"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O BRASILEIRO VAI SER SEMPRE UM MERDA!

Eu estava com meu carrinho de compras em uma fila no caixa do supermercado Zona Sul, razoavelmente cheio, virei de costas, me afastei um passo e estiquei a mão para pegar um vidro de sal marinho sueco que estava em promoção. Tal “operação” não durou dez segundos, só que, ao voltar, um cidadão estava exatamente em frente ao meu carrinho, preparando-se para tirá-lo do caminho e passar à minha frente e, educadamente, falei: “eu estou aqui”, nada mais que isso. E fui “recebido” pelo cara com um sorrisinho irônico e uma dúzia de palavras em uma língua que me parecia eslava dirigidas às amiguinhas de olhos azuis que o acompanhavam, que também se debulharam em risadinhas. Mas até aí, tudo bem. Embora meu pavio curto estivesse mais curto ainda, deixei pra lá.
 
Passado mais ou menos um minuto, com o cara colado no meu cangote, a fila andou e eu retirei da minha frente um carrinho vazio atrapalhando o caminho, pedindo licença a todos e o deixando ao lado da fila, com todo cuidado para não esbarrar em ninguém. E não é que o gringo, olhando para a minha cara com o mesmo sorrisinho de babaca, pegou o carrinho e quis colocá-lo de volta enquanto dizia coisas ininteligíveis que provocavam mais risadinhas nas suas amigas?
 
Bom, aí vocês podem imaginar a minha reação, muito mais teatral do que verbal: peguei o carrinho e o empurrei com toda a força para um canto enquanto algumas imprecações - nada de palavrões - saíam instintivamente da minha boca. O sujeitinho se deu conta que estava se exibindo para as amiguinhas com o cara errado e foi para outra fila.
 
Mas na minha frente na fila tinha uma perua e, ao terminar a minha sessão pavio curto, virei-me em direção ao caixa e devo ter dito alguma coisa para mim mesmo em voz alta como “e depois falam dos brasileiros...”, o que foi o bastante para a perua dizer “mas ele foi muito educado”.
 
Pra quê!
 
“Minha cara, por acaso a senhora fala esse diabo de língua?”, perguntei.
 
“Não, mas costumo viajar muito para o exterior e...”
 
Aí eu interrompi:
 
“E, o quê? Na terra deles eles fazem esse tipo de coisa? Viajado eu também sou, mas nunca vi disso!”
A perua se calou e tratou de pagar os dois pãezinhos franceses e a Coca-Cola pequena, que eram as suas compras, e se mandou.
Maldosamente, pensei comigo mesmo como é que uma pessoa que janta pão seco com Coca pode ter a cara de pau de dizer que viaja muito para o exterior...
 
Independentemente das minhas “furibundices” nada corretas, o episódio serve para mostrar o nosso complexo de vira-latas, ou seja, o gringo, mesmo errado, é mais educado que nós.
 
Aonde foi parar o amor próprio e o orgulho de ser brasileiro dessa gente?
 
02 de agosto de 2013
Ricardo Froes

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