Conquistamos Nova York. Em números e dólares somos campeões. Em Miami também.
A fonte é boa, mas pode ser parte da fantasia do poder consumidor brasileiro em algumas cidades americanas.
Não sei se a dona da loja já encontrou a gerente, mas sei que em Nova York, como em Miami, brasileiro documentado com bom inglês está em falta e em alta.
Chegamos aos milhares e compramos. Foram uns US$ 2 bilhões no ano passado, um aumento de quase 500% em seis anos.
A prefeitura dá vivas ao Brasil, abre portas, imprime e distribui novos guias em português.
As más línguas dizem que brasileiros só vêm para as compras, mas Harold Holzer, vice-presidente do Metropolitan Museum, me contou que hoje os brasucas estão em terceiro lugar nas visitas do museu. Um amigo cético garante que eles vão às compras na lojona, antiga lojinha, do museu, mas isto não está na pesquisa.
"Em Nova York, como em Miami, brasileiro documentado com bom inglês está em falta e em alta."
O Financial Times, de Londres, publicou que estamos endividados até o pescoço, numa bolha de consumo que vai explodir a qualquer momento. Outra pesquisa, da Global Inteligence Alliance, informa que até 2017 o Brasil continuará sendo a bola e não a bolha da vez. Vai bombar e bolar na Copa e nas Olimpíadas.
Na terça-feira, passei algumas horas com mais de duzentos varejistas brasileiros reunidos no Waldorf Astoria. Estão aqui para o evento anual da National Retail Federation, que reúne o mais poderoso lobby dos varejistas americanos. Sobre o Brasil, entre brasileiros, otimismo nota dez.
Lá estavam Luiza, do Magazine Luiza, a segunda rede de varejo no Brasil, Flavio Rocha, presidente da Riachuelo-Guararapes, campeã em confecções, Manuel Correa, presidente da Telha Norte, do Grupo Saint Gobain, líder da América Latina em material de construção, e Sergio Herz, presidente da Livraria Cultura, pronto para bater de frente com os invasores da Amazon.
Todos veem um futuro promissor. Vão investir no Brasil em 2013. Flavio Rocha é o único que vê nuvens negras no horizonte, mas só daqui a uns dez anos. Ele enxerga longe e compara nossa situação com a década americana de 70 a 80.
Mas porque os brasileiros deixaram R$ 4 bilhões ano passado em Nova York em vez de enriquecer nossos varejistas? Luiza culpa o custo Brasil da burocracia e dos impostos, enfim o governo, pela falta de apoio ao varejo que, embora seja cada vez mais importante na economia brasileira e na geração de empregos, não é tratado com o mesmo respeito que os varejistas americanos pela Casa Branca, Congresso e até pelo próprio povo. Varejo é coisa barata, de gente pobre.
Consumo representa 70% da economia americana, mas o governo nem sempre andou de mãos dadas com Walmart e outros gigantes do varejo. Na primeira metade do século 20, a rede AP, Atlantic Pacific, tinha 16 mil supermercados nos Estados Unidos. Hoje, a Walmart, maior empregadora privada do mundo, tem 4.300 hipermercados. São US$ 35 mil de faturamento, por minuto.
A AP era tão poderosa que o governo proibia a rede de dar descontos, senão quebrava a vizinhança. Quando a AP descumpriu a lei, foi processada pelo Tio Sam por vender barato, perdeu, pagou multa e subiu os preços. Dane-se o consumidor no mundo capitalista, o capitalismo tem razões que a razão desconhece.
A partir da década de 60, graças aos carros, Walmart, K-Mart e Target se tornaram gigantes no varejo, conquistaram espaço nos subúrbios e cidades pequenas. Varejo nos Estados Unidos é classe média, mas até hoje muitos governos barram suas superlojas nos centros urbanos.
Quando a Magazine Luiza abre uma lojona numa área de baixa renda, gera centenas de empregos, mas mata quantas lojinhas? Deveria ter perguntado a ela. Mais importante é saber quando o brasileiro poderá comprar nas Luizas brasileiras o que compra em Nova York.
22 de janeiro de 2013
Lucas Mendes, De Nova York para a BBC Brasil
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