Terminei ontem o Manifesto do Nada na Terra do Nunca, do cantor de rock, escritor, e de agora em diante para mim, pelo menos para mim, pensador brasileiro – João Luiz Woerdenbag, o Lobão. São duzentas e quarenta páginas duma leitura de “lavar a alma”. Muito daquilo que está escrito ali eu mesmo queria colocar no papel.
30 de maio de 2013
Partindo de uma bibliografia que conta com Edgar Morin, Olavo de Carvalho, David Horowitz e tantos outros capazes de (não me perguntem como) manter um pensamento original, Lobão vem para, literalmente, não deixar “pedra sobre pedra”. Tendo como base a Semana de Arte Moderna e o Manifesto Antropofágico de 1922, Lobão diverte, comove, convence e cativa numa prosa alucinada e permeada por uma honestidade intelectual que há muito, mas muito tempo mesmo, deixou de existir no Brasil.
Em sete capítulos que tratam de arte, cultura, música, viagem e também, com muito senso de humor, de si mesmo, ele mostra a podridão da chamada intelectualidade brasileira atual. Seu recado para escória que infesta a universidade, a música, a literatura..enfim, para o próprio pensamento brasileiro atual é um só – “sejam originais, pô!” Chega de coitadismo, de indianismo, de multiculturalismo misturados com autopiedade e com essa complacência com a falta de caráter de um povo que fez de Macunaíma seu herói e das ONGS as suas novas Igrejas.
Lobão não tem pudor algum em mostrar que para ser intelectual politicamente correto no Brasil petista basta ter escrito algum samba durante a Ditadura Militar, algum romance que se passa no leste Europeu, ou ter passado uma noite numa delegacia qualquer nos anos 70. Ele desmascara a Lei Rouanet e os privilégios de um certo tipo de artista que toca violão como se estivesse “tomando cafezinho com nojo”.
Demonstra o porquê da falta de espaço para o verdadeiro rock na mídia brasileira, mostra a hipocrisia daquilo que chama de “Omissão” em vez de “Comissão” da verdade e deixa uma dura lição para todos os estudantezinhos dessa Universidade do B – a lição de que quem se vendeu, quem se tornou decadente, quem não tem mais peito nem coragem alguma para sair à rua são eles!
Bem vindo, Lobão, ao grupo daqueles poucos que merecem, de verdade, o título de intelectual. Uma pequena fração de brasileiros capazes de manter uma razão livre de fanatismos e que não está nem aí para esse Partido-Religião que está acabando com a cultura do Brasil.
Definitivamente, chegou a Hora do Lobo.
30 de maio de 2013
Milton Simon Pires é Médico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário