A lei está em vigor, mas a regra de restrição das campanhas eleitorais ao período de três meses antes das eleições foi revogada na prática. Tirando a exposição diária em horário específico no rádio e na televisão a partir do mês de agosto do ano eleitoral, tudo o mais está permitido.
Inclusive e principalmente o uso do patrimônio coletivo como instrumento de propaganda política. Há a lei de probidade administrativa e há o artigo 37 da Constituição que lista a impessoalidade e a legalidade entre os princípios que regem a administração pública.
Tais preceitos, contudo, parecem ter caído em desuso desde que o então presidente Luiz Inácio da Silva lançou sua ministra chefe da Casa Civil como a "mãe do PAC", no início de 2008, e não parou mais de fazer campanha para sua candidata até conseguir que fosse eleita em outubro de 2010.
Portanto, essa história de antecipação da campanha de 2014 em um ano e 10 meses não é novidade alguma nem deveria causar espanto, já que não provoca contrariedade no Ministério Público.
A presidente Dilma, dizem as evidências, é franca favorita. Não há nisso mistério algum nem algo de politicamente genial na estratégia governista: o dado essencial é que a presidente conta com ferramentas que estão a léguas de distância do alcance de seus adversários.
Só para início de conversa, tem todo espaço natural nos meios de comunicação em matéria de cobertura dada ao chefe da nação, pela própria natureza do cargo.
Dilma tem 39 ministérios à disposição e ainda a caneta que lhe permite manejar como bem entender as vontades de aliados que porventura pretendam se encantar com a possibilidade de atracar em outros portos.
E os outros possíveis candidatos o que têm? Eduardo Campos, o governo de Pernambuco. Não chega a representar vantagem comparativa face aos instrumentos disponíveis para quem governa o País.
E governa com alma de militante partidária, como demonstrado recentemente quando a presidente abandonou a atitude civilizada que vinha mantendo em relação aos antecessores, notadamente Fernando Henrique Cardoso, e se pôs a negar qualquer legado: "Construímos tudo".
Aécio Neves, o controle do governo de Minas, um mandato de senador numa Casa de joelhos para o Palácio do Planalto e um partido bambo, em busca de unidade, discurso e vigor para a luta que se avizinha dura, por ora com contornos de missão impossível.
Marina Silva, uma boa imagem, uma proposta hesitante entre o sonho e a realidade, e um embrião de partido.
As condições são absolutamente desiguais, residindo nisso o segredo do sucesso que de secreto nada tem.
Vaivém. O que Ciro Gomes diz não necessariamente é para ser levado ao pé da letra com prazo de validade prolongado. A crítica que faz ao governador Eduardo Campos a quem, segundo ele, falta "estrada" para se candidatar a governar o País, é a mesma feita a Dilma Rousseff, em 2010.
Na ocasião, Ciro declarou que ela não tinha "liderança e experiência para governar o Brasil".
Sobre Aécio Neves, a quem inclui junto com Campos e Marina Silva no rol dos políticos desprovidos de "visão" para ser presidente, Ciro declarou naquela época: "Se Aécio for candidato, estarei com ele!".
Moda da casa. Raul Castro anuncia renúncia em 2018 para dar lugar "às novas gerações" e indica como provável sucessor Miguel Díaz-Canel, um fiel aliado do regime que não seria escolhido se assim não fosse.
Indicado para mudar mantendo tudo como está: sistema de partido único, pensamento único, sem um único espaço para que o cubano experimente o quanto vale a liberdade de pensar, falar, agir, ir e vir com destemor.
27 de fevereiro de 2013
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
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