Em momento delicado para as relações com os parceiros do Mercosul, assume no Paraguai, no próximo dia 15, um novo presidente: Horácio Cartes.
O relacionamento com o Paraguai é exemplo de desacertos na área externa e mostra como a ideologização pode ser contrária ao interesse nacional. É longa a sequência de equívocos.
O aumento na sobretaxa paga ao Paraguai pela energia de Itaipu, com custo de bilhões de dólares para a sociedade brasileira. Perseguição impiedosa aos brasiguaios, apesar de a imensa maioria daquela comunidade ter nascido no Paraguai e possuir cidadania guarani, sem maior reação de Brasília.
Quando o Congresso paraguaio, por imensa maioria e de acordo com as regras definidas em sua Constituição, destituiu Lugo por “mau desempenho de suas funções”, a decisão foi referendada pela Corte Suprema e pelo próprio ex-presidente.
O Brasil e seus vizinhos do Mercosul, no entanto, alegando violação da cláusula democrática, resolveram que nem as instituições, nem o povo paraguaio — que em sua maioria apoiou a decisão — sabiam o que era legítimo ou sequer melhor para eles, suspenderam o país do bloco e retiraram seus embaixadores do Paraguai.
O vazio político-diplomático deixado por esse episódio não causou um mal maior porque o setor privado brasileiro e paraguaio se articulou e avançou uma agenda de interesse reciproco. A Fiesp promoveu em São Paulo seminário sobre oportunidades de negócios e planeja encontros entre empresas dos dois países, um grande seminário e uma semana do Paraguai, depois da posse do novo presidente.
Nos últimos anos, o Brasil definiu uma série de parcerias estratégicas com outros países. Poucas, no entanto, podem ser mais relevantes do que a com o Paraguai: 350 mil brasileiros lá vivem e trabalham; 20% de toda energia consumida na região mais industrializada de nosso pais dependem da potência gerada por Itaipu, inclusive a não consumida pelo Paraguai.
Não resisto em fazer referência à opinião do então ministro do exterior, Barão do Rio Branco, sobre as relações Brasil-Paraguai. De forma lapidar, definiu qual deveria ser o tom das relações bilaterais, em 1903, em um contexto que ainda tinha bem presentes os acontecimentos militares e as disputas na Bacia do Prata:
“O Brasil é e será sempre amigo do Paraguai quaisquer que sejam seus governantes.” É importante resgatar essa percepção, no momento que altos funcionários do governo de Assunção recordam a formação da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) contra o Paraguai no conflito do século XIX, repetida, por coincidência, agora na questionável punição ao Paraguai pelo Mercosul.
Cem anos depois, o ensinamento foi esquecido em nome de afinidades ideológicas e de uma agenda que não favorece o Brasil. O relacionamento com os países da América do Sul será o maior problema que o Itamaraty deverá enfrentar nos próximos anos.
13 de agosto de 2013
Rubens Barbosa, O Globo
O relacionamento com o Paraguai é exemplo de desacertos na área externa e mostra como a ideologização pode ser contrária ao interesse nacional. É longa a sequência de equívocos.
O aumento na sobretaxa paga ao Paraguai pela energia de Itaipu, com custo de bilhões de dólares para a sociedade brasileira. Perseguição impiedosa aos brasiguaios, apesar de a imensa maioria daquela comunidade ter nascido no Paraguai e possuir cidadania guarani, sem maior reação de Brasília.
Quando o Congresso paraguaio, por imensa maioria e de acordo com as regras definidas em sua Constituição, destituiu Lugo por “mau desempenho de suas funções”, a decisão foi referendada pela Corte Suprema e pelo próprio ex-presidente.
O Brasil e seus vizinhos do Mercosul, no entanto, alegando violação da cláusula democrática, resolveram que nem as instituições, nem o povo paraguaio — que em sua maioria apoiou a decisão — sabiam o que era legítimo ou sequer melhor para eles, suspenderam o país do bloco e retiraram seus embaixadores do Paraguai.
O vazio político-diplomático deixado por esse episódio não causou um mal maior porque o setor privado brasileiro e paraguaio se articulou e avançou uma agenda de interesse reciproco. A Fiesp promoveu em São Paulo seminário sobre oportunidades de negócios e planeja encontros entre empresas dos dois países, um grande seminário e uma semana do Paraguai, depois da posse do novo presidente.
Nos últimos anos, o Brasil definiu uma série de parcerias estratégicas com outros países. Poucas, no entanto, podem ser mais relevantes do que a com o Paraguai: 350 mil brasileiros lá vivem e trabalham; 20% de toda energia consumida na região mais industrializada de nosso pais dependem da potência gerada por Itaipu, inclusive a não consumida pelo Paraguai.
Não resisto em fazer referência à opinião do então ministro do exterior, Barão do Rio Branco, sobre as relações Brasil-Paraguai. De forma lapidar, definiu qual deveria ser o tom das relações bilaterais, em 1903, em um contexto que ainda tinha bem presentes os acontecimentos militares e as disputas na Bacia do Prata:
“O Brasil é e será sempre amigo do Paraguai quaisquer que sejam seus governantes.” É importante resgatar essa percepção, no momento que altos funcionários do governo de Assunção recordam a formação da Tríplice Aliança (Argentina, Brasil e Uruguai) contra o Paraguai no conflito do século XIX, repetida, por coincidência, agora na questionável punição ao Paraguai pelo Mercosul.
Cem anos depois, o ensinamento foi esquecido em nome de afinidades ideológicas e de uma agenda que não favorece o Brasil. O relacionamento com os países da América do Sul será o maior problema que o Itamaraty deverá enfrentar nos próximos anos.
13 de agosto de 2013
Rubens Barbosa, O Globo
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