"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 22 de janeiro de 2013

EXISTE UM FUTEBOL SÉRIO

 

Começaram os estaduais. Tudo igual aos dos últimos anos, com as mesmas discussões, as mesmas críticas ao calendário, as mesmas seguidas interdições de estádios e os mesmos gramados ruins. Nem todos. Dizem que o gramado do Engenhão está tão bom quanto os melhores da Europa.



Os dirigentes dos grandes clubes não diminuem a duração dos estaduais, porque costumam ganhar mais dinheiro da televisão do que arrecadam até na Libertadores. Muitos recebem adiantado. O Flamengo já gastou a receita de 2013.
 
Os grandes clubes contratam, cada vez mais, jogadores caros e famosos. A folha salarial é igual à de muitos grandes da Europa. Cresceram a arrecadação e também as dívidas, não só as que foram planejadas e que serão pagas com o tempo, como as vencidas, especialmente com o governo.
 
Parafraseando o filósofo Vampeta, os clubes fingem que pagam, e o governo finge que recebe. E os dirigentes ainda querem que todas as dívidas sejam perdoadas. A Timemania, criada para isso, foi um fracasso.
 
VETERANOS
 
Muitos dos veteranos contratados, caros e famosos, são destaques porque estão bem fisicamente e porque, mesmo decadentes, são melhores que a maioria dos jovens. O mesmo ocorre em toda América do Sul. O veterano Recoba, de 38 anos, que atuou muito tempo na Europa, foi eleito o melhor jogador do Campeonato Uruguaio.
 
A maioria dos grandes clubes da Europa passa por dificuldades financeiras, por vários motivos. O único futebol sério no mundo é o da Alemanha. Lá, não existem magnatas, donos de clubes, e estes só jogam se arrecadarem, no mínimo, o que gastaram e se não tiverem dívidas vencidas. O Campeonato Alemão tem a maior média de público da Europa.
 
A organização e a seriedade do futebol alemão foi um dos motivos de Guardiola preferir o Bayern de Munique. Ele sabe que vai receber o salário em dia e que não será dispensado porque o dono do clube acordou de mau humor.
 
Outro motivo é que o Bayern possui muito talento coletivo e individual. Guardiola poderá acrescentar o detalhe, a sintonia fina, como a de não ter pressa para chegar ao gol, sem perder a velocidade. Outra razão é que, na Alemanha, como no Barcelona, os jogadores são menos celebridades, dão menos trabalho, e há menos fofoca. Ele poderá trabalhar em paz.
 
A presença de um grande número de treinadores da Europa trabalhando em outros países do continente é um fator positivo. Na América do Sul, muitos técnicos argentinos dirigem clubes de outros países sul-americanos. Não há treinadores brasileiros trabalhando em grandes times da Europa e da América do Sul – muitos têm competência para isso – nem existem técnicos de fora no Brasil. O corporativismo e a soberba não permitem.

22 de janeiro de 2014
Tostão (O Tempo)

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