"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 20 de maio de 2012

"DIÁRIO DA CORTE"


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Francis morreu em Nova York, em fevereiro de 1997 (Reprodução/Fernando Pimentel)
‘Diário da Corte’ reúne artigos de um polemista audacioso

Coletânea destaca trajetória política do jornalista Paulo Francis e reproduz suas polêmicas mais famosas     


“Os melhores não têm convicção alguma, enquanto os piores estão cheios de intensidade passional.” W. B. Yeats citado por Paulo Francis em coluna de 30.8.1990.

Paulo Francis iniciou sua carreira jornalística como crítico de teatro no final dos anos 1950. Estreou como comentarista político na década de 1960, quando trabalhou no Última Hora e ajudou a criar O Pasquim, marco da imprensa alternativa brasileira. Mudou-se para Nova York em 1971 e, quatro anos depois, começou a escrever para a Folha de S. Paulo, onde assinou a coluna “Diário da corte”. É autor de Cabeça de papel, Cabeça de negro, O afeto que se encerra, Filhas do segundo sexo e Carne viva.
Diário da corte: Paulo Francis, edito
ra Três Estrelas, 407 páginas, R$ 59,90, com apresentação e organização de Nelson de Sá e posfácio de Luiz Felipe Pondé, reúne artigos do polemista mais audacioso da história recente da imprensa brasileira publicados pela Folha de S. Paulo, de 1975 a 1990.

Apesar de seu “ceticismo compulsivo e obsessivo”, como descreveu a si mesmo em 1980, não houve um tema importante que ele não tivesse abordado ao longo dos quinze anos em que trabalhou como jornalista da Folha, da política norte-americana no pós-Watergate à literatura de John Updike, da emergência da Aids ao cinema de Woody Allen, ao assassinato de John Lennon. Além da crítica à política e à sociedade norte-americana, o socialismo era seu tema obsessivo. Na crônica “A Revolução Bolchevique — sessenta anos de Lênin, Trótski e Stálin” escrita em 6.11.1997, ele critica, por exemplo, a proibição da formação de facções proposta por Lênin, de que se valeria Stálin mais tarde para esmagar todas as oposições.

Suas críticas contundentes na década de 1980 voltaram-se para a elite da política e da cultura do Brasil, como José Guilherme Merquior e Antonio Candido, Chico Buarque e Caetano Veloso, a quem chamou de “Caetano, pajé doce e maltrapilho” na crônica publicada em 26.1.1983. Roberto Campos foi alvo de seus ataques e até insultos durante dez anos. Mas em fevereiro de 1985 sua opinião mudou radicalmente, quando escreveu o artigo “O guerreiro Roberto Campos” e desculpou-se dizendo “escrevi coisas brutais sobre Campos. Retiro-as”.

No final da década de 1970, Francis defendeu o líder metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, que fora condenado à prisão. Mais tarde, tratou Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT) com crescente repulsa. No início simpático a Fernando Henrique Cardoso, com o tempo também o repudiou, dizendo não ver nele “uma pessoa séria”. Sua personalidade controvertida levou-o a se aproximar de Fernando Collor e o defendeu mesmo depois do sequestro da poupança e da invasão da Folha pela Polícia Federal dois meses após sua posse.

Paulo Francis morreu em Nova York, em fevereiro de 1997 de ataque cardíaco, em meio a um processo movido por diretores da Petrobras que ele acusara de ter contas na Suíça.
Os artigos reunidos neste livro mostram as diferentes fases de Francis, destacam sua trajetória política da esquerda para a direita e reproduzem as polêmicas mais famosas em que esse crítico erudito da cultura e analista político implacável envolveu-se.

20 de maio de 2012
Marisa Motta

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