E o caso curioso do navio que abandona os ratos
“(…) A organização criminosa comanada pelo contraventor Carlos Cachoeira atuava dentro das estruturas do Estado de Goiás, governado por Marconi Perillo, espalhando seus tentáculos nas instituições dos poderes constituídos de outros estados do Brasil.
Os fatos revelados pelas citadas operações da PF reforçam a urgência de reformas de fundo no sistema político e nas instituições nacionais, especialmente o financiamento público das campanhas eleitorais, com mais fiscalização e transparência em todas as esferas da política. A CPMI, ao levar a bom termo sua missão, dará sua contribuição ao incessante combate à corrupção travado pelos presidentes Lula e Dilma.”
Uma das mentiras do PT em sua resolução é atribuir ao financiamento privado de campanha a lambança do esquema Cachoeira-Delta. Mesmo que fosse público, o que impediria o grupo de fazer o que fez? Estivesse o Tesouro a arcar com o custo das eleições (indiretamente, em período eleitoral, mais de R$ 600 milhões vão para os partidos), a Delta, com seus métodos, não seria a campeã das obras do PAC, por exemplo? O financiamento público, como quer o PT, só vai aumentar o assalto ao erário sem coibir minimamente o caixa dois. Aliás, qualquer pessoa que tenha frequentado o nível “Massinha I” das aulas de lógica vai concluir que, garantida a impunidade (como querem muitos na CPI) e proibidas as doações privadas, os ditos “recursos não contabilizados” vão é aumentar, certo? Ou os lobistas, movidos pelo mais severo civismo, decidirão: “Não, gente! Agora há financiamento público de campanha. Vamos ficar fora das eleições”?.
Não foi a única vigarice da resolução. Num outro trecho, que vem destacado em negrito no original, encontramos estas belas palavras:
“É fundamental mobilizarmos a sociedade em defesa de uma ampla apuração de todas as denúncias relatadas nas operações da PF, bem como de todas as ramificações da organização criminosa, doa a quem doer, pois ninguém, seja na área pública ou privada, pode situar-se acima da lei. Entre as denúncias que precisam ser apuradas a partir de elementos probatórios em mãos da CPMI estão as relações entre o crime organizado e alguns órgãos de imprensa. O que está em jogo é a apuração de fatos criminosos, não os ataques à liberdade de expressão, como tentam confundir setores da mídia conservadora. Quanto aos meios de comunicação, reafirmamos a resolução aprovada no 4º. Congresso do PT: “Para nós, é questão de princípio repudiar, repelir e barrar qualquer tentativa de censura ou restrição à liberdade de imprensa”.
Uma ova! Questão de princípio nunca foi. Quiseram expulsar um correspondente estrangeiro que contou uma grande mentira, não é? Lula gosta de umas cachaças. Tentaram impor o Conselho Federal de Jornalismo — que, na prática, funcionaria como um Conselho de Censura, com poderes até para cassar licença de jornalista. Propuseram mecanismos explícitos de controle da informação no Plano Nacional (Socialista) de Direitos Humanos. Já tinham apresentando proposta semelhante na Conferência de Comunicação. A verdadeira questão de princípio do petismo é outra: é controlar a imprensa.
Por Reinaldo Azevedo
Na quinta-feira, dia 17, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), membro da CPI do Cachoeira, violentou a língua e o decoro e mandou aquela mensagem ao governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio, que já se tornou um clássico: “A relação com o PMDB vai azedar na CPI. Mas não se preocupe, você é nosso, e nós somos teu”. Vai figurar nos próximos livros aprovados pelo MEC, ao lado de “nós pega os peixe, mas proteje (com “j”, claro!!!) os tubarão”. No dia seguinte, o Diretório Nacional do PT, reunido em Porto Alegre, aprovou uma “Resolução Política”. Pode-se ler o seguinte trecho:
“(…) A organização criminosa comanada pelo contraventor Carlos Cachoeira atuava dentro das estruturas do Estado de Goiás, governado por Marconi Perillo, espalhando seus tentáculos nas instituições dos poderes constituídos de outros estados do Brasil.
Os fatos revelados pelas citadas operações da PF reforçam a urgência de reformas de fundo no sistema político e nas instituições nacionais, especialmente o financiamento público das campanhas eleitorais, com mais fiscalização e transparência em todas as esferas da política. A CPMI, ao levar a bom termo sua missão, dará sua contribuição ao incessante combate à corrupção travado pelos presidentes Lula e Dilma.”
A resolução, por óbvio, não fala em Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, e em Sérgio Cabral. Enquanto era redigida, PT e PMDB acertavam os ponteiros para tirar a Delta nacional e Fernando Cavendish do centro das investigações. Também ao ainda dono da Delta se poderia disparar um torpedo: “Não se preocupe; você é nosso, e nós somos teu”. A edição da VEJA desta semana explicou os cuidados com o empresário: ele mandou alguns emissários seus recomendar prudência aos digníssimos parlamentares e partidos. Segundo contas que circulam em seu mundo, a Delta doou R$ 100 milhões para campanhas eleitorais nos últimos anos. E tudo por aquele método consagrado pelo grande moralista Delúbio Soares: “recursos não contabilizados”.
Mas, como diria aquele príncipe chatinho, o essencial no trecho acima da resolução é quase invisível aos olhos. Notem que, a exemplo do que fez com o mensalão, o PT está a considerar que as safadezas do esquema Delta-Cachoeira também se limitam a caixa dois de campanha. E aproveita para voltar à tese vigarista do financiamento público. Pela ordem: há, sim, caixa dois de campanha, e os emissários de Cavendish resolveram lembrar isso a alguns “patriotas”. Mas é evidente que não há só isso (como se fosse pouco!). Há indícios de superfaturamento, de licitações de meia-tigela, de pagamento de propina pura e simples… de ASSALTO AOS COFRES PÚBLICOS.
