"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 20 de maio de 2012

MONGES MEDIEVAIS RECLAMAVAM NAS MARGENS DE MANUSCRITOS


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Eles faziam pequenos rabiscos ou comentários descontraídos nas margens dos manuscritos (Reprodução/io9)
'Ai minha mão' e 'Agora eu escrevi a coisa toda: pelo amor de Deus me dê uma bebida' são alguns dos desabafos dos religiosos    

Os monges medievais eram os trabalhadores entediados de sua época, passando horas a fio copiando manuscritos em cadeiras desconfortáveis e salas geladas. Para se divertir, eles às vezes faziam pequenos rabiscos ou comentários descontraídos nas margens dos manuscritos que estavam copiando. Na nova edição da Lapham’s Quarterly, o autor Colin Dickey explica essas admoestações:

“Com suas reclamações rabugentas – “Estou com muito frio”, “Ai, minha mão” – eles se inserem nos textos sagrados e frequentemente, no processo, perturbam a santidade do trabalho que eles estão supostamente copiando: “Agora eu escrevi a coisa toda: pelo amor de Deus me dê uma bebida.”
Essas interjeições adoráveis e joviais repesentam apenas uma pequena amostra da expressão que pode ser encontrada em manuscritos medievais.

Como Michael Camille documenta em Images on the Edge: The Margins of Medieval Art, é nesses comentários marginais que aprendemos sobre o mundo medieval tanto quanto – se não mais – do que nos textos em si. A marginalia pode inclur comentários como esses dos nossos monges infelizes, mas também uma enorme variedade de floreios artísticos e rabiscos.
Aqui está uma série das melhores notas marginais reunidas pela Lapham’s Quarterly.

Notas em manuscritos feitas por escribas e copistas medievais

Pergaminho novo, tinta vagabunda. Não digo mais nada.
Estou com muito frio.
Esta é um página difícil e um trabalho de leitura cansativa.
Que seja permitido que a voz do leitor honre a pena do escritor.
Esta página não foi escrita muito lentamente.
Esse pergaminho está peludo.
A tinta está rala.
Graças a Deus, em breve anoitecerá.
Ai minha mão.
Agora eu escrevi a coisa toda: pelo amor de Deus me dê uma bebida.
Escrever é um trabalho entediante. Encurva as costas, estraga a visão e embrulha o estômago.
São Patrício de Armagh, me salve da escrita.
Enquanto eu escrevi eu congelei, e o que eu não consegui escrever à luz do sol, eu escrevi à luz de velas.
Assim como o porto é bem vindo ao marinheiro, a última linha também o é para o escriba.
Isso é triste! Ó pequenino livro! Chegará o dia quando alguém abrirá esta página e dirá, “Essa mão que escreveu isso já não é mais”.

 
20 de maio de 2012
opinião e notícia

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