"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

PAPA COMEÇA LIMPEZA DE ARCEBISPOS SUSPEITOS DE CORRUPÇÃO


Banco do Vaticano abre pela primeira vez um site para dar transparência
  
Nem bem desembarcou em Roma depois de uma intensa visita ao Brasil, o papa Francisco começa a tomar decisões para limpar a Igreja no que se refere aos escandalos de corrupção. Nesta quarta-feira, 31, o Vaticano anunciou a renúncia de três bispos implicados em escândalos de corrupção. No mesmo dia, a Santa Sé colocou no ar um site do Instituto de Obras Religiosas, considerado como o Banco do Vaticano, e prometeu que vai, pela primeira vez, publicar as contas da instituição.
 
O papa, durante sua viagem ao Brasil, insistiu que uma das metas de suas reformas é o de garantir transparência nas contas da Igreja. As renúncias dos bispos seriam um alerta de que ele não vai poupar ninguém.
 
Nesta quarta-feira, o Vaticano indicou diplomaticamente que Francisco "aceitou a renúncia" dos arcebispos de Lubjana e Maribor, depois que um buraco de 800 milhões de euros foi encontrado nas contas da Igreja eslovena.
 
Na Eslovênia, as vítimas foram os arcebispos Anton Stres e Marjan Turnsek. O Vaticano apenas indicou que seguiu o parágrafo 2 do canon 401 do Código de Direito Canônico. Por essa regra, pede-se que um bispo renuncie "por doença ou causa grave".
 
O escândalo começou ainda em 2010, quando o Vaticano enviou um inspetor para entender porque motivo a Igreja do país pedia tantos empréstimos à Santa Sé. Descobriu-se que, por conta de operações financeiras de alto risco, a Igreja local havia perdido muito dinheiro e, para sobreviver, pediu dinheiro emprestado em bancos e até a rede de TVs. Ficou ainda claro que a imprudência já tinha começado em 2003. "Espero que o passo que dei foi correto para restituir a reputação da Igreja eslovena", disse Stres.
 
Outro que renunciou foi o arcebispo de Yaoundé, em Camarões, também por conta de um escândalo financeiro. Simon-Victor Tonyé Bakot chegou a ser o presidente da Conferência Episcopal de seu país, mas também era um ativo empreendedor imobiliário.
 
No mesmo dia, o Banco do Vaticano abriu seu novo site - www.ior.va - justamente com a meta de dar transparência a suas atividades. O banco é alvo de duras críticas e o papa já indicou que não sabe ainda se a instituição será mantida.
 
Em declarações à Rádio Vaticano, o presidente do Ior, Erns von Freyberg, garantiu que a meta é ser transparente e que, em 2013, pela primeira vez as contas da instituição serão conhecidas. "Vamos fornecer informações sobre as nossas reformas e o que fazemos no mundo e como podemos apoiar a Igreja e sua missão e obras de caridade", disse.
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Fraternidade
 
A busca por uma reforma também está marcada pela escolha do papa, anunciada na última quarta, de que o Dia Mundial da Paz de 2014 terá a "fraternidade" como tema.
 
Para ele, a "globalização da indiferença" deve ser substituída pela "globalização da fraternidade". Propondo um "rosto mais humano ao mundo", ele voltou a pedir que se supere a "cultura do descartavel" e que se promova a "cultura do encontro".
 
Sua avaliação é que a fraternidade é o caminho para superar a pobreza, fome, subdesenvolvimento, conflitos, desigualdade, injustiça, crime organizado e fundamentalismos. Francisco ainda pede que não se tenha apenas uma ajuda assistencialista ao mais pobres.
 
Na quarta, o papa ainda participou da festa litúrgica de São Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. Jesuíta, o papa não deixou de participar do evento. Mas pediu que seus colegas jesuítas tomem "caminhos criativos" e que destinem seus trabalhos para as "periferias, as tantas periferias do mundo".

01 de agosto de 2013
Jamil Chade - O Estado de São Paulo

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