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Em uma época em que tudo vai sendo pintado de vermelho: os livros e uniformes escolares, as ruas, as paradas de ônibus, e até o logotipo da copa, justamente o que era inocentemente vermelho passa a ser azul. Só eu que notei?
Nesta época natalina de 2012, tenho percebido um movimento estético inovador no tocante às decorações natalinas: a substituição do tradicionalíssimo vermelho e verde pelo branco e azul.
Verdade seja dita, desde o ano passado esta moda vem sendo implementada, sendo que aqui em Belém foi inaugurada com a introdução das lâmpadas de LED azuis na decoração das ruas e praças.
Curioso este fenômeno: em uma época em que tudo vai sendo pintado de vermelho: os livros e uniformes escolares, as ruas, as paradas de ônibus, e até o logotipo da copa, justamente o que era inocentemente vermelho passa a ser azul. Só eu que notei?
Coisa de reacionário empedernido? Petrificado, mesmo, fiquei na noite anterior, ao ter comparecido a um famoso restaurante desta cidade, onde haveria de assistir a um "show de Natal", mas que no entanto, testemunhei alguma coisa como os "Filhos de Gandhi", vestidos em turbantes e cantando em uma língua desconhecida (teria sido aramaico, a língua natal de Jesus Cristo? hummm...) o que à primeira vista seria uma versão do Pai Nosso Cristão (segundo a tradução, apresentada em um telão), mas que também daria ensejo a entender que se tratava de uma adaptação New Age, com aquela atmosfera plúmbea cheirando um misto de ONU, Rede Globo, Instituto Cultural Steve Biko, Lula-Dilma, Secretaria Especial da Igualdade Racial, Betinho, Kwanzaa, MST, Santo Daime, Forum Social Mundial, Greenpeace, Mensalão e tudo o mais do gênero.
No meio dos dançarinos, destacava-se um sujeito barbudo, também de turbante, trajado numa indumentária que faria lembrar um aiatolá, e portando nas mãos uma caixinha luminosa que sob o meu entender deveria simbolizar....o quê mesmo? Sei lá...
Ah, e a decoração natalina do estabelecimento? Azul, claro, assim como numa roupa impecavelmente branca com detalhes também azuis apareceu o Papai Noel, que se punha imediatamente a beber uma Coca-Cola sempre quando ao posar com os presentes para as fotos; eu já ia me pondo a perguntar se ele era mesmo o bom velhinho vindo da Finlândia no seu trenó ou um notável pai de santo, mas fui contido ao imaginar a reação dos presentes, afinal, a confraternização não era propriamente para mim.
Azul, ou melhor, "blue", em inglês, designa não somente a cor em si, mas também o estado de desânimo, tristeza ou depressão numa pessoa - claramente uma referência ao frio e aridez da alma. Pois deu pra perceber inequivocamente a estranheza dos espíritos mais puros do lugar - as crianças, cujos semblantes denunciavam-nas como completamente sem lugar em meio àquelas inovações que sugeriam absolutamente nada que fosse com a ternura das brincadeiras de natal, com o aconchego das cores tradicionais e com o júbilo pelo nascimento do Nosso Senhor.
Há quem reclame das festas e costumes que se produzem anualmente, pois, dizem, tornam-se enfadonhamente lugares-comuns. Pois vejo o contrário: parece-me, dia após dia, que as tradições andam se revestindo de caráter mais novidadeiro do que a roda vida das descaracterizações de tudo o que nos tem sido de valioso significado.
12 de dezembro de 2012
Klauber Cristofen Pires
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