Parodiando Tim Maia, “não jogo, não fumo e não bebo”. Mas, ao contrário do que ele dizia, não minto, pelo menos nesse quesito. Nunca pratiquei jogo de azar, não fumo há quase 20 anos e bebo com moderação. Nem desse vício novo, o do celular, eu padeço.
Só quando viajo minha mulher bota um no meu bolso para não me perder, como já aconteceu no aeroporto de uma cidade estranha, onde fiquei à espera de alguém que iria me buscar e não foi. Não sei se é um feito ou um defeito, mas graças a isso estou livre dessa dependência apontada numa pesquisa revelada pelo repórter Sérgio Matsuura aqui no jornal.
Como vocês devem ter lido, estudos recentes mostram que o uso excessivo desse aparelhinho que os portugueses chamam com mais propriedade de “telemóvel” pode produzir no cérebro estragos similares aos das drogas como álcool e cocaína.
Como explicou um especialista, “a dependência pelas tecnologias é comportamental, as outras são químicas, mas elas causam o mesmo desgaste na ponta dos neurônios”.
Conheço alguns exemplos, um dos quais beirando a patologia. Os amigos brincavam com ele pelo que parecia ser apenas uma inocente mania de ficar ao telefone o tempo todo em qualquer lugar. Eu cheguei a dizer que não o encontraria mais, ia preferir telefonar, pois só assim poderíamos conversar.
Até que a mulher, percebendo o distúrbio, convenceu-o a recorrer a um psicanalista. A terapia funcionou durante algum tempo. Mas a última vez em que estivemos juntos percebi velhos sintomas: síndrome de abstinência, ansiedade, déficit de atenção, desinteresse pelo mundo real. No táxi, só notei que ele não ouvia o que eu dizia quando, olhando para trás, flagrei-o conectado, digitando mensagens.
Há viciados que não importunam. Mas há os que falam tão alto no aeroporto, no hall de um hotel ou andando na rua que nos obrigam a tomar conhecimento sem querer de seus problemas domésticos. Mas o pior tipo é aquele que no cinema liga o aparelho no silencioso, mas acende aquela luz esverdeada que impede quem está atrás de ver o filme direito.
Já foram detectadas lesões nas articulações dos dedos causadas pela digitação. O mais preocupante, porém, é a notícia (ou boato) de que vários casos de câncer de cérebro em jovens seriam causados pelo uso abusivo do celular.
É uma especulação, uma hipótese, um “ouvi dizer” sem comprovação médica, mas que serve como advertência. Como é difícil saber quando termina o uso considerado normal e começa o excessivo, recomenda-se tomar dois santos remédios: moderação e sensatez. Não têm contraindicação.
12 de junho de 2013
Zuenir Ventura é jornalista.
http://lorotaspoliticaseverdades.blogspot.com.br/2013/06/um-vicio-novo.html#links
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