Artigos - Governo do PT
Por um fenômeno mais psicológico do que ideológico, a imensa maioria de nossos conterrâneos quer segurança e não aventuras. Mas a determinação do Governo parece ser a de incrementar o processo de esquerdização autoritária.
É fácil aperceber-se que o Brasil atravessa um período de instabilidade política acentuada. As manifestações que encheram as ruas de grandes capitais, como de cidades médias e até pequenas, em todo o território nacional, são apenas um dos sintomas da presente situação.
Acúmulo de fatores de incompreensão
Com a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência, a esquerda petista submeteu o País a um projeto de poder que, ao longo dos anos, foi acumulando fatores de incompreensão e de indignação, em muitos daqueles mesmos que acreditaram nas arengas da “ética”, da “transparência”, da política renovada e viram nelas um arejamento da vida pública.
O lulo-petismo (hoje na versão Dilma Rousseff) não compreendeu, entretanto, que as suas vitórias – tocadas a doses cavalares de propaganda e assistencialismo – não significavam uma adesão de boa parte do eleitorado às reivindicações progressistas e niveladoras de sua ideologia.
Coadjuvados em boa medida pela chamada “esquerda católica”, açodaram-se em impor sua agenda ideológica, em subjugar as instituições, em desvelar seus intuitos persecutórios contra quem se lhes opusesse e em tudo fazer para se perpetuarem no poder.
A grande maioria da população, marcadamente centrista, foi sentindo-se frustrada em suas apetências de uma vida distendida e despreocupada. Primeiro distanciou-se do lulo-petismo; e, a cada dia mais, vai-se mostrando ressentida com ele, ainda quando não esteja nas ruas a manifestar-se.
A propósito das recentes manifestações, que repercutiram intensamente no Brasil e no exterior, o Príncipe Dom Bertrand de Orleans e Bragança escreveu um esclarecedor artigo, intitulado Improvisação, aventura e caos. Convido-os, pois, a lerem a íntegra do artigo publicado na Folha de S. Paulo (19.jul.2013):
Improvisação, aventura e caos
O Brasil vive um momento de incertezas, que parece rumar para a improvisação, a aventura e quiçá o caos.
Em todo o mundo, grupos revolucionários, de diversos matizes de esquerda, buscam ressurgir das cinzas de suas falidas ideologias e capitanear anseios ou descontentamentos populares – por vezes autênticos – investindo contra “tudo o que aí está”: as estruturas do Estado, da política e da sociedade. Iludindo incautos, visam uma democracia direta das ruas, pela qual minorias de ativistas radicais imponham à sociedade e às autoridades (acuadas ou coniventes) um difuso despotismo, contrário à propriedade privada, destruidor da família, propugnador de estilos de vida alternativos e com notas crescentes de militância anticristã. Movimentos como o Occupy Wall Street ou os chamados “indignados” na Espanha são disso exemplos recentes.
Os 20 centavos das passagens de ônibus urbanos foram o estopim para que, no Brasil, grupos desse naipe (como o MPL, originário dos Fóruns Sociais Mundiais) articulassem mobilizações que rapidamente degeneraram em agressões e atos de violência. Sem qualquer representatividade social, foram, porém, erigidos em “voz das ruas”, por considerável parte da mídia e escolhidos como interlocutores oficiais, num jogo de prestidigitação político-ideológica.
Entretanto, a realidade no Brasil é sempre mais complexa do que a imaginam certos profissionais do caos. Tais ondas de choque vieram de encontro a um difuso, calado, mas autêntico e profundo descontentamento que, de há muito, fermenta na opinião pública. O que mudou, em boa medida, a conformação das manifestações de rua.
Em nossa cambaleante democracia, os anelos reais do “homem da rua” há muito são ignorados pelo mundo político, e os debates sobre temas de interesse nacional, bem como os processos eleitorais reduzidos a cambalachos de bastidores.
Imaginando equivocadamente que a opinião pública nacional anseia por instituições e leis acentuadamente progressistas, sucessivos governos – e mais acentuadamente os governos petistas – foram arrastando o Brasil para uma esquerdização dissolvente. Tal esquerdização foi somando fatores de inconformidade no Brasil real, nesse Brasil em ascensão, que labuta e produz, que quer ser autenticamente brasileiro, em continuidade com seus valores e seu passado.
Já em 1987, prestes a ser aprovada a nova Constituinte, Plinio Corrêa de Oliveira alertava, aos que de futuro atuassem na vida pública, para o divórcio que se gestava entre o País legal e o País real: “Criar-se-á então uma daquelas situações históricas dramáticas, nas quais a massa da Nação sai de dentro do Estado, e o Estado vive (se é que para ele isto é viver) vazio de conteúdo autenticamente nacional.
Em outros termos, quando as leis fundamentais que modelam as estruturas e regem a vida de um Estado e de uma sociedade, deixam de ter uma sincronia profunda e vital com os ideais, os anelos e os modos de ser da nação, tudo caminha nesta para o imprevisto.
Até para a violência, em circunstâncias inopinadas e catastróficas, sempre possíveis em situações de desacordo, de paixão e de confusão” (Projeto de Constituição angustia o País, p. 201).
Por um fenômeno mais psicológico do que ideológico, a imensa maioria de nossos conterrâneos quer segurança e não aventuras. Mas a determinação do Governo parece ser a de incrementar o processo de esquerdização autoritária.
Propagandisticamente pode dar certo distorcer a realidade que vive o País, mas no fundo das mentalidades só se agravará o divórcio entre o País legal e o País real.
24 de julho de 2013
Dom Bertrand de Orleans e Bragança & José Carlos Sepúlveda da Fonseca
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