O PMDB se prepara para um dos momentos mais importantes de sua trajetória política enfrentando um paradoxo que não lhe é desconhecido. Por um desses desígnios da sorte vai presidir as duas Casas do Congresso nos anos vitais para a sucessão presidencial, mas seus indicados para o cargo, o deputado federal Henrique Alves e o senador Renan Calheiros, se têm uma aparente tranquilidade para se eleger junto a seus pares, não desfrutam junto à opinião pública de uma imagem que permita ao partido se impor como uma alternativa de poder.
O fato de terem uma imagem interna melhor que a externa provavelmente indica que o Congresso é uma instituição em choque com a opinião pública, tendo perdido já há algum tempo a característica de representar o pensamento médio brasileiro, seja pela influência financeira nos pleitos, seja pelas possibilidades que o sistema eleitoral brasileiro dá para desvirtuar o voto popular com as coligações proporcionais.
Ou ainda pela distribuição não proporcional das cadeiras pelos Estados da Federação. Mas especialmente pelo corporativismo que domina a maioria dos parlamentares
O PMDB terá nos próximos dois anos a oportunidade de ter sob seu controle o Congresso Nacional, um dos Poderes da República que, no entanto, está tão desmoralizado na posição subalterna em que se colocou diante do Executivo e do Judiciário que dificilmente dá a seus representantes a possibilidade de se igualarem aos seus pares dos demais poderes.
Mesmo assim, o PMDB terá condições de barrar iniciativas do Executivo, de propor ações concretas, de não limitar sua ação ao fisiologismo, se quiser ter um peso decisivo na eleição presidencial de 2014. Essa preocupação não é só do PMDB, mas de todos os partidos aliados do governo que têm projetos políticos de mais longo prazo, como o PSB e até mesmo o recente PSD, mal nascido e já inquieto com a disputa do poder político paulista.
O PT conseguiu ficar na oposição nos dois governos de Fernando Henrique, tendo se recusado a aderir à transição chefiada por Itamar Franco, justamente por que tinha uma expectativa de poder alimentada pela ida de Lula ao segundo turno da eleição presidencial de 1989 contra Collor.
A derrocada do governo, comandada pela bancada petista no Congresso e pelos movimentos sociais nas ruas, deu a sensação ao PT de que chegara a sua hora.
A alternativa partidária derrotada nas urnas mostrava-se novamente à disposição dos eleitores em 1994, e poderia até mesmo ter sucesso se os planos não fossem atropelados pelo Plano Real.
A falta de expectativa de poder nesses anos petistas implodiu por dentro a oposição e resultou no PSD, um abrigo para todos que não querem ficar longe do poder. A decisão do PMDB de não disputar várias eleições presidenciais nos últimos anos explicaria porque não tem uma imagem política nacional, embora domine a política regional mantendo sua estrutura enraizada por todo o país, o que resulta de sua própria origem.
Durante os anos de ditadura, só restava aos partidos disputarem o poder municipal, e à medida que foi se ampliando a possibilidade de disputar eleições, o PMDB foi deixando suas raízes pelo interior do país, o que lhe garante uma estrutura nacional invejável que o PT, depois de 10 anos de poder, e o PSDB, mesmo tendo ficado oito anos na Presidência, não conseguiram superar.
Deixando, no entanto, que questões locais se sobrepusessem às nacionais, demonstrou uma vocação política restrita, aceitando o papel de coadjuvante de PT e PSDB, partidos que têm "vocação presidencial".
No momento em que assume o controle do Poder Legislativo, tem a chance de se impor como parceiro preferencial e não apenas decorativo do PT, ou de participar do jogo de poder com outros parceiros, caso seu faro apurado descubra que o vento do poder mudou de direção.
Mas o PMDB tem contra si o histórico fisiológico de suas principais lideranças que dificulta antever nas suas ações um movimento de revigoramento do Poder Legislativo, sem o que continuará sendo um ator periférico, sempre aliado do poder do momento, mas sem credenciais para exercê-lo.
