Artigos - Cultura
“O comunismo é uma espécie de alfaiate que quando a roupa não fica boa faz alterações no cliente”, disse Millôr Fernandes. O século XX e os 100 milhões de mortos do socialismo real provam que Millôr estava certo. O grande problema da utopia que se diz científica foi realizar experiências com seres humanos, não com ratinhos de laboratório.
O comunismo de modelo soviético ruiu a partir de 1989, com a queda do Muro de Berlim (“Mr. Gorbachev, tear down this wall!”, dissera Ronald Reagan dois anos antes). Mas o projeto socialista já vinha assumindo outra forma, a de dominação cultural, definida nas obras do pensador italiano Antonio Gramsci. Trata-se de uma espécie de marxismo reinventado segundo os moldes de Maquiavel. O Príncipe virou o Partido Político.
Na era do marxismo cultural, as mudanças promovidas pelo alfaiate revolucionário não consistem no extermínio físico do adversário ideológico, mas em sua eliminação política, intelectual e moral. Os militantes modernos não matam o “inimigo do povo” – preferem condená-lo ao isolamento, à submissão, ao silêncio.
Mas – com o perdão do clichê – a luta continua! Há resistências, como prova o lançamento do livro “Por que virei à direita”, em que três intelectuais explicam a sua opção pelo conservadorismo liberal. João Pereira Coutinho, Denis Rosenfield e Luiz Felipe Pondé revelam que o amor radical pela humanidade, preconizado por Rousseau e por seus filhotes revolucionários de todos os tempos, em geral revela ódio e desprezo pelo ser humano considerado individualmente.
Enquanto a luta de classes – essa ideia tão científica quanto o boitatá – continuar sendo usada como regra para medir o mundo, precisaremos de intelectuais com a coragem de Coutinho, Rosenfield, Pondé, José Monir Nasser, Carlos Ramalhete, Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho e outros “inimigos do povo” (como também o foram Carlos Lacerda, Nelson Rodrigues, Gustavo Corção, José Guilherme Merquior, Roberto Campos, Paulo Francis). Eles sabem que a utopia pode ser sinistra.
Trecho de Luiz Felipe Pondé em ‘Por que virei à direita’:
A esquerda é abstrata e mau-caráter porque nega a realidade histórica humana a fim de construir o seu domínio sobre o mundo. Vende elogios ao homem para assim tê-lo como um retardado mental a seu serviço. A esquerda é puro marketing. No fundo, não passa de autoajuda.
Caso a guerrilha de esquerda tivesse vencido no país, ela poderia ter feito do Brasil uma grande Cuba (a ditadura, com toda a sua miséria, “nos salvou” do pior). Fora isso, após a ditadura, a esquerda tinha nas mãos as universidades, as escolas, as redações dos jornais, grande parte dos tribunais e os principais partidos políticos (PT e PSDB são filhotes da esquerda).
Nos últimos anos, a esquerda venceu a batalha no Brasil (com exceção da economia, porque com dinheiro não se brinca). No que se refere à vida intelectual, ela persegue qualquer um que não reze por sua cartilha. Mas eu, como dizia o grande pensador Nelson Rodrigues, “sou um ex-covarde”. Não tenho medo deles. Que venham.
18 de julho de 2012
Paulo Briguet, jornalista, edita o blog Com o Perdão da Palavra, no site do Jornal de Londrina.
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