"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

EDUARDO CAMPOS E A BASE "ALIADA"

Circula pelos meios políticos e na cobertura especializada uma espécie de ante-sala das prévias eleitorais de 2014. Logo após o término do pleito municipal do ano passado, a direção nacional do PSB – aliado de longa data do PT – viu-se diante de uma nova circunstância. As vitórias municipais do partido histórico de Miguel Arraes e a apreciação do governador pernambucano Eduardo Campos poderiam criar condições para reproduzir a corrida eleitoral de 2002. Onze anos atrás quase que a eleição aponta um terceiro candidato como azarão.

À época, o ex-governador do Rio, Anthony Garotinho, concorreu pelo PSB assim como Ciro Gomes, ex-tucano convertido para posições de centro-esquerda, concorreu pelo PPS com o apoio do PDT e da Força Sindical. O cenário só não ficou mais bagunçado no rumo do “centro” da política porque com a presença de José Serra, ainda que secundado pela então deputada federal capixaba Rita Camata (PMDB), toda eleição tornou-se tensa e polarizada.

Passada uma década e após a ampliação da base aliada através dos custos da tal da governabilidade (por dentro e com rubrica), o governo da ex-guerrilheira encontra-se perto de um início de ruptura interna. Não se trata apenas da natural antecipação de alianças eleitorais e da legítima pretensão de liderança por partidos políticos. O tema de fundo é a ausência de diferenciação programática e, pior, de prática política.


Qualquer estudante de ciência política ou áreas afins deve conhecer uma das bases do jogo de alianças baseado na interação estratégica:
“o amigo do meu amigo pode ser meu amigo, o inimigo do meu inimigo pode ser meu amigo e o amigo do meu inimigo pode ser meu inimigo”.

O problema na atual “governabilidade” é que quase todos podem ser quase tudo, havendo pouca ou nenhuma diferenciação entre legendas, lideranças e formas de conduta.

Neste país, quem ocupa a aliança de situação posiciona-se de forma transitória, tal e como os postos da oposição. Materializam esta análise as migrações partidárias e a criação do PSD, racha do DEM por executor das tradições udenistas, e agora a legenda de ocasião da ex-ministra Marina Silva.

Quando todos podem ser “amigos” e quase ninguém quer ser “inimigo”, o cenário político é confuso e esvaziado.
É nesta fauna de alianças ocasionais e legendas sem coesão interna que pode aparecer uma “nova” figura de proa, de dentro da base do governo, a exemplo de Eduardo Campos, levando de roldão uma parte considerável da base “aliada”, começando por peemedebistas.

27 de fevereiro de 2013
Bruno Lima Rocha é cientista político

Nenhum comentário:

Postar um comentário