Líder do PMDB critica articulação do Planalto e diz que "falta uma pessoa com perfil do Palocci". Vice-líder do PMDB diz que votará a favor de emendas de Eduardo Cunha e não vai ‘fazer o jogo da oposição’
Num clima de desconforto e de inquietação com o isolamento do PMDB pelo PT e governo na noite de terça-feira, depois de o vice-presidente Michel Temer e negociadores do governo terem patrocinado um acordo para votação da MP dos Portos, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), chegou na tarde desta quarta-feira no plenário para encaminhar as novas votações, mas não irá obstruir nem dificultar as votações das 14 emendas ainda pendentes.
Ele conversou com Temer e participou de várias reuniões com a bancada, e o sentimento é de que a presidente Dilma Rousseff atuou na última hora para marcar posição contra o líder, para medir forças, desautorizando o acordo após o fim da obstrução que permitiu a aprovação do texto base.
— Não há dúvida que quiseram marcar posição comigo. Mas nós também marcamos posição. Foi uma marcação de posição mútua. Não adianta uma vitória de um dia se temos aqui o dia a dia para conviver — disse Eduardo Cunha.
— A articulação (do governo com Congresso) está sendo feita de uma forma ruim. No fundo falta uma pessoa com o perfil do (ex-ministro Antônio) Palocci, que tenha jogo de cintura e tenha capacidade de construir — disse.
Segundo peemedebistas que participaram dessa reunião, duas coisas pesaram na decisão da presidente Dilma de barrar o acordo firmado com intermediação de Temer e da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti: impor uma derrota a Eduardo Cunha e impedir a mudança do texto do relatório do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que beneficiaria o governador de Pernambuco Eduardo Campos (do PSB), dando aos administradores de portos públicos, poderes para decidir sobre licitações, como no caso de Suape.
— A versão que temos aqui no PMDB é que a presidente Dilma ligou, quando a emenda aglutinativa do Eduardo ia ser votada e repetiu Antônio Carlos Magalhães, que disse: jantar que eu não participei não existiu. Não sei o que foi mais forte, se a vontade de derrotar Eduardo Cunha ou Eduardo Campos. Deu no que deu. Foi ruim ontem, mas será muito pior daqui para a frente — contou um dos interlocutores de Eduardo Cunha.
Antes de voltar para o plenário hoje, Eduardo Cunha admitiu a dificuldade de articulação na base e a inexistência de um articulador do Planalto que tenha autonomia para negociar e cumprir acordos com a base. Ele reclamou que precisa acabar com o maniqueísmo de que tudo que o Planalto manda para o Planalto é bom para o País, e tudo que o PMDB defende é pelo mal do Brasil.
— Eu entendo que a presidente Dilma não tenha participado do acordo. Não tinha que entrar mesmo. A presidente não pode mergulhar na derrota, só deve mergulhar na vitória. Mas tem que delegar — disse Eduardo Cunha.
O líder do PMDB disse que mesmo que o Senado ultrapasse os entraves regimentais de tempo para conclusão da votação da MP dos Portos, ela vai acabar no Supremo Tribunal Federal (STF). Principalmente porque o relator da matéria, Eduardo Braga, teria cometido um erro material com a emenda do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).
— Independente dos trâmites no Senado já há risco de judicialização e o governo sabe disso — disse.
Mas há desconforto também entre os peemedebistas, com a condução feita pelo líder Eduardo Cunha. Ontem ao longo do dia ele virou herói e ficou muito fortalecido na bancada. Mas a noite, quando resolveu endurecer e pedir as votações nominais, perdeu força e apoios. Hoje os vice líderes se reuniram e concluíram que ele levou uma questão pessoal com a presidente, para o partido.
— A noite o líder isolou o PMDB e isso gerou desconforto enorme na bancada. Eduardo Cunha conduziu o partido a sucessivas derrotas. Hoje uma parte da bancada vai votar contra ele, seguindo o projeto original do Eduardo Braga — disse um dos liderados de Cunha.
