Nos supermercados, preços variam
até 38%
Conveniência e falta
de tempo são algumas das razões que nos levam às compras nos supermercados sem
fazer a devida pesquisa de preços. Dois reais a mais num produto, R$ 3 em outro
e, ao fim das contas, o carioca, por exemplo, pode estar jogando pela janela
quase R$ 1.300 por ano.
Para os paulistanos,
o desperdício chega à casa dos R$ 1.700. Esta foi a diferença encontrada entre
uma cesta de produto, com 104 itens, de marcas líderes de mercado, pelo Guia de
preços de supermercados, feita pelo oitavo ano consecutivo, pela Proteste
Associação de Consumidores.
Esse valor significa
uma diferença de 38% entre a cesta mais barata e a mais cara. Em São Paulo, esse
percentual chegou a 54%. E muitas vezes o consumidor sequer precisaria rodar
muito para encontrar diferenças significativas; há casos em que trocar de
calçada pode significar uma economia de 11%, no Rio, e de até 18% em Belo
Horizonte diz Michelle Marques, técnica da Proteste responsável pela
pesquisa.
Gasta-se mais para não
perder tempo
O levantamento da
associação foi feito em 1.196 pontos de venda, entre hipermercados,
supermercados, hard discount, lojas de conveniência e mercados virtuais,
distribuídos em 20 cidades de 14 estados brasileiros :
Bahia,
Ceará,
Marahão,
Paraíba,
Pernambuco,
Rio Grande do
Norte,
Goiás,
Espírito
Santos,
Minas
Gerais,
Rio de
Janeiro,
São
Paulo,
Paraná,
Rio Grande do
Sul
e Santa
Catarina,
que respondem por 90%
do faturamento de supermercados de todo o país, segundo dados da Associação
Brasileira de Supermercados (Abras).
São pesquisados
preços de duas cestas de produtos. A cesta 1 tem 104 itens de marcas, já a 2 tem
90 produtos, sendo que os valores apurados são os mais baratos disponíveis no
local de venda. No primeiro grupo de produtos, o Rio registrou alta de preços de
8%, em relação ao levantamento feito em 2011.
Já na de produtos
sem marcas, o Rio teve a maior deflação entre todos os estados, 4%. Para Karine
Karam, professora de Pesquisa de Preços, da ESPM-Rio, a queda está relacionada à
concorrência:
Os produtos de
segunda marca formam um mercado bastante competitivo. Como a marca não é líder,
é quase uma obrigação baixar preços para conseguir do consumidor, pelo menos, a
experimentação.
Carla Barros,
professora de Antropologia do Consumo, da Universidade Federal Fluminense (UFF),
lembra ainda que, para uma parte da classe C que está experimentando pela
primeira vez alguns produtos, a marca ainda não é tão relevante, mas
ressalva:
Para a maioria das
pessoas, no entanto, a marca é muito importante, tanto como status, para mostrar
para os vizinhos, como também pelo fato de haver uma percepção, nem sempre
correta, de que o mais caro é de melhor qualidade e para quem tem um orçamento
apertado é melhor comprar uma vez, sem correr riscos de dar errado.
Na avaliação de
Karine, uma mudança coletiva dos cidadãos, ou seja, a adoção de pesquisas de
preços, poderia levar o setor a baixar valores :
No entanto, isso é
muito difícil. As classes C e D são mais suscetíveis em relação a preço, fazem
compras na quarta-feira, por exemplo, porque é dia da promoção da carne, têm um
consumo mais consciente. Seria errado dizer que as classes A e B não são
sensíveis a preço, mas há uma força maior dos aspectos costume e
conveniência.
Eu sei que lá é mais
barato, mas estou aqui do lado da minha casa. A conta leva o tempo muito mais em
consideração diz a professora, lembrando ainda um antigo ditado. Antigamente,
dizia-se que as pessoas gastavam tempo para não gastar dinheiro; hoje é
justamente ao contrário, e todas as pesquisas apontam para o fato de a
conveniência ser um aspecto cada dia mais valorizado.
Compra com hora
marcada
E a conveniência
pode custar muito caro, principalmente, quando se fala em compras de mercados
pela internet, ressalta Michelle:
No Rio de Janeiro,
registramos caso de 22% de diferença numa mesma rede, da compra no local para a
compra virtual. E, de modo geral, fazer compras de supermercado pela internet
ainda não é vantajoso.
Para quem não está
disposto a pesquisar, mas quer economizar, a técnica da Proteste dá algumas
orientações:
Sempre vá às compras
com lista, estabeleça um tempo para ficar no mercado, pois com mais tempo livre
mais se compra.
O Globo
O Globo
21 de outubro de 2012
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