2,4 milhões de universitários quase alfabetizados e 255 mil quase analfabetos! Tudo com o seu dinheiro!
Cabe a este governo (não está fazendo isso também!) e aos próximos corrigir a herança maldita de Lula. Não dá para saber o volume de recursos necessários para dotar as federais da infraestrutura adequada. A relação do poder público com instituições privadas tem de mudar, mas se trata de uma operação delicada porque o Estado brasileiro, por intermédio do ProUni, se transformou num comprador e repassador de vagas se cursos de baixa performance, levados adiante apenas na base da saliva. A demanda é grande e passou a se confundir com um dos “direitos básicos” da população. E agora?
Por Reinaldo Azevedo
18 de julho de 2012
A herança maldita da dupla Luiz Inácio Apedeuta da Silva-Fernando Haddad no ensino superior não será vencida no curto prazo. Marcará o setor por muitos anos porque certas armadilhas não serão facilmente desmontadas, especialmente aquelas que juntam o populismo à incompetência. É evidente que já havia problemas no ensino superior antes de o PT chegar ao poder. Mas eles se tornaram mais agudos, e a solução ficou mais distante porque, como sempre, Lula empenhou também o futuro em suas não-soluções.
A crise que toma conta das universidades federais, em greve há 60 dias, decorre não do crescimento da área ou das “dores do parto”, no clichê dramático do ministro Aloizio Mercadante. Decorre do inchaço irresponsável. Era preciso pôr mais alunos da universidade pública federal? Digamos que sim. Mas forçoso seria fazê-lo com qualidade, ou haveria o que antevi há alguns anos: a “supletivização” do ensino universitário, uma espécie, assim, de “Madureza” (lembram-se dela?) do terceiro grau. Ela está aí.
Dada a realidade salarial do Brasil, os professores (ver post anterior) estão longe de viver uma situação miserável. Cumpre, também, não absolutizar, se me permitem a palavra, a pauta de reivindicações, mas é evidente que os problemas que aí estão decorrem na falta de planejamento, da pressa e do atabalhoamento. Lula e Haddad trabalharam para fazer volume, não para qualificar o ensino universitário. Se salários e plano de carreira são as questões mais candentes porque determinam, afinal, se os professores voltam ou não ao trabalho, não se pode dizer que sejam as mais sérias.
Grave mesmo é a falta de infraestrutura de boa parte das universidades federais. Os hospitais universitários, com uma exceção ou outra, são verdadeiros pardieiros. Não satisfazem as necessidades nem dos pacientes nem dos alunos. Numa universidade, há esgoto a céu aberto; na outra, faltam luz e água; uma terceira fica num descampado — o asfalto não chega até os muros da instituição. Em boa parte delas, faltam prédios para abrigar os cursos.
O país passará os próximos anos tentando suprir essas lacunas. Lula “criou” as suas universidades para que outros não pudessem criar mais nenhuma.
O voluntarismo populista é parceiro da irresponsabilidade. Em passeio ontem pela Zona Leste de São Paulo, Fernando Haddad, este incrível falastrão, ao responder a uma moradora que reclamou das supostas dificuldades de ingressar no ensino superior por intermédio do ProUni, afirmou que só não há uma universidade federal na região porque a Prefeitura teria criado dificuldades.
Atenção! É MENTIRA, MAS PODERIA SER VERDADE, ENTENDERAM? Este senhor jamais conseguiria explicar, e isso não lhe é perguntado, por que, em vez de melhorar as condições lastimáveis do campus da Unifesp de Guarulhos, ele criaria um novo na Zona Leste. Ou por outra: Haddad acha que não espalhou subuniversidades federais o suficiente. Esse sujeito é uma piada!
No dia 4 de maio, pouco antes de ter início a greve nas federais — e lembro que, no ano passado, elas ficaram paradas mais de quatro meses —, o Apedeuta recebeu títulos de Doutor Honoris Causa às baciadas. Foram conferidos em conjunto pelas instituições públicas localizadas no estado do Rio: Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), UFF (Universidade Federal Fluminense) e UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).
