Ao pensarmos sobre o que está acontecendo hoje no Brasil, devemos ter um cuidado extremo para não cairmos em análises simplistas das manifestações e de todas essas movimentações sociais que assistimos diante de nossas janelas, televisores e telas de smartphones. Muitas das coisas que ando lendo colocam, por exemplo, o Facebook como um fator fundamental e protagonista do que estamos presenciando. Eu não parto dessa lógica. Colocar o Facebook como ferramenta principal de tudo isso que é, para mim, um argumento míope, raso e inconsistente.
O próprio uso do termo revolução, que aparece em textos, comentários e opiniões nas mídias e sobretudo nas nossas timelines, deve ser repensado. Será que estamos diante de uma revolução? Acho que não e ainda é muito cedo para concluir isso. Compreender essas interações mediadas pelas tecnologias digitais tem sido para mim uma questão central para a reflexão da sociedade contemporânea na medida em que se evidenciam transformações de ordem social, cultural, política e econômica.
Olhando no retrovisor da história, tivemos sim uma revolução da escrita no Oriente Médio no século V, ou então a revolução da imprensa de Johannes Gutemberg no século XV e até mesmo a tão estudada Revolução Industrial no século retrasado. Revolução significa ruptura. Significa que antes era de uma forma e depois ficou de outra. Na própria Revolução Industrial, coloca-se equivocadamente a máquina como o protagonista do acontecimento. O protagonismo está na apropriação social das pessoas sobre o surgimento da máquina, e não na máquina. É o mesmo que colocar, equivocadamente, o microblog Twitter como protagonista do que vimos acontecer na chamada Primavera Árabe. A queda de governos no Oriente Médio foi causada pelas pessoas e pela apropriação social das pessoas sobre essas redes sociais digitais. Sempre no social.
Vive-se hoje uma nova revolução? Uma revolução, ainda em curso, implementada pelas tecnologias digitais e ocasionando importantes transformações no interior dos distintos aspectos da sociedade? Há quem acredite que sim, que há uma revolução. Eu não partilho dessa opinião. Podemos ver contundentes transformações em todos os campos sociais, econômicos, políticos e culturais.
Diferentemente de outras manifestações similares no Brasil e no mundo, dessa vez, vemos produtos culturais sendo apropriados pelas pessoas (sempre pelas pessoas) como, por exemplo, a música da banda O Rappa (“Vem pra rua”), utilizada em um filme publicitário da montadora FIAT e com o mote da Copa do Mundo, mas que já virou uma espécie de hino desses levantes. Ou então a máscara branca do grupo “Anonymous”, sendo utilizada como símbolo central e mascarando e ocultando rostos de muitas pessoas. Sem falar dos cartazes com frases de protesto e dizeres bem humorados.
Neste texto, eu coloco a minha reflexão sobre o que estamos vendo, e opto pela não-adoção do termo revolução para classificar essas transformações que evidenciamos. Os argumentos de algumas pessoas carregam um tom radicalmente revolucionário, fazendo crer que tudo aquilo que antes era passado, passa a ser agora de forma diferente, antagonizando e contradizendo o que passou. Se não existisse Facebook, estaria acontecendo toda essa mobilização social nas ruas?
Certamente sim. Não é uma página de web, na verdade uma grande mídia originada em um dormitório de Harvard, que deve ser colocada no centro dessas transformações sociais, políticas e econômicas que podem estar por vir. Tudo bem que o Facebook e outras plataformas podem é contribuir de forma interessante no sentido de articular encontros e mobilizar pessoas. Mas os atores principais dessa história toda são e sempre serão as pessoas, o povo, o social.
Oras, nem metade do Brasil possui acesso à Internet e cerca de um terço do país acessa o Facebook, sendo que desses, cerca de 30 milhões acessam o site de Mark Zuckerberg na palma na mão. O fato é que ainda é muito cedo para prever no que resultará toda essa mobilização. O preço das passagens já voltaram ao valor anterior. Mas o que realmente está por vir, eu não me arrisco a prever.
25 de junho de 2013
Marcos Hiller
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