"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 2 de abril de 2012

TRINTA ALMAS PERDIDAS


A colonização de Madagascar.
Como a maior ilha da África foi colonizada por asiáticos


Madagascar é renomada por seus animais incomuns, particularmente seus lêmures, um grupo de primatas que foi extinto em todo o resto de planeta. Sua população humana, contudo, é igualmente incomum. A ilha foi um dos últimos lugares do planeta a ser colonizado, recebendo seus primeiros migrantes no meio do primeiro milênio d.C.. Ademais, apesar de sua proximidade da África (400 km, em seu ponto mais próximo), suspeita-se que aqueles colonizadores tenham chegada do arquipélago Malay – a Indonésia contemporânea – vindos de mais de 6 mil km de distância.

Há três razões para essa suspeita. Primeiro, há séculos reconhece-se que a língua malagasy, apesar de distinta, absorveu muitas palavras do javanês, malaio e das línguas de Borneo e Sulawesi. Segundo, a cultura dos ilhéus inclui artefatos que vão de canoas com estabilizadores laterais a xilofones, e lavouras de banana e arroz, que são (ou melhor, eram então) caracteristicamente asiáticas, não africanas. E terceiro, evidências genéticas vincularam o malagasy moderno com povos que habitam o leste da Indonésia bem como as mais distantes Melanésia e Oceania.

Agora Murray Cox, da Universidade Massey da Nova Zelândia, e seus colegas eliminaram qualquer dúvida que houvesse restado a respeito do assunto ao mostrar não só a origem dos primeiros colonizadores como também quantos deles fizeram a viagem migratória. E a resposta é um número surpreendentemente pequeno. Apesar de não ser possível determinar, através do método utilizado pelo Dr. Cox, quantos homens integravam o primeiro grupo, é possível precisar o número de mulheres em trinta.

Ele tirou essa conclusão, recém publicada no periódico Proceedings of the Royal Society, ao examinar amostras de DNA de 266 malagasys e compará-las a amostras genéticas de 2.745 indonésios. Ele concentrou sua observação no DNA mitocrondrial. Estes são componentes celulares envolvidos na produção energética que descendem de bactérias que se tornaram simbióticas com ancestrais da humanidade há quase 2 bilhões de anos, e por isso têm o seu próprio conjunto de genes. Herda-se mitocôndrias apenas das mães e por isso é possível traçar somente a linhagem feminina através de sua análse.

Tendo confirmado que o DNA malagasy e indonésio haviam se separado há cerca de 1.200 anos, o que é estatisticamente próximo à data de colonização sugerida por arqueólogos, a equipe então investigou os seus dados para descobrir quantas mulheres, escolhidas aleatoriamente no arquipélago malaio naquele período, seriam necessárias para explicar a variação do DNA mitocondrial em Madasgacar. A resposta foi cerca de 30.

02 de abril de 2012
Fontes:The Economist - Thirty lost souls

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