Em artigo publicado recentemente no jornal Folha de S.Paulo, o economista Marcelo Miterhof, do BNDES, fez uma análise de rara estreiteza sobre as implicações da educação para o desenvolvimento econômico.
Segundo Miterhof, a reivindicação da sociedade por um ensino de melhor qualidade, cada vez mais incisiva nos debates públicos, não passa de um “expediente” daqueles que se opõem ao “ativismo” do atual governo na economia.
Não bastasse tal visão empobrecida do debate político, Miterhof vai além e crava que “a educação não é tão crucial ao desenvolvimento econômico”. Ao contrário, ela seria “mais resultado do que requisito do desenvolvimento”.
A análise do economista é uma infelicidade de cabo a rabo. Elitista, fatalista e condescendente com a miséria do ensino no Brasil, ele parte da premissa de que antes precisamos ficar ricos, para só então nos tornarmos um povo educado.
Apesar da profusão de estudos disponíveis, o economista parece ignorar que a desigualdade educacional é uma das maiores causas do nosso abismo social histórico, isto é, do nosso subdesenvolvimento.
A explicação é simples: ao frequentar a escola, o aluno torna-se não só capaz de desempenhar funções mais complexas exigidas pelo mercado de trabalho, como também as realiza com maior produtividade, o que aumenta seus ganhos salariais.
É o que os economistas chamam de “taxa de retorno”: o quanto o investimento em anos escolares reaparece no salário final. Estudos mostram que o retorno é alto no Brasil (14% no ensino médio e até 18% no superior).
Além do mais, um estudo de pesquisadores do IPEA demonstrou que a ampliação média da escolaridade, coroada pela universalização do ensino fundamental no governo FHC, reverteu a tendência de alta na desigualdade educacional.
Como resultado, o aumento da escolaridade na qualificação dos trabalhadores foi, entre 2001 e 2007, até duas vezes mais importante na redução da desigualdade social do que os próprios repasses do Bolsa Família.
Munido de uma visão algo ornamental da educação, Miterhof sequer resvala as implicações da boa formação escolar na produtividade e na renda per capita, na inclusão social e no consumo, na expectativa de vida e na redução da violência.
O que se tenta omitir com discursos desta natureza é a incapacidade do Estado de oferecer aos brasileiros mais oportunidades de crescer na vida. Pedir que esperemos o bolo crescer é de uma falta de perspectiva histórica constrangedora.
12 de junho de 2013
José Aníbal é economista, deputado federal licenciado (PSDB-SP) e secretário de Energia de São Paulo.
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