"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 30 de maio de 2013

TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR

 

Na verdade, pouco de sólido havia na história inventada pela Caixa Econômica Federal, e avalizada pelo governo, sobre a corrida à caça do tesouro do Bolsa Família.

A corrida: nos dias 18 e 19 últimos, um milhão de clientes do Bolsa invadiram agências da Caixa e depredaram caixas eletrônicos em 13 Estados estimulados por boatos que garantiam o fim do programa ou o pagamento de uma parcela extra.


A Caixa disse que adiantou dinheiro no sábado 18 para pagar a multidão de aflitos, e assim controlar o tumulto. Essa mesma informação foi repetida pelo vice-presidente da Caixa em entrevista ao “Bom dia, Brasil” na segunda-feira, dia 20.

Mentira! A primeira.

Gênese da mentira: a Caixa descobrira que 692 mil famílias possuíam mais de um cadastro. Decidiu deixá-las com o mais antigo deles. Na sexta-feira 17, depositou na conta de todos os clientes do programa a mesada que deveria ser sacada a partir do dia seguinte.

Não avisou a ninguém.

O presidente da Caixa e o vice-presidente disseram que apenas na segunda-feira 20 ficaram sabendo do adiantamento do dinheiro feito no dia 17.

Quer dizer: a área técnica da Caixa adiantou o dinheiro sem avisá-los - e sem avisar aos bolsistas. E mesmo diante da corrida às agências nos dias 18 e 19 não os avisou sobre o que fizera.

Muito menos o presidente e o vice telefonaram no fim de semana para a área técnica da Caixa interessados em saber o que poderia ter provocado a confusão em 13 Estados.

Improvável que tenha sido assim.

O mais provável é que estejamos aí diante da segunda mentira.

Avancemos para a terceira: o presidente da Caixa confessou que escondeu do distinto público entre os dias 20 e 24 que o dinheiro do Bolsa fora depositado no dia 17 e não no dia 18. E que há cinco dias ele já sabia disso.

Procedera assim para se inteirar em detalhes sobre o que ocorrera. Sem pressa, naturalmente.

Menos. Menos. Bem menos!

Uma hora se reunião seria mais do que o suficiente para ele se inteirar sobre os detalhes da lambança promovida por seus subordinados.

Para que serviram, pois, os cinco dias de silêncio do presidente da Caixa?

Ora, para que a ministra dos Direitos Humanos atribuísse à oposição o boato sobre o fim do Bolsa Família; Dilma chamasse os autores do boato de “desumanos e criminosos”; o ministro da Justiça falasse que por trás de tudo havia uma “grande orquestração”; Lula debitasse o boato na conta de “gente do mal”; e Ruy Falcão, presidente do PT, tratasse o episódio como “terrorismo eleitoral”.

O ministro da Justiça afirmou peremptório: “Não tenho dúvidas de que foi cometido um crime. Ou mais de um crime”.

O período em que a oposição foi posta na berlinda e sob suspeição teria durado mais se a Folha de S. Paulo, na sexta-feira 24, não esbarrasse numa dona de casa da região metropolitana de Fortaleza. Ela disse que sacara o dinheiro do Bolsa na sexta-feira dia 17.

- Levei um susto. A Caixa nunca pagara antecipadamente. A notícia se espalhou. E deve ter sido isso que provocou toda aquela confusão.

Havia mais uma mentira a ser jogada na mesa pelo governo: o boato sobre o fim do Bolsa teria sido disseminado por uma agência de telemarketing do Rio de Janeiro.

Na mesma sexta-feira 24, a Polícia Federal espalhou a notícia sobre a agência de telemarketing. Anteontem, dia 28, a notícia começou a se desmanchar.

Conclusões?

Tire as suas.

30 de maio de 2013
Ricardo Noblat
 

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