"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A PRESIDÊNCIA DA AVENIDA PAULISTA

PauloBrossard480_DidaSampaioAE2007_10_05


Meu propósito era escrever sobre problemas internos e externos que ensombram os horizontes próximos do governo da senhora presidente, mas outro tema, também a ela pertinente, me parece de maior atualidade.

Os fatos são de ontem e estão vivos na lembrança de todos. O mensalão aproximava-se de seu termo; seus efeitos eram devastadores, quando outro caso, temperado com nitroglicerina, entrou em ebulição, tendo como sede nada mais, nada menos que o escritório paulista da chefe do governo, e desde a administração anterior gerenciado pela mesma pessoa.

A excepcional gravidade dos fatos apurados pela Polícia Federal e as pessoas envolvidas causaram imensa repercussão. Basta dizer que a senhora presidente não hesitou em demitir, afastar, investigar a partir da chefe do gabinete instalado na Avenida Paulista, sem falar na prisão de 18 pessoas, salvo engano.

Esses fatos, era inevitável, ganharam as ruas e as manchetes nos meios de comunicação. O choque foi de tal monta que todo o mundo passou a reclamar explicações oficiais, e o governo não tardou em escolher o ilustre ministro da Justiça para, em Comissão da Câmara dos Deputados, dar a versão oficial dos acontecimentos. E aqui chegamos ao ponto nodal do caso.

Os jornais informaram que a exposição foi extensa, de muitas horas, mas houve quem atalhasse dizendo que o ministro pecou pela prolixidade. Não tenho como opinar a respeito.

Enfim, o ilustre ministro da Justiça compareceu a uma comissão da Câmara dos Deputados e durante horas falou sobre o escândalo que levara a senhora presidente a afastar ou demitir a então chefe do Gabinete da Presidência em São Paulo e outros, inclusive escolhidos e patrocinados por essa última.

E, embora o porta-voz do governo afirme que “a quadrilha não se instalou na Presidência”, não esclarece onde ela teria se instalado. A certa altura, surpreende dizendo “não é o resultado da investigação. O que tenho são servidores de um patamar secundário, enquadrados em conduta criminosa”. O que era assunto de alta relevância passa a incógnitos “servidores de um patamar secundário”. Uma explicação destas não fica bem seja ao governo, seja a seu ministro, notadamente quando prestada à Nação.

Não se sabe por que, emerge esta confidência: ‘Lula é íntimo de Rosemary’
Mais estranho ainda é o tecido em relação à ex-chefe de gabinete Rosemary Noronha, ou Rose. Dela se diz é que o que se sabe, segundo Cardozo, é que Rose “tinha contatos ilegais, relações indevidas… mas não participava do núcleo central da quadrilha…

O que ela fazia era, usando sua condição de chefe do escritório, facilitar contatos de membros da quadrilha em troca de favores”. Céus! Aqui Del Rey! Por isto, fica-se a saber, ela foi indiciada por corrupção, falsidade ideológica e tráfico de influência! Mas não havia por que quebrar seu sigilo… porque, disse o ministro, “a Polícia Federal evita grampear pessoas não diretamente relacionadas ao fato investigado”!!!

Por fim, não se sabe por que, emerge esta confidência: “Lula é íntimo de Rosemary”. Mas em que vem ao caso essa suposta intimidade? O ministro não disse.

Muita coisa teria a aditar à exposição ministerial, mas, o leitor há de convir, não disponho como ele de longas horas para expor, nem de páginas de jornal para resumi-las.

12 de dezembro de 2012
Paulo Brossard
Fonte: Zero Hora, 10/12/2012

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