PMDB votará a favor de emendas de Eduardo Cunha à MP
Mesmo com essa visão sobre a liderança, o vice-líder do PMDB na Câmara, deputado Marcelo de Castro (PI) afirmou nesta quarta-feira que o PMDB manterá a coerência e irá votar a favor de destaques que defendem as modificações no texto expressas na aglutinativa do líder da bancada, Eduardo Cunha. Castro afirmou que o PMDB não irá obstruir as votações, porque este é o papel da oposição, mas quer votar os destaques para marcar sua posição.
— Vamos votar com o que acreditamos. Não vamos protelar, porque somos governo e não vamos fazer o jogo da oposição. Vamos fazer o jogo do PMDB que defendeu pontos de vista. O PMDB, como bancada, assumiu uma postura, pensando no melhor para o país. Combatemos o bom combate, nossas teses foram derrotadas. O mundo vai se acabar? Não. O PMDB sai fortalecido como um partido que tem postura. O painel mostrou que a bancada votou unânime.
Castro afirmou que os dois votos contra a emenda Eduardo Cunha foram Osmar Serraglio (PR), o que é compreensível por ele ser vice-líder do governo, e do deputado Wilson Filho (PB), por questões regionais:
— Isso mostra que foi o Eduardo que assumiu a postura da bancada. Não somos obrigados a acreditar em tudo o que o governo acredita.
O líder do PSB, Beto Albuquerque (RS), disse que a dificuldade para votar a MP é fruto da ausência de diálogo do governo com o Parlamento. Segundo ele, hoje integrantes do governo já o procuraram para articular a votação de uma emenda do deputado Glauber Braga (PSB-RJ) que regula a guarda portuária.
— O governo começa hoje mostrando interesse em conversar. O governo tem que ceder em algumas coisas, sem comprometer o eixo das matérias. Se vota hoje? Se o governo negociar, é possível votar mais rápido. No tempo do Lula resolvíamos mais facilmente porque havia diálogo e respeito ao protagonismo parlamentar — disse Beto Albuquerque
O ministro da Secretaria dos Portos, Leônidas Cristino, acompanha a votação no plenário da Câmara. O ministro disse que os partidos deram uma demonstração de que estão empenhados em votar a MP, ficando até de madrugada e que isso é um bom sinal para que o Senado aprove a MP até quinta-feira, evitando que ela perca a vigência.
15 de maio de 2013
Maria Lima e Isabel Braga - O Globo
Ele conversou com Temer e participou de várias reuniões com a bancada, e o sentimento é de que a presidente Dilma Rousseff atuou na última hora para marcar posição contra o líder, para medir forças, desautorizando o acordo após o fim da obstrução que permitiu a aprovação do texto base.
— Não há dúvida que quiseram marcar posição comigo. Mas nós também marcamos posição. Foi uma marcação de posição mútua. Não adianta uma vitória de um dia se temos aqui o dia a dia para conviver — disse Eduardo Cunha.
— A articulação (do governo com Congresso) está sendo feita de uma forma ruim. No fundo falta uma pessoa com o perfil do (ex-ministro Antônio) Palocci, que tenha jogo de cintura e tenha capacidade de construir — disse.
Segundo peemedebistas que participaram dessa reunião, duas coisas pesaram na decisão da presidente Dilma de barrar o acordo firmado com intermediação de Temer e da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti: impor uma derrota a Eduardo Cunha e impedir a mudança do texto do relatório do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que beneficiaria o governador de Pernambuco Eduardo Campos (do PSB), dando aos administradores de portos públicos, poderes para decidir sobre licitações, como no caso de Suape.
— A versão que temos aqui no PMDB é que a presidente Dilma ligou, quando a emenda aglutinativa do Eduardo ia ser votada e repetiu Antônio Carlos Magalhães, que disse: jantar que eu não participei não existiu. Não sei o que foi mais forte, se a vontade de derrotar Eduardo Cunha ou Eduardo Campos. Deu no que deu. Foi ruim ontem, mas será muito pior daqui para a frente — contou um dos interlocutores de Eduardo Cunha.
