Naquelas montanhas áridas que cercam Jerusalém,
deu-se uma das cenas mais tocantes da História, o encontro de Maria com Nosso
Senhor, a caminho da tortura e morte: “Quem, Senhora, vendo-Vos assim em
pranto, ousaria perguntar por que chorais? Nem a terra, nem o mar, nem todo o
firmamento, poderiam servir de termo de comparação à vossa dor”.[1]
Pouco depois, “ao
mesmo tempo em que as pesadas lajes do sepulcro velam o Corpo do Salvador aos
olhares de todos, a fé vacila nos poucos que haviam permanecido fiéis a Nosso
Senhor. Mas há uma lâmpada que não se apaga, nem bruxuleia, e que arde só ela
plenamente, nesta escuridão universal.
É Nossa Senhora, em cuja alma a fé brilha
tão intensamente como sempre. Ela crê. Crê inteiramente, sem reservas nem
restrições. Tudo parece ter fracassado. Mas Ela sabe que nada
fracassou. Em paz, aguarda Ela a Ressurreição. Nossa Senhora resumiu e
compendiou em Si a Santa Igreja nesses dias de tão extensa
deserção[2].
Soa um gongo. Estimado leitor,
agora estamos no século XXI.
A peça “O Testamento de Maria” apresenta Nossa Senhora após a crucifixão de Jesus como uma mulher com raiva, amargurada e que duvida da divindade de seu filho. É uma blasfêmia total, pois não se arroja somente contra Nossa Senhora, mas também contra Jesus.
Investe contra Maria Santíssima no que há de mais
caro a Ela: seu amor materno. Uma mãe que se atira publicamente contra seu filho
é coisa relativamente rara, mesmo nestes nossos dias em que tanto aborto se
pratica. Quanto mais agressivo é dizer isto da Mãe das mães, Maria
Santíssima!
“A mãe ama seu filho
quando é bom. Não o ama, porém, só por ser bom. Ama-o ainda quando
mau. Ama-o simplesmente por ser seu filho, carne de sua carne e sangue
de seu sangue. Ama-o generosamente, e até sem nenhuma retribuição. Ama-o no
berço, quando ainda não tem capacidade de merecer o amor que lhe é dado. Ama-o
ao longo da existência, ainda que ele suba ao fastígio da felicidade ou da
glória, ou role pelos abismos do infortúnio e até do crime. É seu filho
e está tudo dito[3].
E que Jesus tenha por missão salvar o mundo. Diz que não é de seus seguidores, tem sempre um cigarro na mão ainda que não aceso, coisas ainda mais prosaicas que omitimos por respeito a Ela e ao leitor, e adora Artemis, equivalente grega a deusa romana Diana. Ela não recebe São João como seu filho, da maneira como Nosso Senhor pediu e o registram os Evangelhos.
Esse maravilhoso amor de Nosso Senhor para com sua
Mãe, amor divino como tudo o que partia dEle, e o amor de Nossa Senhora para com
Ele, obra prima do amor materno, por que razão este filme atira-se contra ambos?
Gratuitamente. Há apenas uma má vontade flagrante, um ódio histórico fremente e
evidente, pois como Deus afirma à serpente no livro Genesis, porei
inimizades entre ti e a Mulher, entre tua descendência e a descendência
dEla.
Protestaram 350 pessoas ligadas à TFP americana em
frente ao teatro com cartazes com os dizeres: “Nós oferecemos a Deus este ato
público de desagravo e veemente protesto contra a peça blasfema “O
testamento de Maria “. “Blasfemadores acreditam que a liberdade de
expressão é absoluta. Mas não existe o direito de mentir … difamar … ofender a
Deus! “
Termino com uma inspirada indagação do Pe. Antonio Vieira (sec. XII), na sua célebre “Apóstrofe Atrevida”[4]:
No monte Calvário esteve esta Senhora sempre ao
pé da Cruz, e, com aqueles algozes tão descorteses e cruéis, nenhum se atreveu a
lhe tocar, nem a lhe perder o respeito. Filho da Virgem Maria, se tanto cuidado
tivestes então do respeito e do decoro de vossa Mãe, como consentis agora que se
lhe façam tantos desacatos?
30 de abril de 2013
Leo Daniele
[1] Plinio Corrêa de Oliveira, “Via Sacra” II, 4ª. estação.
[2] Plinio Corrêa de Oliveira, “Via Sacra” I, 14ª. estação.
[3] Plinio Corrêa de Oliveira, Folha de São Paulo, 18-12-96
[4] Padre Antonio Vieira. Uma das figuras mais importantes do séc. XVII, destacou-se entre outras coisas or sua oposição à invasão holandesa.
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