Vaccarezza mostrou que no peito de assassinos da verdade também bate um coração: ‘Você é nosso e nós somos teu’
A mensagem enviada por Cândido Vaccarezza a Sérgio Cabral, interceptada pelo SBT, é sobretudo um caso de polícia: o deputado federal do PT promete ao parceiro do PMDB que Fernando Cavendish não será interpelado na CPI do Cachoeira sobre as relações mais que perigosas entre a Delta e o governador do Rio. A promessa foi cumprida na mesma quinta-feira (com a ajuda do PSDB, interessado em salvar a pele de Marconi Perillo). Cabral pode dormir tranquilo e desfrutar sem sobressaltos das noitadas em Paris. A Turma do Guardanapo escapou de mais uma.
A prova material do crime não se limita a reiterar que o parlamentar paulista trata a pontapés os valores morais, as normas éticas, os bons costumes e o Código Penal. Como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o recado cafajeste também desmascara um impiedoso inimigo da língua portuguesa. O sumiço dos dois pontos entre preocupe e você, por exemplo, denuncia o torturador da gramática. E a amputação do s na última palavra do “nós somos teu” avisa que Vaccarezza juntou-se ao chefe Lula na guerra de extermínio movida contra o plural.
Não é pouca coisa. E não é tudo. A menção ao PMDB revela que o acasalamento do PT com o maior partido da base alugada atravessa outra zona de turbulência. Em contrapartida, o tom do recado confirma que a seita já não considera obrigatório o casamento consanguíneo. Até a descoberta do mensalão, os devotos só podiam manter relacionamentos afetivos com gente do rebanho. Transferida do templo das vestais de araque para o bordel da base alugada, a companheirada foi liberada para cair na farra com qualquer parceiro.
Antes do escândalo do mensalão, Vaccarezza não escaparia da expulsão sumária por ter cometido dois crimes hediondos: adultério interpartidário e violação do primeiro mandamento da seita, enunciado de meia em meia hora por José Dirceu: “O PT não róba e não deixa robá”. Agora rouba e deixa roubar. Defeito virou virtude. Não existe pecado do lado de baixo do Equador. Só é feio perder eleição. E bandidos de estimação não podem ser sequer convidados a explicar-se em CPIs.
Nesta sexta-feira, Vaccarezza nem ficou ruborizada com a descoberta de que no peito da bandidagem também bate um coração. Tranquilo como todos os condenados à impunidade, acariciou o PMDB com uma imaginosa reinterpretação da mensagem. “Vai azedar, podia azedar… ali foi um momento de irritação meu”, fantasiou. E se negou a discutir a relação com Cabral. “Eu não quero declarar. Isso é uma correspondência privada. Eu não vou contribuir para mostrar a outra parte da conversa. É uma correspondência privada entre duas pessoas”.
“Bonito, o amor”, resumiria o grande Zózimo Barroso do Amaral na legenda sob a foto da dupla. Os velhos jornais sensacionalistas repetiriam a manchete politicamente incorretíssima: PACTO DE MORTE ENTRE ANORMAIS. Como o Brasil já não se surpreende com nada, Vaccarezza foi castigado com um sic depois teu. E sentiu-se à vontade para celebrar o assassinato da CPI com outro afago no melhor amigo do parceiro. “Aquela foto foi editada, a dos lenços na cabeça”, mentiu o comparsa de Fernando Cavendish. “Aparece uma mão que ninguém sabe de quem é. Eu sei o que tem nas fotos inteiras, mas não vou falar também”.
Vaccarezza é de Cabral, que é de Cavendish, que é da Turma do Guardanapo, que é a cara do Brasil que perdeu a vergonha. Merece um convite para a próxima noitada em Paris. Se ainda não tiver recebido a carteirinha de sócio, entra como acompanhante.
20 de maio de 2012
Augusto Nunes
Veja
A mensagem enviada por Cândido Vaccarezza a Sérgio Cabral, interceptada pelo SBT, é sobretudo um caso de polícia: o deputado federal do PT promete ao parceiro do PMDB que Fernando Cavendish não será interpelado na CPI do Cachoeira sobre as relações mais que perigosas entre a Delta e o governador do Rio. A promessa foi cumprida na mesma quinta-feira (com a ajuda do PSDB, interessado em salvar a pele de Marconi Perillo). Cabral pode dormir tranquilo e desfrutar sem sobressaltos das noitadas em Paris. A Turma do Guardanapo escapou de mais uma.
A prova material do crime não se limita a reiterar que o parlamentar paulista trata a pontapés os valores morais, as normas éticas, os bons costumes e o Código Penal. Como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o recado cafajeste também desmascara um impiedoso inimigo da língua portuguesa. O sumiço dos dois pontos entre preocupe e você, por exemplo, denuncia o torturador da gramática. E a amputação do s na última palavra do “nós somos teu” avisa que Vaccarezza juntou-se ao chefe Lula na guerra de extermínio movida contra o plural.
Não é pouca coisa. E não é tudo. A menção ao PMDB revela que o acasalamento do PT com o maior partido da base alugada atravessa outra zona de turbulência. Em contrapartida, o tom do recado confirma que a seita já não considera obrigatório o casamento consanguíneo. Até a descoberta do mensalão, os devotos só podiam manter relacionamentos afetivos com gente do rebanho. Transferida do templo das vestais de araque para o bordel da base alugada, a companheirada foi liberada para cair na farra com qualquer parceiro.
Antes do escândalo do mensalão, Vaccarezza não escaparia da expulsão sumária por ter cometido dois crimes hediondos: adultério interpartidário e violação do primeiro mandamento da seita, enunciado de meia em meia hora por José Dirceu: “O PT não róba e não deixa robá”. Agora rouba e deixa roubar. Defeito virou virtude. Não existe pecado do lado de baixo do Equador. Só é feio perder eleição. E bandidos de estimação não podem ser sequer convidados a explicar-se em CPIs.
Nesta sexta-feira, Vaccarezza nem ficou ruborizada com a descoberta de que no peito da bandidagem também bate um coração. Tranquilo como todos os condenados à impunidade, acariciou o PMDB com uma imaginosa reinterpretação da mensagem. “Vai azedar, podia azedar… ali foi um momento de irritação meu”, fantasiou. E se negou a discutir a relação com Cabral. “Eu não quero declarar. Isso é uma correspondência privada. Eu não vou contribuir para mostrar a outra parte da conversa. É uma correspondência privada entre duas pessoas”.
“Bonito, o amor”, resumiria o grande Zózimo Barroso do Amaral na legenda sob a foto da dupla. Os velhos jornais sensacionalistas repetiriam a manchete politicamente incorretíssima: PACTO DE MORTE ENTRE ANORMAIS. Como o Brasil já não se surpreende com nada, Vaccarezza foi castigado com um sic depois teu. E sentiu-se à vontade para celebrar o assassinato da CPI com outro afago no melhor amigo do parceiro. “Aquela foto foi editada, a dos lenços na cabeça”, mentiu o comparsa de Fernando Cavendish. “Aparece uma mão que ninguém sabe de quem é. Eu sei o que tem nas fotos inteiras, mas não vou falar também”.
Vaccarezza é de Cabral, que é de Cavendish, que é da Turma do Guardanapo, que é a cara do Brasil que perdeu a vergonha. Merece um convite para a próxima noitada em Paris. Se ainda não tiver recebido a carteirinha de sócio, entra como acompanhante.
20 de maio de 2012
Augusto Nunes
Veja
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