Resultado das primárias dá a entender que é quase impossível que a presidente possa obter a re-reeleição
A hipótese de re-reeleição de Cristina Kirchner parece ter sido sepultada pelos resultados das primárias realizadas domingo.
É verdade que a FpV (Frente para a Vitória, a coligação inventada pelo kirchnerismo) obteve a maioria relativa dos votos, mas, mesmo que a vitória se repita na eleição para valer, em outubro, não será o suficiente para alcançar os 2/3 em cada Casa do Congresso necessários para reformar a Constituição de forma a autorizar uma segunda reeleição.
É sintomático que, na retórica usualmente triunfalista do kirchnerismo, um de seus expoentes, o intelectual Ricardo Forster, tenha jogado "para depois de 2015" o debate sobre a reforma da Constituição.
É o ano em que termina o mandato de Cristina. Para obter um novo período, ela precisaria de uma vitória esmagadora nas eleições de outubro, que renovam metade da Câmara e um terço do Senado.
As primárias realizadas no domingo eram tidas como uma grande pesquisa de opinião pública para a votação de outubro.
Se foi assim, Cristina perdeu, mesmo nas contas de um colunista do "Página 12", o jornal que a apoia incondicionalmente: "O governo obteve menos votos do que os calculados, na maioria dos distritos e no total geral", escreveu Mario Wainfeld.
Acrescentou: "O resultado conseguido pela Frente para a Vitória e seus aliados de ferro esteve abaixo de 30%, que é um piso baixo para a sua história e suas pretensões".
Se é esse o ânimo entre os simpáticos à presidente, é natural que no polo contrário haja euforia. O jornal "Clarín", a principal oposição ao governo, brada: "O kirchnerismo sofreu ontem a pior derrota eleitoral na década que está no poder, e que, a dois anos do fim do segundo mandato de Cristina Kirchner, parece antecipar o final de um ciclo político".
De fato, é razoável supor que se trata do início do fim do ciclo mais longo de um único sobrenome na Presidência da Argentina.
Os Kirchner completarão 12 anos no poder, os quatro primeiros (2003/07) com Néstor, os oito seguintes com Cristina.
Nem o general Juan Domingo Perón, o patrono do casal, chegou a tanto. Em seus três períodos, totalizou dez anos de governo, tantos quanto Carlos Menem, que governou de 1989 a 1999.
É óbvio que, em democracia, só se consegue durar tanto no poder mostrando serviço, o que os Kirchner fizeram: içaram a Argentina da mais grave crise econômico-social de sua história.
Se, agora, o ciclo chega ao fim, é porque Cristina brigou com gente demais simultaneamente, dos ruralistas a seu vice no primeiro mandato, do "Clarín" ao líder sindical Hugo Moyano.
Essa percepção esteve muito presente na avaliação do grande vencedor das primárias, Sergio Massa (com quem, aliás, Cristina também se desentendeu, depois de tê-lo içado a chefe de gabinete): "Os que nos acompanharam [nas primárias] disseram basta' ao confronto na Argentina".
Só a eleição legislativa de outubro começará a dizer se Massa será de fato a cara de um eventual novo ciclo.
13 de agosto de 2013
Folha de São Paulo
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