Se a doutora Dilma quis assustar o empresariado e abalar a confiança na política econômica do seu governo, fez um gol de placa. Perdeu o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, sem anunciar o nome de seu substituto e, no vácuo, surgiu no noticiário o nome do companheiro Arno Augustin, atual secretário do Tesouro.
Barbosa é um professor discreto, que voltará para a universidade. Não é petista nem foi banqueiro. Até onde a vista alcança, dificilmente será qualquer das duas coisas.
Augustin é economista, quadro da facção Democracia Socialista do PT, experimentado desde a época em que dirigiu a secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, nos anos 90.
Atualmente, acumula a função no Tesouro com uma posição de destaque no comissariado de articulação da campanha pela reeleição da doutora. Mesmo que ele fosse Lord Keynes, essa dupla militância assustaria tanto o mercado como a galera. Quando Tesouro e campanha andam juntos, acaba-se em confusão.
A saída de Nelson Barbosa é uma má notícia em si. A simples possibilidade da promoção de Augustin dobra o prejuízo. O desfalque do secretário executivo sem o anúncio imediato do nome de quem iria para seu lugar é produto do deixa-comigo-porque-eu-posso. Os palácios sempre acham que podem muito, e o do Planalto pensa que pode tudo.
Havendo um problema, faz-se uma nomeação, um decreto ou uma Medida Provisória, pois manda quem pode e obedece quem tem juízo. Falta aos governantes a humildade do general Goes Monteiro. Condestável do Estado Novo, ele ensinou: “Na vida eu gostaria de ser metade do que o cadete pensa que é.”
Sempre que ocorre um descontrole na economia, o Planalto acredita nos seus poderes. Assim foi durante os governos que levaram o país à hiperinflação, quando se trocavam ministros e presidentes do Banco Central como se escolhe uma gravata.
Nessa época, burocratas capazes de alterar o significado da estatística prevaleceram sobre aqueles que viam nos números um reflexo das dificuldades. O país livrou-se dessa praga quando Itamar Franco colocou Fernando Henrique Cardoso no Ministério da Fazenda e Lula aferrou-se à sua política de defesa da moeda.
A doutora Dilma, com a certeza de suas convicções, tomou rumo diverso. Sua equipe de coordenação política serve, quando muito, para organizar eventos. Sua ação econômica depende da vontade da doutora, traduzida nas homílias do ministro Guido Mantega.
Durante a digestão da Medida Provisória dos Portos, o governo fez de conta que havia uma questão técnica quando, na realidade, havia uma disputa de grupos de interesses.
A cada três meses os sábios oferecem novos mimos aos empresários interessados em concessões de serviços públicos, mal sabendo que o instinto animal dessa espécie vê em cada concessão um sinal de fraqueza e vai à luta para conseguir mais.
Quem julga a doutora pela sua cenografia e pelo hermetismo de suas falas é capaz de acreditar que ela substituiu um governante falastrão. Seria a gerentona no lugar de um palanqueiro. Há alguns meses, contudo, Dilma Rousseff gerencia a imagem de gerentona de Dilma Rousseff. E se Lula tiver sido um astuto gerente fingindo-se de palanqueiro?
15 de maio de 2013
Elio Gaspari, O Globo
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