Não estou a puxar brasa pra minha sardinha, pois este Correio abriga meus textos, mas a verdade saltou aos olhos: a melhor primeira página da imprensa brasileira sobre os movimentos de protesto, com o título acima, no último dia 18, foi deste jornal a estampar, sobre foto do Congresso Nacional, as sombras dos manifestantes buscando meios de lavar a alma; cuspindo, escarrando sobre o teto da sede de um dos poderes que representa mal, se é que representa, algum setor da população.
Afinal, que
respeito se pode ter por Casa legislativa presidida, com apoio do Planalto, por
Renan Calheiros, dono de prontuário mais sujo do que pau de galinheiro?...
Muitas são as interpretações
possíveis sobre os acontecimentos que começaram em São Paulo.
Os analistas falam
sobre violência da polícia, açodamento dos manifestantes, ou da tentativa de
uso, por partidos políticos, desta que já é uma das maiores movimentações de
descontentamento da história.
Minha opinião é simples; ou, “simples assim”: o
povo, ao despertar, berra sonoro “chega de enganações”! Afinal, faz dez
anos e picos que o país
vive sob o signo da mentira.
O que torna nossos tristes tempos propícios a que
se recorde da reflexão de Abraham Lincoln; ele pregou que alguém pode enganar
poucos por muito tempo, muitos por pouco tempo, mas não todos por todo
tempo...
Sob o signo da balela, da
potoca, os poderosos foram semeando, em solo que julgavam árido às
insatisfações, o adubo que fatalmente redundaria nos acontecimentos que voltaram
a dar luz e vida às ruas
do Brasil.
Já no começo, quando iniciou
a batalha por desclassificar a herança bendita recebida do governo anterior,
Lula e seus asseclas
passaram a moldar o barro que, agora, transforma-se nas pedras atiradas sobre os
prédios em que se abrigam os chamados poderes públicos.
Na criação daquilo que
através de uma campanha publicitaria sem precedentes em nossa História tentaram
impingir como o País Maravilha, está toda a base que deveria servir aos
analistas para cavar verdades sobre o monturo das enganações.
A presidente,
frequentemente, requisita horários na “faixa do horário nobre” das TVs.
Pelas
Leis vigentes ela a isso tem direito. Porém apenas para comunicados especiais
que abordem temas de interesse público.
Ao contrário, entretanto, tais nacos
televisivos são usados para a mais deslavada propaganda política que, se engana
no primeiro momento, cai no segundo.
Não se pode iludir todos o tempo inteiro,
disse o presidente americano. Pois isso cria mais barro para as pedras do
descontentamento que um dia ferem nas ruas.
“Simples assim”; são, de
fato, simples assim os motivos que animam os manifestantes que tomam praças do
Brasil. As casas legislativas, nos três níveis, apodreceram porque a reforma
política não foi feita; o Judiciário é um ninho de nepotismo e desperdício, com salários descomunais
para seus membros, reforma também esquecida. Impostos escorchantes?, idem.
De
reforma em reforma olvidada, era natural que emergisse o vergonhoso universo de
mentiras em que o Brasil navega nos últimos 10, quase 11 anos. Afinal, certa
manhã, os que estão nas vias públicas protestando abriram as janelas e viram que, no lugar do
Brasil Maravilha apregoado, existe apenas um país em frangalhos.
OK, os aumentos de alguns
centavos (já anulado) nas tarifas dos transportes coletivos foram o pretexto.
Entretanto, a verdade é que o grito popular ecoa (escrevo antes da manifestação
campineira no largo do Rosário) para cobrar: após esses anos todos de governo
petista, não temos uma só estrada federal que preste; um só porto ou aeroporto
que sirva às reais necessidades nacionais; um programa governamental de
assistência médica que atenda às necessidades dos doentes; sistema educacional
que de fato eduque.
Mas temos violência a tomar conta de todas as cidades;
inflação de volta; corrupção incontrolável nos escaninhos dos três poderes;
etc...
Com tudo isso ainda trazem para cá Copa do Mundoe Olimpíada, com gastos de mesa farta
em país faminto.
O que esses caras queriam?
Que se aplaudisse quando veio à tona
que o ex-presidente us ava o Aerolula como bordel?
Ou que a “transposição” do
São Francisco foi só bandalheira?
Ou que os poderosos articulam-se para livrar
os mensaleiros da cana?
O povo cansou!
E, como bem lembrou este jornal de
forma brilhante, despertou. Oremos.
25 de junho de 2013
Antonio Contente
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