Quem conta essa historinha é um certo Arthur Rezende, autor de um velho livro chamado “Frases e curiosidades latinas”. A tese de que a palavra larápio – sinônimo de ladrão, gatuno, ladravaz, ratazana – derivou das iniciais daquele Lucius Antonius, magistrado venal, é uma das mais saborosas e mais desacreditadas lendas etimológicas que circulam em português.
Um filólogo brasileiro respeitável, Antenor Nascentes, cometeu a temeridade de registrá-la em seu dicionário. Mesmo não comprando sem reservas a versão de Rezende e resguardando seu prestígio com a tradicional fórmula italiana de ceticismo (se non è vero…), Nascentes fez muito pela disseminação do que tudo indica ser uma mentira deslavada.
Mas será mesmo? Bem, o envolvimento de Nascentes com a lenda de L.A.R. Appius lhe valeu críticas de colegas como o português José Pedro Machado e o brasileiro Silveira Bueno, que não tinham dúvida sobre a inconsistência da tese.
Como explicar que a palavra tivesse ganhado seu primeiro registro em português apenas em 1812 – e que, em todos os séculos interpostos entre a vida do tal magistrado e o momento do fiat lux vocabular, o nome de Appius não aparecesse em um único documento histórico?
A parte chata é que, fora a imaginosa tese do pretor corrupto, que não fica em pé, não há mais nenhuma. A origem da palavra larápio é um mistério.
03 de julho de 2013
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