No discurso, como apontei aqui, esmerou-se na mentira. Afirmou ter chegado ao poder com 6 milhões de universitários no país. Já seriam, disse, 12 milhões. Os números reais, segundo o Censo Universitário feito pelo MEC, sob o comando de Fernando Haddad, que estava presente, são estes: havia, em 2001, 3 milhões de estudantes matriculados nas universidades do país; no fim de 2010, eram 6,37 milhões — quase a metade do que Lula alardeou.
Atenção! 14,7% desse total (quase um milhão de alunos) estão matriculados na modalidade “ensino à distância”. Com raras exceções, esse troço virou um caça-níqueis ainda mais vantajoso do que instituições de ensino meia-bomba que vendem suas vagas para o ProUni. Não passa de picaretagem! Mas sigamos.
A meta do Plano Nacional de Educação, estabelecida em 2000, era chegar a 2010 com 33% dos jovens de 18 a 24 anos na universidade.
Segundo o Censo, o governo do Apedeuta ficou bem longe disso: apenas 17,4%. Como? Petistas não acreditam em mim? Faz sentido. Então acreditem nos números postos no portal do MEC, com foto de Fernando Haddad e tudo (aqui).
Ou por outra: o governo não cumpriu a meta, e a expansão ocorreu à matroca. O crescimento se deu em boa parte do ensino público privado de baixa qualidade. O espírito que animou a ação, na hipótese de ter havido um, foi este: “Vamos lá, vamos crescer, vamos fazer volume; da quantidade se fará a qualidade!” Fez-se? Não!
O mal que assola os ensinos fundamento e médio chegou de forma avassaladora ao ensino universitário. Entre os estudantes do ensino superior, 38% não dominam habilidades básicas de leitura e escrita, segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), divulgado pelo Instituto Paulo Montenegro (IPM) e pela ONG Ação Educativa. Vejam quadro.
Em 2001/2002, 2% dos alunos universitários tinham apenas rudimentos de escrita e leitura. Em 2010, essa porcentagem havia saltado para 4%. Vale dizer: 254.800 estudantes de terceiro grau no país são quase analfabetos.
Espantoso? Em 2001/2002, 24% não eram plenamente alfabetizados. Um número já escandaloso. Em 2010, pularam para 38%. Isso quer dizer que 2.420.600 estudantes do terceiro grau não conseguem ler direito um texto e se expressar com clareza. É o que se espera de um aluno ao concluir o… ensino fundamental!
E agora?
Cabe a este governo (não está fazendo isso também!) e aos próximos corrigir a herança maldita de Lula. Não dá para saber o volume de recursos necessários para dotar as federais da infraestrutura adequada. A relação do poder público com instituições privadas tem de mudar, mas se trata de uma operação delicada porque o Estado brasileiro, por intermédio do ProUni, se transformou num comprador e repassador de vagas se cursos de baixa performance, levados adiante apenas na base da saliva. A demanda é grande e passou a se confundir com um dos “direitos básicos” da população. E agora?
Entendam: os outros terão de corrigir as irresponsabilidades da dupla Lula-Haddad. O Apedeuta correu para o abraço, alardeando seus números milagrosos. Os outros que se encarreguem agora de tornar realidade as suas fantasias: custa caro e rende mais desgaste do que votos. Lula sempre preferiu os votos ao desgaste…
Durante oito anos, bem poucos se atreveram — modestamente, estive entre os poucos — a perguntar em que condições se dava a expansão do ensino universitário. Ao contrário até: alguns colunistas se esmeravam, e se esmeram ainda, em anunciar a grande revolução feita pela dupla Lula-Haddad. Eis o milagre da multiplicação de analfabetos de terceiro grau. Lula e a universidade, em suma, é a metáfora do cruzamento malsucedido de uma vaca com um jumento. O híbrido nem puxa carroça nem dá leite.
18 de julho de 2012
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