A NOVA LUTA DE CLASSES
20 de maio de 2012
Carlos Chagas
Talvez algum sociólogo, quem sabe um cientista político ou um economista, daqui a alguns anos, venha a dedicar tempo e espaço buscando explicar o fenômeno Lula-Dilma. Tanta popularidade fluiria apenas de ações administrativas quase todas corretas e competentes, quer dizer, resultado da aceitação dos dois governos pela maioria? Ou a resposta deve ser buscada no extremo oposto, ou seja, nessa maioria, mais do que nos dois governos?
Podemos estar assistindo a versão moderna da luta de classes, não mais plena de batalhas nas ruas, golpes e sucedâneos, mas um embate igualmente profundo entre as massas e as elites, só que pautado pela não-violência. Marx ficaria insatisfeito se pudesse vislumbrar resultados pacíficos num confronto que em seu tempo só se resolveria pela força.
O Lula deu-se ao luxo de eleger uma candidata desconhecida para sucedê-lo, ainda que jamais para substituí-lo, pela simples razão dele ser ou de ter sido um operário, e ela, não. Um problema para Dilma, que não amealhou um voto sequer por ter sido guerrilheira. Como não teve dificuldades, até agora, em concentrar a mesma popularidade de seu criador, conclui-se que a resposta vem das fábricas e da enxada. A presidente pertence à legião sindicalista que hoje se imagina no poder sob o rótulo do PT. Ou seja, o sucesso da Dilma é uma projeção do Lula.
Realidade ou ilusão, a popularidade da dupla exprime a luta de classes, refletindo-se no sentimento da maioria. Vale o Lula pela imagem criada, o sonho tornado evidência, de que os operários e camponeses, afinal, chegaram lá. E a Dilma, por dar continuidade ao sonho com uma pitada de sisudez, mas sem esquecer o bolsa-família e os novos programas de combate à miséria.
Existem contradições nesse embate milenar entre as massas e as elites. Estas ajeitaram-se com o primeiro-companheiro, que não regateou presenteá-las com benefícios, e agora compõem-se com a sucessora, mas permanecem discriminadas pelos que votam e, por enquanto, decidem.
Cada um dos privilegiados que pesquise o sentimento verdadeiro de suas empregadas domésticas, motoristas, serviçais e trabalhadores humildes. Como dessa dita emergente nova classe média. Ouça os passageiros dos trens suburbanos e do metrô, se conseguirem viajar com eles. No fundo, instintiva e até inconscientemente, está a rejeição às elites. O povão continuará votando a favor do Lula, ou em quem ele indicar, por ser o Lula povão.
O voto fluirá majoritariamente contra os privilegiados, aproximando-se mais um teste nas eleições do ano que vem. Muitos fingem a inexistência desses fatores, uns por esperteza, outros por ressentimento, mas a verdade é que as massas encontraram alguém saído delas para exercer o comando. Pouco importa que se frustrariam caso examinassem a fundo os resultados desses dois governos pretensamente dos humilhados e ofendidos. Mas o fator primordial repousa na luta de classes. Felizmente sem as conturbações do passado. Indaga-se, apenas: até quando?
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“BASTA” E “FORA!”
Ficaram célebres, nos idos de março de 1964, os editoriais do inesquecível “Correio da Manhã”, intitulados “Basta” e “Fora”. O jornal posicionou-se contra o governo João Goulart e apoiou o golpe militar, argumentando contra a sucessão de greves, insegurança econômica e iminência da dita instalação de uma república sindicalista. Errou, é claro, e menos de duas semanas da instalação da ditadura já abria suas colunas para denunciar desmandos, violência e obscurantismo.
Por que se recorda o episódio? Porque está faltando um “Correio da Manhã” para aproveitar os títulos em novos editoriais. Jamais contra o governo, é evidente. Depois de tantos percalços, chegamos a uma democracia.
“Basta” e “Fora” tornam-se necessários para banir de nossa realidade o fantasma que já vem chegando com as eleições de 2012, os execráveis programas de propaganda eleitoral gratuita pelo rádio e a televisão.
Quem deu o direito à Justiça Eleitoral de irromper pelas nossas casas a dentro, obrigatoriamente impingindo espetáculos de baixo nível e comicidade questionável? Tudo bem que em cada cidade ou estado se aproveitasse um canal alternativo de televisão e uma emissora de rádio igualmente facultativa para quantos se dispusessem acompanhar as campanhas eleitorais. Mas à força, não dá. Em vez de informar, desinformam. Mentem como o diabo. E ainda imaginam conquistar votos, quando nem audiência possuem, apesar da falta de opções duas vezes por dia.
Candidatos virão prometendo transformar favelas em bairros. Jamais subiram um morro. Outros garantindo a criação de milhares de postos de saúde, quando nem hospitais decentes existem em número mínimo. Estes vão distribuir gratuitamente todo tipo de remédios. Aqueles acabarão com a violência construindo piscinas. Uns implantarão 400 quilômetros de linhas de metrô, outros varrerão o país de alto a baixo. Cada um que busque múltiplos exemplos de bobagens inomináveis ou de promessas absurdas diante de suas telinhas e alto-falantes. Mas sem obrigação de ver e ouvir.
