"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 25 de junho de 2013

O DESPERTAR DO BRASIL

 

         Não estou a puxar brasa pra minha sardinha, pois este Correio abriga meus textos, mas a verdade saltou aos olhos: a melhor primeira página da imprensa brasileira sobre os movimentos de protesto, com o título acima, no último dia 18, foi deste jornal a estampar, sobre foto do Congresso Nacional, as sombras dos manifestantes buscando meios de lavar a alma;  cuspindo, escarrando sobre o teto da sede de um dos poderes que representa mal, se é que representa, algum setor da população.
 
Afinal, que respeito se pode ter por Casa legislativa presidida, com apoio do Planalto, por Renan Calheiros, dono de prontuário mais sujo do que pau de galinheiro?...
 
         Muitas são as interpretações possíveis sobre os acontecimentos que começaram em São Paulo.
Os analistas falam sobre violência da polícia, açodamento dos manifestantes, ou da tentativa de uso, por partidos políticos, desta que já é uma das maiores movimentações de descontentamento da história.
Minha opinião é simples; ou, “simples assim”: o povo, ao despertar, berra sonoro “chega de enganações”! Afinal, faz dez anos e picos que o país vive sob o signo da mentira.
O que torna nossos tristes tempos propícios a que se recorde da reflexão de Abraham Lincoln; ele pregou que alguém pode enganar poucos por muito tempo, muitos por pouco tempo, mas não todos por todo tempo...
 
         Sob o signo da balela, da potoca, os poderosos foram semeando, em solo que julgavam árido às insatisfações, o adubo que fatalmente redundaria nos acontecimentos que voltaram a dar luz e vida às ruas do Brasil.
 
         Já no começo, quando iniciou a batalha por desclassificar a herança bendita recebida do governo anterior, Lula e seus asseclas passaram a moldar o barro que, agora, transforma-se nas pedras atiradas sobre os prédios em que se abrigam os chamados poderes públicos.
Na criação daquilo que através de uma campanha publicitaria sem precedentes em nossa História tentaram impingir como o País Maravilha, está toda a base que deveria servir aos analistas para cavar verdades sobre o monturo das enganações.
A presidente, frequentemente, requisita horários na “faixa do horário nobre” das TVs.
Pelas Leis vigentes ela a isso tem direito. Porém apenas para comunicados especiais que abordem temas de interesse público.
 
Ao contrário, entretanto, tais nacos televisivos são usados para a mais deslavada propaganda política que, se engana no primeiro momento, cai no segundo.
Não se pode iludir todos o tempo inteiro, disse o presidente americano. Pois isso cria mais barro para as pedras do descontentamento que um dia ferem nas ruas.
 
         “Simples assim”; são, de fato, simples assim os motivos que animam os manifestantes que tomam praças do Brasil. As casas legislativas, nos três níveis, apodreceram porque a reforma política não foi feita; o Judiciário é um ninho de nepotismo e desperdício, com salários descomunais para seus membros,   reforma também esquecida. Impostos escorchantes?, idem.
De reforma em reforma olvidada, era natural que emergisse o vergonhoso universo de mentiras em que o Brasil navega nos últimos 10, quase 11 anos. Afinal, certa manhã, os que estão nas vias públicas protestando abriram as janelas e viram que, no lugar do Brasil Maravilha apregoado, existe apenas um país em frangalhos.
 
         OK, os aumentos de alguns centavos (já anulado) nas tarifas dos transportes coletivos foram o pretexto.
Entretanto, a verdade é que o grito popular ecoa (escrevo antes da manifestação campineira no largo do Rosário) para cobrar: após esses anos todos de governo petista, não temos uma só estrada federal que preste; um só porto ou aeroporto que sirva às reais necessidades nacionais; um programa governamental de assistência médica que atenda às necessidades dos doentes; sistema educacional que de fato eduque.
Mas temos violência a tomar conta de todas as cidades; inflação de volta; corrupção incontrolável nos escaninhos dos três poderes; etc...
 
Com tudo isso ainda trazem para cá Copa do Mundoe Olimpíada, com gastos de mesa farta em país faminto.
O que esses caras queriam?
Que se aplaudisse quando veio à tona que o ex-presidente us ava o Aerolula como bordel?
Ou que a “transposição” do São Francisco foi só bandalheira?
Ou que os poderosos articulam-se para livrar os mensaleiros da cana?  
O povo cansou!
E, como bem lembrou este jornal de forma brilhante, despertou. Oremos.  
 
25 de junho de 2013
Antonio Contente

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