Uma das mentiras do PT
Uma das mentiras do PT em sua resolução é atribuir ao financiamento privado de campanha a lambança do esquema Cachoeira-Delta. Mesmo que fosse público, o que impediria o grupo de fazer o que fez? Estivesse o Tesouro a arcar com o custo das eleições (indiretamente, em período eleitoral, mais de R$ 600 milhões vão para os partidos), a Delta, com seus métodos, não seria a campeã das obras do PAC, por exemplo? O financiamento público, como quer o PT, só vai aumentar o assalto ao erário sem coibir minimamente o caixa dois. Aliás, qualquer pessoa que tenha frequentado o nível “Massinha I” das aulas de lógica vai concluir que, garantida a impunidade (como querem muitos na CPI) e proibidas as doações privadas, os ditos “recursos não contabilizados” vão é aumentar, certo? Ou os lobistas, movidos pelo mais severo civismo, decidirão: “Não, gente! Agora há financiamento público de campanha. Vamos ficar fora das eleições”?.
Impunidade, sem-vergonhice e leis frouxas é que estimulam a fraude. O ex-senador democrata John Edwards, dos Estados Unidos, corre o risco de pegar bem uns 15 anos de cadeia caso fique provado, como tudo indica, que pagou pensão a uma filha que teve fora do casamento e à mãe da menina com recursos arrecadados para campanha política. Entenderam o ponto? O financiamento de candidaturas nos EUA é privado, mas o sujeito não pode fazer o que bem entende com o dinheiro. A Justiça funciona, e a sociedade não aceita lambança. No Brasil, o petismo quer coibir o caixa dois incentivando o… caixa dois!
Não foi a única…
Não foi a única vigarice da resolução. Num outro trecho, que vem destacado em negrito no original, encontramos estas belas palavras:
“É fundamental mobilizarmos a sociedade em defesa de uma ampla apuração de todas as denúncias relatadas nas operações da PF, bem como de todas as ramificações da organização criminosa, doa a quem doer, pois ninguém, seja na área pública ou privada, pode situar-se acima da lei. Entre as denúncias que precisam ser apuradas a partir de elementos probatórios em mãos da CPMI estão as relações entre o crime organizado e alguns órgãos de imprensa. O que está em jogo é a apuração de fatos criminosos, não os ataques à liberdade de expressão, como tentam confundir setores da mídia conservadora. Quanto aos meios de comunicação, reafirmamos a resolução aprovada no 4º. Congresso do PT: “Para nós, é questão de princípio repudiar, repelir e barrar qualquer tentativa de censura ou restrição à liberdade de imprensa”.
Como? É uma pena para o PT e uma sorte para o Brasil que os petistas não possam enviar a seguinte mensagem à imprensa independente: “Você é nossa, e nós somos teus” (corrijo a língua de Vaccarezza, já que é impossível corrigir os hábitos). Dado o espetáculo que se ensaia na CPI, os petistas resolveram — e quem está surpreso? — atacar o jornalismo!!! “Relação entre o crime organizado e alguns órgãos de imprensa?” Quais? Jornalistas que se prezam recorrem, sim, muitas vezes, a fontes do submundo — com o qual alguns políticos fazem negócios, inclusive os do PT — para denunciar o assalto aos cofres públicos. Querer intimidar a imprensa é fazer o jogo dos bandidos… Não! Errei! Q
uerer intimidar a imprensa é trabalho de bandido que se beneficia dessa promiscuidade.
Recorrendo às mesmas acusações que Goebbels fazia à “imprensa dos judeus” na Alemanha hitlerista, o PT deixa claro que quer perseguir apenas o mau jornalismo, sem agredir a liberdade de imprensa. Ah, bom! E qual é o “mau jornalismo”? Necessariamente aquele que denuncia também as falcatruas de petistas. Ora, se fosse bom, só exaltaria as qualidades do petismo, certo?
Como cinismo é matéria farta por ali, retomam afirmação de um texto anterior e mandam ver:
“Para nós, é questão de princípio repudiar, repelir e barrar qualquer tentativa de censura ou restrição à liberdade de imprensa”.
Uma ova! Questão de princípio nunca foi. Quiseram expulsar um correspondente estrangeiro que contou uma grande mentira, não é? Lula gosta de umas cachaças. Tentaram impor o Conselho Federal de Jornalismo — que, na prática, funcionaria como um Conselho de Censura, com poderes até para cassar licença de jornalista. Propuseram mecanismos explícitos de controle da informação no Plano Nacional (Socialista) de Direitos Humanos. Já tinham apresentando proposta semelhante na Conferência de Comunicação. A verdadeira questão de princípio do petismo é outra: é controlar a imprensa.
Não podendo impor a censura (não por enquanto), o partido atua na outra ponta. Por intermédio do governo e de estatais (com o nosso dinheiro!), financia revistas, blogs, sites e TV que praticam um troço semelhante ao jornalismo — está para o setor como o uísque paraguaio está para um scotch. Pode não parecer, mas se trata de uma agressão não só à imprensa: também ao regime democrático e ao estado de direito! Quando o logotipo de um banco estatal ilustra uma página cujo propósito é atacar a oposição — um trabalho partidário — e instituições da República, o que se tem é apropriação de dinheiro de todos para defender as causas de um grupo. É de uma obviedade escandalosa!
Falhou mais uma tentativa de intimidar o jornalismo. Os que insistem nessa tecla começam a falar sozinhos, abraçados a seu rancor. Assistiu-se, assim, a um caso curioso em que navio acabou abandonando os ratos.
20 de maio de 2012
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