"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 25 de junho de 2013

PETROBRAS E VALE JUNTAS PERDEM R$ 100 BI EM DOZE MESES, EM VALOR DE MERCADO

 
Em 12 meses, mineradora encolheu R$ 48,7 bi e a petrolífera, R$ 51,6 bi
 
As duas ações com maior peso no Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), foram as que mais perderam valor de mercado nos últimos 12 meses, até a semana passada, entre os papéis do índice. A perda da Petrobras chega a R$ 51,6 bilhões, com o valor da empresa encolhendo de R$ 250,5 bilhões para R$ 198,9 bilhões. Já no caso da Vale, a perda é de R$ 48,7 bilhões. O valor da empresa caiu de R$ 199,5 bilhões para R$ 150,1 bilhões, segundo cálculo feito para o GLOBO pelo analista Rodolfo Amstalden, analista da Empiricus Research, parceiro do Investmania.
 
Em junho do ano passado, as ações PNA da Vale eram negociadas a R$ 39,16. Hoje, saem por R$ 26,89, uma desvalorização de 40,7%. Já os papéis PN da Petrobras eram negociados a R$ R$ 18,26 em junho do ano passado e atualmente valem R$ 15,92, uma perda de 12,8%. Além dos problemas da economia brasileira, como crescimento pífio do PIB e saída de investidores estrangeiros e domésticos da Bovespa em direção a investimentos menos arriscados, as duas empresas, que estão entre as mais negociadas do pregão pelo investidor brasileiro, são afetadas por problemas específicos, segundo analistas ouvidos pelo GLOBO. Em comum, segundo eles, é que as duas companhias atuam no setor de commodities, que vem sofrendo queda de preço no cenário internacional. Para o investidor brasileiro, que até colocou parte de seu FGTS neste papéis, o momento é de cautela.
 
 
Desde 2010, a Petrobras estatal registra perdas seguidas com a venda de gasolina, diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP) no mercado interno, por causa da política de contenção dos preços dos combustíveis imposta pelo governo. O objetivo é evitar uma alta ainda mais forte da inflação.
 
Além disso, a valorização do dólar frente ao real ocorre em um momento em que o consumo de gasolina aumentou 58% entre 2008 e 2012 no país, com o aumento da frota de veículos. A presidente da Petrobras, Graça Foster, disse que no fim do mês a empresa vai contabilizar o impacto da alta do dólar, que neste ano já sobe mais de 9%, no caixa da empresa.
 
Para Luís Gustavo Pereira, da corretora Futura, o fato de a agência de classificação de risco Standard & Poor’s ter colocado o rating brasileiro em perspectiva negativa, também afeta a Petrobras. Para o analista, o rating da Petrobras está associado ao rating do país. Na prática, isso significa que a Petrobras terá que pagar um juro mais alto para captar recursos no exterior para cumprir seu plano de investimentos.
 
— E aumentar o preço da gasolina, depois dos protestos pelas ruas do país, ficou muito mais complicado — diz Paulo Bittencourt, diretor da Apogeo Investimentos.
 
Para a Vale, o grande fator de preocupação é o crescimento chinês. Com a perspectiva de redução do crédito para o consumo dos chineses, o crescimento econômico de 7,5% previsto para este ano fica ameaçado.
 
— Embora a Vale seja beneficiada pela alta do câmbio, já que é exportadora, o preço das matérias-primas (commodities) minerais e metálicas está em queda no mercado internacional — avalia Bittencourt, da Apogeo.
 
Pedro Galdi, estrategista da corretora SLW, lembra ainda que tanto Petrobras quanto Vale são “portas” de saída da Bovespa nos momentos de crise.
 
— Os dois papéis estão entre os mais negociados do pregão. Nos momentos de crise, são os primeiros a serem vendidos pelos investidores — diz Galdi.
 
Os analistas lembram ainda que a sinalização do Federal Reserve, o banco central americano, de que a política de estímulos à economia americana deverá ser reduzida ainda este ano, está provocando uma grande movimento de capitais pelo mundo. Investidores se desfazem de posições de risco, especialmente nas Bolsas, para fazer caixa e investir na segurança dos títulos americanos. Com a melhora da economia, a expectativa é que os juros nos EUA sejam elevados em breve.
 
— O cenário de curto prazo para a Bolsa é negativo — diz Bernardo Dantas, da Edge.
 
Para o investidor que tem os dois papéis em carteira, vender as ações agora significa realizar o prejuízo, como se diz no jargão do mercado.
 
— Por isso, quem investe em Bolsa deve sempre pensar no longo prazo, onde perdas momentâneas podem ser recuperadas no futuro — avalia Paulo Bittecourt, da Apogeo.

25 de junho de 2013
João Sorima Neto - O Globo

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