Na semana em que a multidão indignada ocupou o teto do Congresso, o deputado Henrique Alves não se teria arriscado a requisitar um jato da FABTur para ver um jogo de futebol no Maracanã.
Na semana em que milhares de manifestantes voltaram a sitiar a sede do Poder Legislativo, o presidente da Câmara não teria ousado embarcar numa unidade da Aeronáutica um filho, a noiva, dois filhos da noiva, um irmão da noiva e a cunhada da noiva. Um pai-da-pátria e sete agregados.
Se a onda de atos de protesto estivesse em seu clímax, o parlamentar do PMDB potiguar não teria acrescentado uma história muito mal contada ao pontapé no decoro, na ética, na moral e nos bons costumes. Descoberta a agressão ao patrimônio público, Henrique Alves argumentou que viajara, justo na véspera da final da Copa das Confederações, para conversar com o prefeito Eduardo Paes. Devem ter debatido a ida de Neymar para o Barcelona e as performances do artilheiro Fred.
Para reparar o que qualifica de “um erro”, o gerente da Casa dos Horrores promete entregar ninguém sabe a quem uma quantia equivalente a sete passagens de ida e oito de volta (um amigo do irmão da noiva juntou-se aos passageiros do avião da alegria no retorno ao Rio Grande do Norte). Feito isso, a página estará virada.
É muita desfaçatez. É muito descaramento. É mais uma prova de que os destinatários se recusam a receber a claríssima mensagem das ruas: milhões de brasileiros já não aceitam ser tratados como idiotas. Estão fartos de bancar a gastança dos debochados no poder. Paciência tem limite. A dos brasileiros honestos chegou ao fim.
Henrique Alves e seus iguais devem imaginar que, como anda recitando o marqueteiro João Santana, o que houve neste junho foi apenas “uma catarse temporária”. Estão brincando com fogo ─ literalmente. Desde o começo da revolta da rua, os donos do poder nada fizeram para eliminar os motivos que mobilizaram, em centenas de cidades, incontáveis manifestantes. O copo até aqui de náusea vai transbordar de novo.
O elenco do espetáculo do cinismo decerto ignora que, minutos antes do tsunami, as águas se afastam da praia. É um recuo enganoso. Avisa que a onda imensa começou a avançar.
03 de julho de 2013
augusto nunes
Se a onda de atos de protesto estivesse em seu clímax, o parlamentar do PMDB potiguar não teria acrescentado uma história muito mal contada ao pontapé no decoro, na ética, na moral e nos bons costumes. Descoberta a agressão ao patrimônio público, Henrique Alves argumentou que viajara, justo na véspera da final da Copa das Confederações, para conversar com o prefeito Eduardo Paes. Devem ter debatido a ida de Neymar para o Barcelona e as performances do artilheiro Fred.
Para reparar o que qualifica de “um erro”, o gerente da Casa dos Horrores promete entregar ninguém sabe a quem uma quantia equivalente a sete passagens de ida e oito de volta (um amigo do irmão da noiva juntou-se aos passageiros do avião da alegria no retorno ao Rio Grande do Norte). Feito isso, a página estará virada.
É muita desfaçatez. É muito descaramento. É mais uma prova de que os destinatários se recusam a receber a claríssima mensagem das ruas: milhões de brasileiros já não aceitam ser tratados como idiotas. Estão fartos de bancar a gastança dos debochados no poder. Paciência tem limite. A dos brasileiros honestos chegou ao fim.
Henrique Alves e seus iguais devem imaginar que, como anda recitando o marqueteiro João Santana, o que houve neste junho foi apenas “uma catarse temporária”. Estão brincando com fogo ─ literalmente. Desde o começo da revolta da rua, os donos do poder nada fizeram para eliminar os motivos que mobilizaram, em centenas de cidades, incontáveis manifestantes. O copo até aqui de náusea vai transbordar de novo.
O elenco do espetáculo do cinismo decerto ignora que, minutos antes do tsunami, as águas se afastam da praia. É um recuo enganoso. Avisa que a onda imensa começou a avançar.
03 de julho de 2013
augusto nunes
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