Podemos estar assistindo a versão moderna da luta de classes, não mais plena de batalhas nas ruas, golpes e sucedâneos, mas um embate igualmente profundo entre as massas e as elites, só que pautado pela não-violência. Marx ficaria insatisfeito se pudesse vislumbrar resultados pacíficos num confronto que em seu tempo só se resolveria pela força.
O Lula deu-se ao luxo de eleger uma candidata desconhecida para sucedê-lo, ainda que jamais para substituí-lo, pela simples razão dele ser ou de ter sido um operário, e ela, não. Um problema para Dilma, que não amealhou um voto sequer por ter sido guerrilheira. Como não teve dificuldades, até agora, em concentrar a mesma popularidade de seu criador, conclui-se que a resposta vem das fábricas e da enxada. A presidente pertence à legião sindicalista que hoje se imagina no poder sob o rótulo do PT. Ou seja, o sucesso da Dilma é uma projeção do Lula.
Realidade ou ilusão, a popularidade da dupla exprime a luta de classes, refletindo-se no sentimento da maioria. Vale o Lula pela imagem criada, o sonho tornado evidência, de que os operários e camponeses, afinal, chegaram lá. E a Dilma, por dar continuidade ao sonho com uma pitada de sisudez, mas sem esquecer o bolsa-família e os novos programas de combate à miséria.
Existem contradições nesse embate milenar entre as massas e as elites. Estas ajeitaram-se com o primeiro-companheiro, que não regateou presenteá-las com benefícios, e agora compõem-se com a sucessora, mas permanecem discriminadas pelos que votam e, por enquanto, decidem.
Cada um dos privilegiados que pesquise o sentimento verdadeiro de suas empregadas domésticas, motoristas, serviçais e trabalhadores humildes. Como dessa dita emergente nova classe média. Ouça os passageiros dos trens suburbanos e do metrô, se conseguirem viajar com eles. No fundo, instintiva e até inconscientemente, está a rejeição às elites. O povão continuará votando a favor do Lula, ou em quem ele indicar, por ser o Lula povão.
O voto fluirá majoritariamente contra os privilegiados, aproximando-se mais um teste nas eleições do ano que vem. Muitos fingem a inexistência desses fatores, uns por esperteza, outros por ressentimento, mas a verdade é que as massas encontraram alguém saído delas para exercer o comando. Pouco importa que se frustrariam caso examinassem a fundo os resultados desses dois governos pretensamente dos humilhados e ofendidos. Mas o fator primordial repousa na luta de classes. Felizmente sem as conturbações do passado. Indaga-se, apenas: até quando?
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“BASTA” E “FORA!”
Ficaram célebres, nos idos de março de 1964, os editoriais do inesquecível “Correio da Manhã”, intitulados “Basta” e “Fora”. O jornal posicionou-se contra o governo João Goulart e apoiou o golpe militar, argumentando contra a sucessão de greves, insegurança econômica e iminência da dita instalação de uma república sindicalista. Errou, é claro, e menos de duas semanas da instalação da ditadura já abria suas colunas para denunciar desmandos, violência e obscurantismo.
Por que se recorda o episódio? Porque está faltando um “Correio da Manhã” para aproveitar os títulos em novos editoriais. Jamais contra o governo, é evidente. Depois de tantos percalços, chegamos a uma democracia.
“Basta” e “Fora” tornam-se necessários para banir de nossa realidade o fantasma que já vem chegando com as eleições de 2012, os execráveis programas de propaganda eleitoral gratuita pelo rádio e a televisão.
Quem deu o direito à Justiça Eleitoral de irromper pelas nossas casas a dentro, obrigatoriamente impingindo espetáculos de baixo nível e comicidade questionável? Tudo bem que em cada cidade ou estado se aproveitasse um canal alternativo de televisão e uma emissora de rádio igualmente facultativa para quantos se dispusessem acompanhar as campanhas eleitorais. Mas à força, não dá. Em vez de informar, desinformam. Mentem como o diabo. E ainda imaginam conquistar votos, quando nem audiência possuem, apesar da falta de opções duas vezes por dia.
Candidatos virão prometendo transformar favelas em bairros. Jamais subiram um morro. Outros garantindo a criação de milhares de postos de saúde, quando nem hospitais decentes existem em número mínimo. Estes vão distribuir gratuitamente todo tipo de remédios. Aqueles acabarão com a violência construindo piscinas. Uns implantarão 400 quilômetros de linhas de metrô, outros varrerão o país de alto a baixo. Cada um que busque múltiplos exemplos de bobagens inomináveis ou de promessas absurdas diante de suas telinhas e alto-falantes. Mas sem obrigação de ver e ouvir.
20 de maio de 2012
Carlos Chagas
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