Ex-presidente do BC minimiza os efeitos do exterior para o crescimento fraco e a inflação alta
O fraco crescimento econômico e a alta inflação que alimentam o pessimismo sobre o Brasil são mais autoinduzidos do que o resultado de influências exteriores, pois o governo não conseguiu cortar gastos e reduzir as políticas econômicas intervencionistas, segundo afirma o ex-presidente do banco central Armínio Fraga.
Mesmo assim, Fraga afirma que a possível redução nas ações de estímulo do Federal Reserve pode gerar dificuldades para os mercados de bônus que se beneficiaram da liquidez abundante nos últimos anos. Por outro lado, ele aponta que a dependência do Brasil das exportações para a China é menor do que muitos analistas acreditam, em função da economia fechada do País.
O ex-presidente do Banco Central afirma ainda que as administrações de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff são mais "estatais", com o aumento do papel dos bancos públicos e a menor preocupação com a eficiência das empresas, o que deixou o Brasil com uma infraestrutura inadequada. "Esse modelo não tem sido capaz de entregar o ritmo esperado de crescimento", afirma Fraga, que comandou a autoridade monetária durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Ele também critica os subsídios para a gasolina, que "asfixiam" a Petrobrás.
Fraga diz que está mais preocupado com dois dos três pilares econômicos que são parte do legado da administração de FHC: a contenção dos gastos públicos e o sistema de metas de inflação. Com o terceiro pilar, o câmbio flutuante, ele não está tão temeroso. "O governo tem tentado domar a inflação com controles de preços, uma receita bem conhecida por estar fadada a fracassar".
Ele acredita que o banco central ainda precisará elevar mais os juros no curto prazo para combater as pressões inflacionárias, mas, no longo prazo, com um pouco mais de disciplina fiscal, a tendência é que os juros caiam.
Em relação ao câmbio, Fraga discorda daqueles que dizem que o Brasil abandonou o regime de câmbio flutuante, em função das frequentes intervenções do banco central no mercado para conter a volatilidade do real ante o dólar. "O banco central tem dito que não tem uma meta para o câmbio, apesar de o mercado entender que existe uma meta. Na prática, está claro que o banco central não tem feito um enorme esforço para atingir um valor particular para o câmbio. Eu só posso especular que eles estejam preocupados com a volatilidade (quando promovem intervenções). Não é um sinal de desespero", afirma.
O ex-banqueiro central também comentou que apoia os recentes protestos populares no Brasil contra o alto custo de vida e por melhores serviços públicos. Para ele, os manifestantes têm razões para estarem insatisfeitos: "os impostos são muito altos e o povo tem todo o direito de reclamar sobre a educação, saúde e transporte".
No lado positivo, Fraga diz que o governo tem promovido algumas mudanças recentemente, como a retomada das concessões de aeroportos e para exploração de petróleo, além da legislação para incentivar novos investimentos em portos. "É muito cedo para jogar a toalha e dizer que o Brasil tem problemas que não podem ser resolvidos", garante. Fonte: Dow Jones Newswires.
02 de agosto de 2013
Álvaro Campos, da Agência Estado
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