No último fim de semana o PT realizou mais um de seus muitos encontros para discutir as mesmas questões e chegar à conclusão de sempre: é vítima de perseguição injusta e implacável por parte da “direita” interessada em desestabilizar o governo e interromper o projeto do partido para o Brasil.
Não se sabe ao certo o teor das discussões, porque o PT desde que assumiu a Presidência da República deixou de fazer reuniões abertas em que dirigentes e militantes costumavam dar raro exemplo de vigor partidário. Junto com o discurso em prol da ética na política, era um diferencial e tanto.
Já o primeiro após a vitória de 2002 foi realizado em São Paulo, a portas fechadas. Portanto, deles agora só se tem notícia por meio das versões e da nota oficial.
Destas transpirou a velha cantilena conspiratória, para a qual a única saída seria o tal do controle social da mídia “monopolista”.
Acrescenta, a propósito do julgamento do mensalão, outra providência: uma reforma que “pegue” também o “Judiciário conservador”, sem a qual não será possível “fazer o Brasil avançar”, nas palavras do presidente do PT, Rui Falcão.
O Legislativo passa incólume das críticas do PT, ainda que seja a instituição que hoje gera mais desconforto na sociedade e a que dá mais motivos para ser criticada.
Não pelo partido no poder, cuja concepção de estabilidade política não tem a ver com equilíbrio institucional. Ao contrário, a referência é o grau de domínio que o partido exerce sobre esse ou aquele setor.
Por essa ótica, anda tudo certo no Parlamento, uma vez que é subserviente ao Executivo aparelhado pelo partido. Em suma, a democracia vai bem se tudo vai bem para o PT. O que agrada é democrático e o que desagrada é golpe articulado pela “direita”.
Pouco importa o fato de que parte dos setores tradicionalmente assim identificados tenha se aliado ao governo Lula desde o início, parte tenha aderido gradativamente e os restantes estejam totalmente desarticulados.
“Direita” virou conceito de plantão para definir toda e qualquer opinião divergente. Quem não rende homenagens incondicionais ao PT é de “direita”. O Judiciário visto da perspectiva das condenações no Supremo Tribunal Federal tornou-se “conservador”.
Resultado de escolhas equivocadas de Lula e Dilma Rousseff que não souberam construir um perfil “progressista” para a Corte? Não, inclusive porque nenhuma das indicações foi criticada. Ao contrário, quase todas ─ com destaque para Joaquim Barbosa ─ bastante celebradas. Qual o problema, então? A independência dos magistrados, que decepcionou o PT.
Ao constatar que não tinha ali ─ como não tem na imprensa ─ o domínio pretendido, o partido se faz de vítima. Fala da “mídia monopolista”, mas persegue o monopólio. Da opinião.
Todas aquelas figuras do Parlamento que antigamente o PT diria serem de “direita” e hoje andam de braços dados com o partido não são objetos de reparo. Não porque tenham mudado seu modo da ação ou pensamento, mas porque concordam (ou simulam concordância) e a vassalagem é o que define na novilíngua o progressista.
A verdade do que está à vista de todos é a primeira vítima. Assim na guerra como na tradução autoritária dos fatos.
12 de dezembro de 2012
DORA KRAMER, ESTADÃO
Não se sabe ao certo o teor das discussões, porque o PT desde que assumiu a Presidência da República deixou de fazer reuniões abertas em que dirigentes e militantes costumavam dar raro exemplo de vigor partidário. Junto com o discurso em prol da ética na política, era um diferencial e tanto.
Já o primeiro após a vitória de 2002 foi realizado em São Paulo, a portas fechadas. Portanto, deles agora só se tem notícia por meio das versões e da nota oficial.
Destas transpirou a velha cantilena conspiratória, para a qual a única saída seria o tal do controle social da mídia “monopolista”.
Acrescenta, a propósito do julgamento do mensalão, outra providência: uma reforma que “pegue” também o “Judiciário conservador”, sem a qual não será possível “fazer o Brasil avançar”, nas palavras do presidente do PT, Rui Falcão.
O Legislativo passa incólume das críticas do PT, ainda que seja a instituição que hoje gera mais desconforto na sociedade e a que dá mais motivos para ser criticada.
Não pelo partido no poder, cuja concepção de estabilidade política não tem a ver com equilíbrio institucional. Ao contrário, a referência é o grau de domínio que o partido exerce sobre esse ou aquele setor.
Por essa ótica, anda tudo certo no Parlamento, uma vez que é subserviente ao Executivo aparelhado pelo partido. Em suma, a democracia vai bem se tudo vai bem para o PT. O que agrada é democrático e o que desagrada é golpe articulado pela “direita”.
Pouco importa o fato de que parte dos setores tradicionalmente assim identificados tenha se aliado ao governo Lula desde o início, parte tenha aderido gradativamente e os restantes estejam totalmente desarticulados.
“Direita” virou conceito de plantão para definir toda e qualquer opinião divergente. Quem não rende homenagens incondicionais ao PT é de “direita”. O Judiciário visto da perspectiva das condenações no Supremo Tribunal Federal tornou-se “conservador”.
Resultado de escolhas equivocadas de Lula e Dilma Rousseff que não souberam construir um perfil “progressista” para a Corte? Não, inclusive porque nenhuma das indicações foi criticada. Ao contrário, quase todas ─ com destaque para Joaquim Barbosa ─ bastante celebradas. Qual o problema, então? A independência dos magistrados, que decepcionou o PT.
Ao constatar que não tinha ali ─ como não tem na imprensa ─ o domínio pretendido, o partido se faz de vítima. Fala da “mídia monopolista”, mas persegue o monopólio. Da opinião.
Todas aquelas figuras do Parlamento que antigamente o PT diria serem de “direita” e hoje andam de braços dados com o partido não são objetos de reparo. Não porque tenham mudado seu modo da ação ou pensamento, mas porque concordam (ou simulam concordância) e a vassalagem é o que define na novilíngua o progressista.
A verdade do que está à vista de todos é a primeira vítima. Assim na guerra como na tradução autoritária dos fatos.
12 de dezembro de 2012
DORA KRAMER, ESTADÃO
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