"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 2 de abril de 2012

MILLÔR, O FRASISTA IRÔNICO

“Ele foi um grande intelectual, livre pensador, é um grande exemplo para o Brasil, tinha posições sempre claras, sempre corajosas. Eu acho que, pelo fato de ser rotulado como humorista, talvez muita gente não tenha prestado
atenção a esse outro lado dele”.
Luís Fernando Veríssimo – escritor


Retiro da minha estante o livro Millôr definitivo – A bíblia do caos. Nas suas 524 páginas, o pensamento dele em 5142 máximas, aliás, máximas no melhor sentido do termo. Aos 88 anos, Millôr Fernandes morreu após uma complicada enfermidade que principiou com um AVC. Jornalista, escritor, desenhista, dramaturgo, tradutor e humorista, tinha uma notável e criativa intelectualidade, marcada pela independência e por uma lucidez crítica e contundente.

Acompanhando a enorme repercussão da morte dele, lembrei as inúmeras vezes em que tive que recorrer ao dicionário para conhecer o significado de palavras que o Millôr punha nos seus textos, incluindo as participações dele nos outros meios de comunicação como a revista Veja. Aqui neste espaço foram inúmeras as vezes que transcrevi as suas célebres frases, e continuarei citando-o.

Aliás, em referência aos meios de comunicação, sobretudo como jornalista e humorista, Millôr foi quem batizou o Jornal Pasquim, tão odiado pela ditadura militar, que acabou sendo fechado por fazer pesadas críticas ao regime e pelos constantes recordes de vendas.

Para homenageá-lo, o melhor é transcrever alguns dos seus célebres aforismos, os que anotei ao longo de muitas leituras, bem como do livro Millôr definitivo.

Abreviação – Palavra comprida para coisa curta.

Abstinência – Não beber é o vício dos abstinentes.

A suprema ambição é não tê-la.

Os banqueiros não perdem por esperar. Ganham.

Animal – Acho que se os animais falassem não seria conosco que iam bater papo.

Ateísmo – É uma espécie de religião em que ninguém acredita.

Autobiografia – Estou escrevendo minha autobiografia. Mas ainda não decidi se vou morrer no fim.

Político é um sujeito que convence todo mundo a fazer uma coisa da qual ele não tem a menor convicção.

Brasil, país do faturo.

Brasil, país do futuro, sempre.

Carioca – Eu sou carioca de algema.

Quando você chega de madrugada em casa e sua mulher nem reclama é porque já é tarde demais.

A cobra é um rabo autossuficiente.

Coerente é o sujeito que nunca teve outra ideia.

Pobre é muito mais barato!

Ética política é o ato de jamais passar alguém pra trás sem antes consultar os companheiros de partido.

O eufemismo é cheio de rodeios.

Tenho certas dúvidas, nenhuma delas certa.

A Justiça é igual pra todos. Aí já começa a injustiça.

Política é a mais antiga das profissões.

A pontualidade é uma longa solidão.

A riqueza não traz felicidade. A pobreza muito menos.

Deus fez o homem. O homem aí construiu uma Igreja e aprisionou Deus.

Quem sofre de insônia não ronca.

A xerox não tem nada de original.

Volta e meia tem alguém que não volta.

Chama-se de herói o caro que não teve tempo de fugir.

Toda lei é boa desde que seja usada legalmente.

Todo homem nasce original e morre plágio.

Um rato não pode ser juiz na partilha de um queijo.

02 de abril de 2012
José Eugênio Maciel

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