustrado, a presidente afirmou que 2013 seria o ano do "Pibão grandão".
As declarações não parecem nem sérias, nem sustentáveis, nem sistemáticas. Não devido ao descompasso entre intenções e desejos e os resultados mínimos.
Dificuldades imprevistas e forças além do controle, entre outros fatores, decerto podem frustrar planos de crescimento. Preocupante é o fato de o governo aparentemente desconhecer a dimensão dos problemas e o efeito de suas políticas, além de faltarem prioridades e projetos de longo prazo.
Um "Pibão grandão" é um objetivo sério, sustentável e duradouro? O empecilho maior ao crescimento é a lenta recuperação do investimento. O governo pouco contribui para remover tal obstáculo. Investe ele mesmo pouco, excede-se em despesas de consumo ou no estímulo ao consumo. Tumultua as regras do mercado e executa uma política econômica que suscita cada vez mais desconfiança.
Se não "grandão", o crescimento pode ser sustentável se o país depara com problemas básicos, como uma inflação crescente que exorbita as previsões do governo, o qual recorre a medidas extravagantes para tentar controlá-la?
Como pode ser sério o crescimento se o governo não se dedica às prioridades nacionais? Há o risco de falta de energia elétrica, mas o governo desperdiça energia em produção por falta de cabos para transmiti-la.
Ontem, a presidente também mencionou a educação em seu discurso. O que o governo tem feito para mitigar o principal problema educacional brasileiro, o fracasso exasperante do ensino elementar?
A responsabilidade pela escola básica é, de fato, dos municípios, mas, sem a liderança, colaboração e campanha federais, a escola brasileira continuará a produzir massas de analfabetos funcionais, como o faz há décadas.
Faltam educação, investimento, poupança, política econômica confiável e profissional. Requisitos do crescimento duradouro. Pode ser que o crescimento de 2013 supere o pífio resultado do primeiro biênio de Dilma. Seja lá qual for o resultado, porém, não será nem sério, nem sustentável, nem sistemático.
19 de janeiro de 2013
Editorial da Folha de São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário