Carlinhos
Cachoeira perdeu a vontade de viver. Está extremamente deprimido, muito chateado
mesmo. Quem deu essa notícia triste foi a noiva do “empresário da contravenção".
Andressa Cachoeira. A mesma que dois meses atrás dava risadas, dizendo que seu
amado conquistara muita gente por ser “uma pessoa encantadora”. Na época, a musa
dos caça-níqueis fazia planos para o casamento assim que Cachoeira saísse da
prisão. Hoje o casal não parece mais tão feliz.
O que mudou,
afinal?
Aparentemente,
nada. Carlinhos continua preso, Andressa continua linda, e o patrimônio
milionário dos Cachoeiras, construído com o suor dos políticos comprados,
continua intacto no laranjal da família. O que estará azedando esse conto de
fadas do Cerrado? Ao que tudo indica, a culpa é da CPI.
Quando todos
os holofotes estavam apontados para a Comissão que investiga as obras completas
do bicheiro, estava tudo bem. Com o Brasil inteiro olhando para o escândalo, os
clientes de Cachoeira tremiam em seus gabinetes.
O risco a seus mandatos e
pescoços recomendava um olhar carinhoso para com Carlinhos, garantindo-lhe
tratamento republicano com a grife de Márcio Thomaz Bastos, o padroeiro das
causas malcheirosas.
Era um tempo de otimismo, com governantes e parlamentares
suando frio, e a sensação de que a qualquer momento um habeas corpus mágico do
doutor Márcio acabaria com aquele constrangimento todo.
Como chegou a ponderar
Andressa “ninguém está livre de ser preso” - ou seja, era um mero incidente a
superar, para o bem de todos (os sócios).
Mas algo deu
errado. O Brasil, entediado, mudou de novela. Preferiu os pilantras de Avenida
Brasil e os charlatões da Rio+20. Abandonada pelo público, a CPI ficou à vontade
para embromar sem culpa. Aliviou o ex-dono da Delta, barrou sua convocação
tranquilamente, enquanto a plateia assistia ao teatro da salvação do planeta no
Rio de Janeiro.
Os depoimentos de Fernando Cavendish e Luiz Antonio Pagot
(ex-diretor do Dnit) ficaram para depois das férias, depois das Olimpíadas,
depois do início da campanha eleitoral - enfim, ficaram para depois, como se o
desfile da Mangueira fosse marcado para Quarta-Feira de Cinzas.
Carlinhos não
merecia isso. Com a queda vertiginosa da CPI no ibope, seus companheiros no
Congresso e nos palácios descobriram que a farra pode sair mais barata do que
parecia. Se o Brasil não está nem aí, eles também não estão.
Cachoeira começou a
entender que pode mofar onde está. Daqui a pouco o comando da República popular
desloca Thomaz Bastos para refrescar outro aloprado, e a jovem Andressa
perceberá que ninguém está livre de continuar preso. A essa altura, talvez nem a
Playboy a queira mais.
Como rei morto
é rei posto, Adriano Aprígio, o ex-cunhado de Carlinhos e um de seus principais
testas de ferro, já caiu também. Foram descobertos e-mails enviados de sua casa
á procuradora Léa Batista de Oliveira, uma das denunciantes do bicheiro, em tom
não muito educado: “Sua vadia, ainda vamos te pegar. Cuidado, você e sua família
correm perigo”.
A prisão de Aprígio, um dos guardiões do patrimônio dos
Cachoeiras, fez Carlinhos passar mal na cadeia, como revelou sua noiva,
consternada: “Ele desmaiou. O diretor pegou, levou ele para a sala do diretor.
Ele passou muito mal, muito mal mesmo”.
É comovente
ver um homem que tanto fez por tanta gente sofrendo assim. Sozinho, com as
noticias terríveis que recebe na cadeia. Neste momento de dor, vai aqui um
conselho ao torturado réu: nobre empresário da contravenção, pare de esperar
pela providência dos falsos companheiros. Acabe você mesmo com a solidão.
Agora.
Faça como
Roberto Jefferson: aperte o botão vermelho. Conte quem no governo federal mandava
proteger a Delta e aprovar todos os acréscimos de contrato que a construtora
espetava no PAC. Explique resumidamente como esse dinheiro saía do governo e
voltava para as campanhas dos políticos aliados ao governo, passando por suas
empresas de fachada.
Acorde, senhor
Cachoeira. Seus amigos palacianos vão esquecê-lo nesse cubículo. Seus esquemas
serão refeitos com outro despachante mais esperto. Entregue esses parasitas com
crachás de revolucionários. O Brasil lhe será eternamente grato.
Guilherme
Fiuza é jornalista. Publicou livros Meu nome não é Johnny, que deu origem ao
filme 3.000 dias no bunker e Amazônia, 20º andar. Escreve quinzenalmente em
Época.
16 de julho de 2012
Guilherme Fiuza, ÉPOCA
Nenhum comentário:
Postar um comentário