Antes de voltar para o plenário hoje, Eduardo Cunha admitiu a dificuldade de articulação na base e a inexistência de um articulador do Planalto que tenha autonomia para negociar e cumprir acordos com a base. Ele reclamou que precisa acabar com o maniqueísmo de que tudo que o Planalto manda para o Planalto é bom para o País, e tudo que o PMDB defende é pelo mal do Brasil.
— Eu entendo que a presidente Dilma não tenha participado do acordo. Não tinha que entrar mesmo. A presidente não pode mergulhar na derrota, só deve mergulhar na vitória. Mas tem que delegar — disse Eduardo Cunha.
O líder do PMDB disse que mesmo que o Senado ultrapasse os entraves regimentais de tempo para conclusão da votação da MP dos Portos, ela vai acabar no Supremo Tribunal Federal (STF). Principalmente porque o relator da matéria, Eduardo Braga, teria cometido um erro material com a emenda do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP).
— Independente dos trâmites no Senado já há risco de judicialização e o governo sabe disso — disse.
Mas há desconforto também entre os peemedebistas, com a condução feita pelo líder Eduardo Cunha. Ontem ao longo do dia ele virou herói e ficou muito fortalecido na bancada. Mas a noite, quando resolveu endurecer e pedir as votações nominais, perdeu força e apoios. Hoje os vice líderes se reuniram e concluíram que ele levou uma questão pessoal com a presidente, para o partido.
— A noite o líder isolou o PMDB e isso gerou desconforto enorme na bancada. Eduardo Cunha conduziu o partido a sucessivas derrotas. Hoje uma parte da bancada vai votar contra ele, seguindo o projeto original do Eduardo Braga — disse um dos liderados de Cunha.
PMDB votará a favor de emendas de Eduardo Cunha à MP
Mesmo com essa visão sobre a liderança, o vice-líder do PMDB na Câmara, deputado Marcelo de Castro (PI) afirmou nesta quarta-feira que o PMDB manterá a coerência e irá votar a favor de destaques que defendem as modificações no texto expressas na aglutinativa do líder da bancada, Eduardo Cunha. Castro afirmou que o PMDB não irá obstruir as votações, porque este é o papel da oposição, mas quer votar os destaques para marcar sua posição.
— Vamos votar com o que acreditamos. Não vamos protelar, porque somos governo e não vamos fazer o jogo da oposição. Vamos fazer o jogo do PMDB que defendeu pontos de vista. O PMDB, como bancada, assumiu uma postura, pensando no melhor para o país. Combatemos o bom combate, nossas teses foram derrotadas. O mundo vai se acabar? Não. O PMDB sai fortalecido como um partido que tem postura. O painel mostrou que a bancada votou unânime.
Castro afirmou que os dois votos contra a emenda Eduardo Cunha foram Osmar Serraglio (PR), o que é compreensível por ele ser vice-líder do governo, e do deputado Wilson Filho (PB), por questões regionais:
— Isso mostra que foi o Eduardo que assumiu a postura da bancada. Não somos obrigados a acreditar em tudo o que o governo acredita.
O líder do PSB, Beto Albuquerque (RS), disse que a dificuldade para votar a MP é fruto da ausência de diálogo do governo com o Parlamento. Segundo ele, hoje integrantes do governo já o procuraram para articular a votação de uma emenda do deputado Glauber Braga (PSB-RJ) que regula a guarda portuária.
— O governo começa hoje mostrando interesse em conversar. O governo tem que ceder em algumas coisas, sem comprometer o eixo das matérias. Se vota hoje? Se o governo negociar, é possível votar mais rápido. No tempo do Lula resolvíamos mais facilmente porque havia diálogo e respeito ao protagonismo parlamentar — disse Beto Albuquerque
O ministro da Secretaria dos Portos, Leônidas Cristino, acompanha a votação no plenário da Câmara. O ministro disse que os partidos deram uma demonstração de que estão empenhados em votar a MP, ficando até de madrugada e que isso é um bom sinal para que o Senado aprove a MP até quinta-feira, evitando que ela perca a vigência.
15 de maio de 2013
Maria Lima e Isabel Braga - O Globo
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