"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

TIMES PEQUENOS E CLUBES DE CIDADES MENORES: HÁ MUITOS BONS EXEMPLOS DE GESTÃO. NENHUM DELES ESTÁ NO RIO.

 

O Duque de Caxias, arremessado feito peteca entre os dois grupos que dominaram a política da cidade na última década, é o maior exemplo de que o apoio maciço de uma prefeitura não resolve todos os problemas na gestão de um pequeno time de futebol.
O município mantém três estádios: o Maracanãzinho, no centro, o Marrentão, em Xerém e o particular De Los Larios, que fica no mesmo distrito, pertence ao Tigres do Brasil e foi por diversas ocasiões emprestado ao Duque. Nenhum deles está apto a receber partidas contra Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense.


Caxias e Friburguense

Do mesmo mal padecem o Olaria, Friburguense, Quissamã, Boavista, Nova Iguaçu, Resende e o Audax Rio, que nem estádio profissional tem. Por outro lado, o Madureira – com força na vetusta FFERJ, a federação de futebol – recebeu recentemente o Flamengo em seu Conselheiro Galvão, onde mal cabem três mil pessoas, os acessos e áreas de escape são escassos e o calor – sem cobertura – saariano.

Há outros 21 clubes em cada divisão inferior do Estadual, e nelas o panorama é ainda mais preocupante: apesar de empregarem centenas de atletas, muitos deles de fim de semana e federados às pressas para a disputa do campeonato, estes clubes perderam a sua principal função, que era revelar talentos para as categorias de base dos times de primeira divisão.
Roberto Dinamite, por exemplo, fez seus primeiros gols pela base do extinto Nacional caxiense, e de lá foi descoberto – em um ônibus – para uma oportunidade no time de juvenis do Vasco da Gama.

FUSÃO NÃO É SOLUÇÃO

Sem praças esportivas e com talentos cada vez mais escassos, o caminho destes clubes parecia ser o desaparecimento. Apenas parecia. Sob os auspícios da Lei de Incentivo ao Esporte, estes têm captado a toque de caixa gordas verbas das prefeituras municipais, sem contrapartida na qualidade de gestão.

A prefeitura de Campos dos Goytacazes, de Rosinha Garotinho, investe nos dois clubes da cidade, o Americano e o Goytacaz. O mesmo ocorre com municípios sem qualquer tradição no esporte, como São João da Barra, Silva Jardim, a já citada Quissamã, Cardoso Moreira (que frequentou a primeira divisão sem campo de treinamento) Casimiro de Abreu e até a gigante São Gonçalo, que jamais teve um clube na primeira divisão e que sob as bençãos do “patrono” Romário e Rafael do Gordo (ambos PSB-RJ) tem agora o São Gonçalo EC.

Alguns anos atrás, em entrevista concedida a mim, o saudoso jornalista esportivo Luiz Mendes apontou para a possibilidade de fusão entre estes clubes, em especial entre times de uma mesma cidade. Assim, com menos custos a gerir, seria ao menos garantida uma das duas marcas e a sobrevivência do esporte em cada município.

Há profusão de cidades no interior do Rio de Janeiro com dois departamentos de futebol cada, um cenário atípico em relação ao resto do Brasil. Na pequena Três Rios, por exemplo, há o América e o Entrerriense. Em Cabo Frio, a Cabofriense e o Esprof; em Araruama o Rubro e o Guanabara, e assim por diante. São rivalidades quase centenárias que dificilmente se traduziriam em sucesso administrativo em caso de junção em uma mesma agremiação.

CATEGORIAS DE BASE

A necessidade cada vez mais presente entre os clubes de menor investimento é a organização de suas categorias de base. É preciso garantir a disputa, pelo menos, do infantil aos juniores. Por este meio, será possível captar recursos para a formação de novos atletas e a reforma de centros de treinamento, à moda do que já vem sendo feito pelos times do interior de São Paulo.

As equipes profissionais, longe dos arroubos de grandeza com as contratações de veteranos via verbas públicas, podem e devem ser abastecidas pelos atletas formados nos próprios clubes, jovens talentosos de cada município, recrutados nas escolas e ginásios comunitários.
Só a renovação técnica será capaz de se traduzir em novas receitas para crescimento da estrutura destas instituições e, de forma sustentável, o seu acesso aos grupos principais do futebol brasileiro.

O Duque de Caxias dos três estádios emprestados e do dinheiro público, chegou até a Série B do Campeonato Brasileiro e permaneceu ali por três anos. Por não ter investido na renovação e na estrutura física, está a um passo do rebaixamento no Campeonato Estadual.

27 de fevereiro de 2013
Lucas Alvares

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