"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 16 de julho de 2012

A ECONOMIA E A "SÍNDROME DO DESLOCAMENTO DE CADERNO"

Vocês certamente já ouviram falar no Mário Rosa. É um jornalista com larga vivência em redações que hoje ganha a vida como consultor em crises de imagem. Escreveu já três livros e tornou-se um requisitado especialista sempre que alguém muito importante atravessa períodos de turbulência perante a opinião pública.

Em seu primeiro livro, Mário Rosa descreve o que chama de "Síndrome do Deslocamento de Caderno". Como já faz algum tempo que o li, pode ser que não consiga reproduzir exatamente suas assertivas. Mas a tal síndrome seria um dos indicadores de que algo vai mal em relação à imagem pública de quem, de uma hora para outra, passa a figurar no noticiário em editorias diferentes daquelas onde é citado normalmente.

É assim: se uma empresa costuma frequentar o caderno de negócios dos jornais, logo terá problemas se passar a figurar no de política ou, pior ainda, no noticiário policial. É mau-agouro.

Bem, dito isso, entro no assunto que queria abordar: a economia.
Já há algumas semanas a economia brasileira vem ocupando cada vez mais espaço nos cadernos de política. Seria a tal "Síndrome do Deslocamento de Caderno" descrita por Mário Rosa ?

As notícias não são boas. Redução do PIB, frustração de expectativas, desemprego incipiente. A GM fechando uma unidade aqui, metalúrgicas que se transformam em importadoras de concorrentes chineses. A coisa não vai bem.

E por que não vai bem ? Não vai bem basicamente porque a Europa faliu e a China, seu principal fornecedor, não tem a quem exportar tudo o que produz. Não tendo a quem vender, não tem por que comprar. É aí que a vaca da nossa felicidade vai caminhando para o brejo. Somos bons fornecedores de matéria-prima para a indústria chinesa.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concedeu uma longa entrevista para as Páginas Amarelas de Veja esta semana. Foi ao fulcro do problema. Ao longo da era petista, o governo focou no consumo, e não na produção. Agora, faltam-nos condições de competitividade para enfrentar a predatória concorrência global.

O ex-presidente não disse, talvez porque isso poderia parecer um elogio a seus contendores, mas o Brasil conseguiu aguentar o tranco da crise inaugurada em 2008 com o vigor de seu mercado interno.
Agora, no entanto, ele não parece ser suficiente para fazer girar a roda virtuosa da economia. Os pátios das fábricas estão lotados.
Endividada, a população não tem como comprar carros em número suficiente para assegurar a continuidade da produção nas linhas de montagem. O mesmo ocorre em outros segmentos da economia.

A nova classe média, que cravou conquistas importantes nos últimos anos, vê-se ameaçada de perder a TV de LED para o credor, o carro para a financeira e o emprego para a crise.
E, para quem já teve um dia, a perda de algo pode ser muito mais dolorida.
Com o deslocamento da economia para a editoria de política, resta apenas saber quanto tempo a população vai levar para perceber o efeito previsto por Mário Rosa.

Num ano eleitoral como este, pode ser que ele já esteja começando a se manifestar nos índices risíveis dos candidatos petistas que, a despeito do patrono Lula, não conseguem sair da vala dos nanicos.
É o caso de Fernando Haddad, a maior aposta -- e também de maior risco -- do ex-presidente Lula.

16 de julho de 2012
Fábio Pannunzio

Nenhum comentário:

Postar um comentário