"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 5 de maio de 2012

OS ASKAR ENCONTRAM O PARAÍSO NO CANADÁ


Fala-se muito na crise que se abate sobre a Espanha, e já existem espanhóis buscando trabalho no Brasil. Pode ser. Mas vasto é o mundo e ainda há muitos famintos buscando comida, ou mesmo saúde, na Espanha. Há dois ou três dias, li reportagem no El País sobre magrebinos ilegais que pediam socorro ao Estado espanhol. Um deles, aidético oriundo da Argélia, queixava-se de que iria morrer se não recebesse cuidados médicos. Outro, um marroquino cardíaco, alegava o mesmo. Ambos eram ilegais e temiam por suas vidas.

Ocorre que o governo de Mariano Rajoy decidiu, em setembro passado, não mais conceder cartão de saúde aos imigrantes em situação irregular no prazo de dois anos. Segundo o mesmo jornal, isto representaria uma economia aproximada de 240 milhões de euros, em vez dos 500 milhões previstos inicialmente pelo Executivo, se for tomado como base o gasto médio de um cidadão espanhol em serviços de saúde.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, a residência não será a única condição para ter acesso ao cartão que dá direito às consultas básicas. Será preciso estar assegurado. Isto de modo geral implica inscrever-se na Previdência Social. Como os estrangeiros têm de renovar essa documentação a cada dois anos, bastará endurecer os requisitos para deixá-los fora, sem necessidade de tomar outro tipo de medidas mais drásticas, como identificá-los antes de anular seu cartão. Os imigrantes ilegais, hoje, só têm direito aos serviços de urgência e de parto. O objetivo é cortar custos, garantindo a sustentabilidade financeira do Sistema Nacional de Saúde.

Ver pessoas morrendo e nada fazer para salvá-las pode parecer cruel insensibilidade. Mas salvá-los pode ser desastroso. Para um magrebino, que não tem assistência médica em seus países, a solução seria simples. Bastaria chegar, ainda que ilegalmente, e entregar-se aos cuidados do Estado. Cuidados estes que, segundo o El País, já começam a ser negados aos próprios espanhóis. Se a Espanha garante hospital e assistência médica a imigrantes ilegais, uma multidão de aidéticos ou cardíacos africanos, ou demais doentes graves, tentará atravessar o Mediterrâneo até mesmo a nado.

A universalidade dos serviços de saúde na Espanha era um caso único na Europa. Alguns países, como o Reino Unido, a Eslovênia, o Chipre e a Polônia só reconhecem o direito dos imigrantes ilegais em situação de urgência. A Grécia chega a proibir o acesso de imigrantes irregulares à assistência médica, sob pena de prisão para os funcionários que os atenderem. França, Bélgica e Holanda ainda dão acesso aos serviços de saúde aos imigrantes mediante certas condições, como ser maior de idade, prova de residência por três meses e prova de carência econômica, conforme o país em que o migrante está.

Mateus, primeiro os teus – parece ter dito a Espanha com seus botões. Para Pérez Rubalcaba, líder da oposição, negar assistência médica gratuita a imigrantes irregulares é “um exercício de insensibilidade social. Estão a dar palco a uma sinistra idéia que corre por aí de que os imigrantes usam e abusam do sistema de saúde e isso é falso e além disso xenófobo”.

Ora, que os imigrantes usam e abusam do sistema de saúde é eufemismo. Em verdade, usam e abusam de toda a previdência social, como também da generosidade e ingenuidade dos europeus. Na Alemanha, por exemplo, as assistentes sociais “mostraram aos turcos como manipular a rede de seguro social, ou seja, como tirar o máximo de ajuda financeira e de outros tipos do Estado e das autoridades locais, dando um mínimo de contribuição ao bem comum”, conta o historiador alemão Walter Laqueur, em seu livro Os Últimos Dias da Europa.

Boa parte dos atuais imigrantes viaja com uma mentira na mochila. Se pretendem refugiados políticos, quando na verdade são refugiados econômicos. No período do pós-guerra, eram chamados para trabalhar. Com a morte dos europeus em combate, eram bem-vindos como mão de obra. Hoje a situação mudou. Vêm sem ser convidados e vários países do continente já pensam em como conter a imigração. Se antes o imigrante chegava perguntando por seus deveres, hoje mal chega quer saber quais são seus direitos. Quando os europeus começam a proteger-se, as esquerdas empunham a acusação de xenofobia. Toda e qualquer tentativa de proteção da economia nacional é tachada como racismo.

Nos dias em que vivi em Paris, a França era um paraíso para os muçulmanos. Não que encontrassem as 72 virgens de olhos grandes prometidas pelo profeta (paz e bênçãos sobre ele, paz sobre Jesus, Moisés e todos os outros Profetas). Ocorre que virgem é mercadoria escassa no continente. Mas, em nome do tal de reagrupamento familiar, podiam trazer suas quatro mulheres e seus quinze ou vinte filhos, que a Previdência bancava. Quanto a Monsieur Dupont, mal conseguia sustentar mulher, amante e cachorro. Depois ainda há quem não entenda porque os franceses não viam com bons olhos os árabes.

Em meio a isso, uma amiga da Finlândia – que está até aqui com os somalis que tomaram o país de assalto – me envia esta notícia espantosa, de julho do ano passado:
Um canadense nascido na Somália, que trouxe 94 membros de sua família para o Canadá na última década recebeu mais seis familiares em Winnipeg, no início desta semana.
"Nós somos uma família de sorte em Manitoba, ou diria em todo o Canadá", disse Marcus Askar à CBC News, quando ele cumprimentou os seis mais recentes membros de sua família que chegavam do país assolado pela fome, no Corno de África. Askar chegou no Canadá há quinze anos.
Alguns dos recém-chegados estão se reunindo aos membros da família pela primeira vez, enquanto outros não se viam há anos. Com a fuga de um país que sofre vinte anos de guerra civil e de fome, as crianças Askar terão a chance de ir à escola, o que significa muito para uma família em dificuldades.
"O futuro delas é brilhante agora” – disse Aputi, um dos parentes de Askar.
Louvados sejam os canadenses que podem ser assim generosos. Consta que os judeus se enganaram quando foram para Canaã. Como se sabe, Moisés era fanho. Queria dizer Canadá. Askar não trouxe a família, mas a tribo, o que no fundo deve dar no mesmo. Mas a Europa já não está conseguindo sustentar os seus. Que mais não seja, nenhum continente está obrigado a sustentar outro.

A Espanha está sendo realista e mais dia menos dia os demais países europeus terão de seguir os mesmos rumos.


05 de maio de 2012
janer cristaldo

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