Já nos primeiros minutos do emocionado discurso que pronunciou na cerimônia de instalação da Comissão da Verdade, quarta-feira, a presidente Dilma Rousseff apresentou uma curiosidade filológica surpreendente:
“A palavra ‘verdade’, na tradição grega ocidental, é exatamente o contrário da palavra ‘esquecimento’”, disse ela. “É memória e é História. É a capacidade humana de contar o que aconteceu.”
Será mesmo? Diga-se, a bem da verdade, que a palavra verdade nunca significou, em termos filosóficos, exatamente o contrário de esquecimento na “tradição grega ocidental”, mas de fato existe uma verdade etimológica profunda na afirmação da presidente.
Nosso vocábulo verdade veio no século 13 do latim veritatis, mas o termo grego que os latinos traduziam por essa palavra era etimologicamente bem distinto:
na língua de Platão (foto), aletheia carregava sobretudo a ideia de desvelamento, de descoberta, de retirada do véu da aparência para revelar aquilo que verdadeiramente é.
E o que a memória tem a ver com isso? Na mitologia grega, chamava-se Lete o “rio do esquecimento”, que provocava a perda de memória em quem bebesse de sua água. Aletheia (de a + lethe) era, na origem, a negação dessa amnésia, e portanto a afirmação da memória, provavelmente entendida como o próprio fundamento da razão.
Como lembra o filósofo catalão José Ferrater Mora, “o sentido primário da verdade como aletheia não é (…) mera descoberta ou patenteamento, mas, sobretudo, a manifestação da recordação”.
20 de maio de 2012
Sérgio Rodrigues
“A palavra ‘verdade’, na tradição grega ocidental, é exatamente o contrário da palavra ‘esquecimento’”, disse ela. “É memória e é História. É a capacidade humana de contar o que aconteceu.”
Será mesmo? Diga-se, a bem da verdade, que a palavra verdade nunca significou, em termos filosóficos, exatamente o contrário de esquecimento na “tradição grega ocidental”, mas de fato existe uma verdade etimológica profunda na afirmação da presidente.
Nosso vocábulo verdade veio no século 13 do latim veritatis, mas o termo grego que os latinos traduziam por essa palavra era etimologicamente bem distinto:
na língua de Platão (foto), aletheia carregava sobretudo a ideia de desvelamento, de descoberta, de retirada do véu da aparência para revelar aquilo que verdadeiramente é.
E o que a memória tem a ver com isso? Na mitologia grega, chamava-se Lete o “rio do esquecimento”, que provocava a perda de memória em quem bebesse de sua água. Aletheia (de a + lethe) era, na origem, a negação dessa amnésia, e portanto a afirmação da memória, provavelmente entendida como o próprio fundamento da razão.
Como lembra o filósofo catalão José Ferrater Mora, “o sentido primário da verdade como aletheia não é (…) mera descoberta ou patenteamento, mas, sobretudo, a manifestação da recordação”.
20 de maio de 2012
Sérgio Rodrigues
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