Trechos da entrevista do historiador e professor da USP Boris
Fausto, ao caderno Aliás do Estado de S. Paulo, sobre a importância da classe
média baixa na eleição para a Prefeitura de São Paulo.
1. Essa nova classe C representa uma nova figura social e infelizmente não se procurou saber ao certo em que candidato ela iria votar.
Russomanno está sendo identificado não como o preferido pelo cidadão eleitor, mas como o preferido por um cidadão consumidor.
Nessa febre de consumo que se vê por aí, num país tão desigual e com educação ainda tão precária, a figura dele compõe bem. Até porque existe uma grande irritação na cidade com os serviços.
As pessoas vivem irritadas. Ora, se alguém aparece como paladino do consumidor, como defensor do usuário da cidade, alcança repercussão.
2. O que se espera do administrador municipal também parece ter mudado. São Paulo conviveu durante muito tempo com prefeitos que buscavam encarnar a imagem do tocador de obras. ´
Porque o eleitor não está preocupado com a expansão e sim com o funcionamento da cidade.
Até acho bom que o discurso “tocador de obras” já não cole mais.
O que incomoda as pessoas é o transporte público deficiente, o trânsito infernal, o atendimento ruim à saúde…
Quem resolver esse tipo de problema não precisará, a meu ver, ser de direita ou de esquerda. Aliás, as tinturas políticas também estão se diluindo, esse é outro dado do nosso tempo.
Os brasileiros perceberam que voto direto não resolve tudo, como lhes foi prometido lá trás, na redemocratização. Claro que o voto direto é bom, mas não resolve tudo. Uma parte da descrença na política vem dessa constatação inevitável.
3. Há o fenômeno da banalização da política e a introdução do marketing nas campanhas. O marketing televisivo, principalmente esse, se transformou numa espécie de mito.
O candidato faz acordos com o diabo por um minuto no horário eleitoral gratuito.
As pessoas vêm demonstrando cansaço desses programas engessados, enfadonhos.
4. Mesmo numa metrópole como São Paulo não se pode desconsiderar o aspecto da regionalização. Ainda existem os chamados “caciques de bairro”.
Você ainda encontra essa figura por aí. Então é natural que se lide com reivindicações específicas, locais. Isso pode definir em parte a política paroquial.
Mas também o termo “paroquial” hoje nos remete à influência do voto evangélico, algo que avança muito nesta cidade.
5. Trata-se de uma experiência sociológica interessante, porém não posso deixar de apontar também, a manipulação das pessoas num nível muito grave ao ver os programas religiosos eletrônicos. Esse fenômeno se converte em força política, certamente.
E numa força política plural, pois vão aparecendo diferentes denominações religiosas. Ainda bem que não constituem uma força monolítica!
6. Estamos atravessando um período, que eu prefiro acreditar provisório, de relativa regressão política. A procura desesperada por votos imprime essa marca esquisita, como se o processo eleitoral fosse convertido numa concorrência mercadológica entre pessoas. Hoje a novidade vem da emergência da classe C.
22 de setembro de 2012
1. Essa nova classe C representa uma nova figura social e infelizmente não se procurou saber ao certo em que candidato ela iria votar.
Russomanno está sendo identificado não como o preferido pelo cidadão eleitor, mas como o preferido por um cidadão consumidor.
Nessa febre de consumo que se vê por aí, num país tão desigual e com educação ainda tão precária, a figura dele compõe bem. Até porque existe uma grande irritação na cidade com os serviços.
As pessoas vivem irritadas. Ora, se alguém aparece como paladino do consumidor, como defensor do usuário da cidade, alcança repercussão.
2. O que se espera do administrador municipal também parece ter mudado. São Paulo conviveu durante muito tempo com prefeitos que buscavam encarnar a imagem do tocador de obras. ´
Porque o eleitor não está preocupado com a expansão e sim com o funcionamento da cidade.
Até acho bom que o discurso “tocador de obras” já não cole mais.
O que incomoda as pessoas é o transporte público deficiente, o trânsito infernal, o atendimento ruim à saúde…
Quem resolver esse tipo de problema não precisará, a meu ver, ser de direita ou de esquerda. Aliás, as tinturas políticas também estão se diluindo, esse é outro dado do nosso tempo.
Os brasileiros perceberam que voto direto não resolve tudo, como lhes foi prometido lá trás, na redemocratização. Claro que o voto direto é bom, mas não resolve tudo. Uma parte da descrença na política vem dessa constatação inevitável.
3. Há o fenômeno da banalização da política e a introdução do marketing nas campanhas. O marketing televisivo, principalmente esse, se transformou numa espécie de mito.
O candidato faz acordos com o diabo por um minuto no horário eleitoral gratuito.
As pessoas vêm demonstrando cansaço desses programas engessados, enfadonhos.
4. Mesmo numa metrópole como São Paulo não se pode desconsiderar o aspecto da regionalização. Ainda existem os chamados “caciques de bairro”.
Você ainda encontra essa figura por aí. Então é natural que se lide com reivindicações específicas, locais. Isso pode definir em parte a política paroquial.
Mas também o termo “paroquial” hoje nos remete à influência do voto evangélico, algo que avança muito nesta cidade.
5. Trata-se de uma experiência sociológica interessante, porém não posso deixar de apontar também, a manipulação das pessoas num nível muito grave ao ver os programas religiosos eletrônicos. Esse fenômeno se converte em força política, certamente.
E numa força política plural, pois vão aparecendo diferentes denominações religiosas. Ainda bem que não constituem uma força monolítica!
6. Estamos atravessando um período, que eu prefiro acreditar provisório, de relativa regressão política. A procura desesperada por votos imprime essa marca esquisita, como se o processo eleitoral fosse convertido numa concorrência mercadológica entre pessoas. Hoje a novidade vem da emergência da classe C.
22 de setembro de 2012
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