Continuará sendo vítima de sua própria trajetória política, sem condições de governar, mas sendo imprescindível a qualquer governo.
19 de janeiro de 2013
Merval Pereira
O fato de terem uma imagem interna melhor que a externa provavelmente indica que o Congresso é uma instituição em choque com a opinião pública, tendo perdido já há algum tempo a característica de representar o pensamento médio brasileiro, seja pela influência financeira nos pleitos, seja pelas possibilidades que o sistema eleitoral brasileiro dá para desvirtuar o voto popular com as coligações proporcionais.
Ou ainda pela distribuição não proporcional das cadeiras pelos Estados da Federação. Mas especialmente pelo corporativismo que domina a maioria dos parlamentares
O PMDB terá nos próximos dois anos a oportunidade de ter sob seu controle o Congresso Nacional, um dos Poderes da República que, no entanto, está tão desmoralizado na posição subalterna em que se colocou diante do Executivo e do Judiciário que dificilmente dá a seus representantes a possibilidade de se igualarem aos seus pares dos demais poderes.
Mesmo assim, o PMDB terá condições de barrar iniciativas do Executivo, de propor ações concretas, de não limitar sua ação ao fisiologismo, se quiser ter um peso decisivo na eleição presidencial de 2014. Essa preocupação não é só do PMDB, mas de todos os partidos aliados do governo que têm projetos políticos de mais longo prazo, como o PSB e até mesmo o recente PSD, mal nascido e já inquieto com a disputa do poder político paulista.
O PT conseguiu ficar na oposição nos dois governos de Fernando Henrique, tendo se recusado a aderir à transição chefiada por Itamar Franco, justamente por que tinha uma expectativa de poder alimentada pela ida de Lula ao segundo turno da eleição presidencial de 1989 contra Collor.
A derrocada do governo, comandada pela bancada petista no Congresso e pelos movimentos sociais nas ruas, deu a sensação ao PT de que chegara a sua hora.
A alternativa partidária derrotada nas urnas mostrava-se novamente à disposição dos eleitores em 1994, e poderia até mesmo ter sucesso se os planos não fossem atropelados pelo Plano Real.
A falta de expectativa de poder nesses anos petistas implodiu por dentro a oposição e resultou no PSD, um abrigo para todos que não querem ficar longe do poder. A decisão do PMDB de não disputar várias eleições presidenciais nos últimos anos explicaria porque não tem uma imagem política nacional, embora domine a política regional mantendo sua estrutura enraizada por todo o país, o que resulta de sua própria origem.
Durante os anos de ditadura, só restava aos partidos disputarem o poder municipal, e à medida que foi se ampliando a possibilidade de disputar eleições, o PMDB foi deixando suas raízes pelo interior do país, o que lhe garante uma estrutura nacional invejável que o PT, depois de 10 anos de poder, e o PSDB, mesmo tendo ficado oito anos na Presidência, não conseguiram superar.
Deixando, no entanto, que questões locais se sobrepusessem às nacionais, demonstrou uma vocação política restrita, aceitando o papel de coadjuvante de PT e PSDB, partidos que têm "vocação presidencial".
No momento em que assume o controle do Poder Legislativo, tem a chance de se impor como parceiro preferencial e não apenas decorativo do PT, ou de participar do jogo de poder com outros parceiros, caso seu faro apurado descubra que o vento do poder mudou de direção.
Mas o PMDB tem contra si o histórico fisiológico de suas principais lideranças que dificulta antever nas suas ações um movimento de revigoramento do Poder Legislativo, sem o que continuará sendo um ator periférico, sempre aliado do poder do momento, mas sem credenciais para exercê-lo.
Continuará sendo vítima de sua própria trajetória política, sem condições de governar, mas sendo imprescindível a qualquer governo.
19 de janeiro de 2013
Merval Pereira
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